Preguiça
Como fiz, há algum tempo, com as virtudes cardeais, desenvolverei uma série de artigos abordando os sete pecados capitais, tendo como pano de fundo a filosofia de Aristóteles e São Tomás de Aquino. Embora a palavra “pecado” evoque uma crença religiosa, os malefícios dos comportamentos tipificados nesses vícios são perfeitamente identificáveis na vida presente.
Comecemos pela preguiça. Enquanto as demais espécies animais já são basicamente determinadas pela natureza, a espécie humana é essencialmente “aberta”. Para que a pessoa se coloque na rota do seu desenvolvimento, é necessária uma espécie de atividade, de trabalho, que faça o indivíduo romper o comodismo e crescer.
A preguiça é a tendência contrária a esse crescimento. Parece que há algo encalacrado em nosso corpo e em nossa mente, que tenta nos impedir de agir, especialmente se a ação é custosa e não traz nenhuma satisfação imediata aos sentidos. Quem se deixa arrastar por essa tendência sabota seu próprio desenvolvimento, perde-se num emaranhado de comodidades e satisfações momentâneas, enquanto o tempo passa e se dissipa no vazio. Os dias atuais são especialmente tenebrosos em termos de maus costumes, mas penso que a preguiça seja uma espécie de “mal do século”. Percebemos seus efeitos nas pessoas quando vemos que não leram o que deveriam ter lido, não fizeram o esforço que deveria ter sido feito, não combateram enquanto havia condições de derrotar os inimigos. O resultado é um enorme déficit, em todas as áreas. Temos uma miríade de estudantes deficitários, de profissionais pouco competentes e pouco dispostos a se tornarem competentes, pais e mães desleixados e uma juventude cada vez menos afeita ao esforço, ao sacrifício, ao serviço. Ora, não há crescimento humano sem esses três itens.
O papa Francisco tem falado da injustiça cometida na exploração do trabalho, mas é preciso lembrar que está cada vez mais comum a injustiça contrária, cometida por muitos “trabalhadores” que, remunerados e cheios de direitos, não comparecem ao trabalho, não têm afinco nem dedicação e estão se lixando com o empresário, cujo empreendimento lhes garante o ganha pão. Os RH’s das empresas estão cheios de exemplos dessa preguiça generalizada, que mataria de vergonha nossos pais e avós. Os estudantes parecem cada vez menos aptos a aprender o que antigamente se aprendia em condições muito mais duras. Mas ninguém abre mão do entretenimento, da balada, do absurdo desperdício de tempo nas redes sociais e congêneres. Não à toa a preguiça é um pecado capital. Entregar-se a ela é destrutivo para o indivíduo, para seus familiares e para toda a sociedade. Que tenhamos coragem de encarar esse monstro, porque ele nos apequena e nos tira a dignidade.