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PrEP: mais de 250 pessoas usam método de prevenção do HIV em Brusque

Comprimidos previnem que o vírus infecte a pessoa durante o sexo sem preservativo

Luiz Antonello
luiz@omunicipio.com.br

Em Brusque, são 251 pessoas que fazem o uso do PrEP, uma profilaxia pré-exposição, acompanhados pelo Serviço de Atendimento Especializado (SAE). Trata-se da utilização diária de apenas um comprimido que conta com dois medicamentos antirretrovirais, que reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao vírus HIV.

A farmacêutica Camila Gilli, que atende no SAE, explica que o PrEP é utilizado tanto por pessoas heterossexuais ou LGBTQI+, de diversas idades, profissões e classes sociais. A PrEP é acessível no Sistema Único de Saúde (SUS).

“A PrEP é uma ferramenta muito importante, pois ela despensa o uso do preservativo em relação ao HIV. Mas não apenas isso, o paciente é acompanhado pela equipe de saúde e fazemos todos os testes para as outras IST, que podem passar pelo sexo sem preservativo, e a gente já trata elas imediatamente”, detalha.

Portanto, o uso da PrEP traz a proteção apenas contra o HIV em uma relação sem camisinha, por exemplo. Ao utilizá-la, o paciente precisa fazer testes de Infecção Sexualmente Transmissível (IST) de rotina, além de consulta médica de acompanhamento pela equipe do SAE.

“O uso de PrEP, uma ferramenta relativamente nova, a maioria da população não conhece e não tem informação. Acham que é uma coisa burocrática e têm medo de tomar o comprimido. Tem acompanhamento, porém não dá tantos efeitos colaterais e não interage com outras medicações, álcool e drogas. Pessoal acaba tendo medo de tomar ele e acaba se expondo sem proteção”, diz.

Assim, ela ressalta que o uso de PrEP está mais desburocratizado. Antes, era necessário ter um acompanhamento mais detalhado. “Hoje, o paciente vem uma vez, no início, passa por consulta com enfermeiro e leva medicação para 30 dias. No retorno, leva PrEP para quatro meses, tendo retornos a cada quatro meses. A gente tem agenda livre, também com horário agendado, com atendimento rápido”, diz.

Além disso, Camila detalha que, em Brusque, homens podem usar o PrEP sob demanda. Neste caso, é preciso tomar dois comprimidos entre 2 a 24 horas antes do sexo e, em caso de sexo, uma pílula 24 horas após a dose dupla e outra 24 horas mais tarde.

“Qualquer pessoa pode usar a PrEP. Existem algumas exceções para pessoas que têm alguma insuficiência renal ou hepática, então precisamos fazer uma companhamento mais próximo”, ressalta.

Uso da PrEP

A PrEP, atualmente, é indicada para pessoas sexualmente ativas, não infectadas, mas com risco aumentado de exposição ao HIV, em diferentes contextos sociais. A farmacêutica destaca que a ferramenta é muito importante para casais sorodiscordantes, ou seja, um com o vírus HIV e outro não. “São casais que querem ter planejamento familiar e engravidar”, continua.

“Fora isso, qualquer pessoa que não gosta de preservativo, ou não quer usá-lo, a gente está aberto para ofertar a PrEP. É um atendimento sem preconceitos, se a pessoa não quer usar o preservativo é um direito dela, mas ela tem que estar ciente dos riscos que ela corre. Com a PrEP, a pessoa é bem orientada e fica mais segura em suas decisões”, diz.

Ela ressalta que o paciente da PrEP é uma pessoa muito consciente da sua saúde sexual, muito segura nas suas decisões, de usar ou não preservativo. “Não é pelo uso do PrEP que essa pessoa deixará de usar a camisinha. Ela pode usar em alguns momentos, e outros não. É uma ferramenta muito segura e eficaz, principalmente entre homens que fazem sexo com homens”, completa.

Como buscar a PrEP?

Em Brusque, para a buscar a PrEP é possível agendar atendimento pelo SAE via contato telefônico no (47) 3110-1027. O número também é WhatsApp, usado para tirar dúvidas.

O SAE fica na rua do Centenário, número 126, no Centro. O local é anexo a Vigilância em Saúde do município.

Prevenção Combinada

A estratégia faz parte da Prevenção Combinada, que visa atender às necessidades e contextos individuais, de modo a evitar novas infecções pelo HIV, sífilis, hepatites virais e outras ISTs.

Assim, é importante destacar que a PrEP não protege de outras infecções sexualmente transmissíveis, não previne gravidez e deve ser tomada conforme orientação médica para fazer efeito contra o HIV.

De acordo com o Ministério da Saúde, a PrEP só tem efeito protetor se o medicamento for utilizado conforme a orientação de um profissional de saúde. Caso contrário, pode não haver concentração suficiente das substâncias ativas na corrente sanguínea do indivíduo para bloquear o vírus.

Brusque em números

251
pessoas usam o PrEP

106
atendimentos com PEP foram feitos em 2023

1,4 mil
testes são feitos por mês

1.083
pessoas estão diagnosticadas com HIV

Mais de 1 mil

Atualmente, Brusque registra 1.083 pessoas com HIV em tratamento. Destes total, 4% são pessoas entre 18 e 25 anos; 26% entre 26 e 35 anos; 42% entre 36 e 50 anos; e 28% acima de 50 anos. Além disso, 57% dos soropositivos são homens cisgêneros.

Nos últimos dois anos, Brusque registrou quase 5 casos de HIV por mês. Em 2022, foram registrados 58 casos. Deste total, 46 pessoas se declararam heterossexual, já 12 se declaram bissexual e homossexual. Em 2023, até 5 de dezembro, foram 45 diagnósticos, endo 23 heterossexuais e 22 homossexuais.

“A maioria dos nossos pacientes que receberam o diagnóstico em 2022 e 2023, receberam via unidade de saúde. São pessoas, ou com parceiro, que tiveram algum comportamento de risco. A gente tem uma parcela importante que vieram via pelo Hospital Azambuja, já com doenças associadas, chamadas de doenças oportunistas, que tiveram um diagnóstico mais tardio”, detalha Camila.

Em 2022, foram 13 pacientes diagnosticados via hospitais. Ou seja, internados já com comorbidades da evolução do HIV. “Fora isso, nas unidades de saúde é obrigatório a testagem de gestantes e dos parceiros delas no pré-natal. Então, tivemos alguns diagnósticos nesta situação. Tivemos bastante diagnósticos laboratoriais, sendo 8, de pacientes que foram no médico que pediu exames completos”, continua.

Neste ano, foram 5 diagnósticos via laboratório e 4 em hospital, sendo que um deles faleceu sem iniciar o tratamento.

Testagem

Conforme o SAE, são realizados, em média, 1,4 mil testes no município mensalmente. Camila avalia que a oferta do teste está mais acessível e a população está mais consciente, independente da orientação sexual.

“O teste rápido na unidade de saúde está com acesso facilitado. A população está mais consciente, mesmo sendo heterossexual e casados, acabam fazendo a testagem. Tivemos 4 diagnósticos em ações, de campanhas, que fazemos testagem, nas ruas. Foram dois diagnósticos de autoteste, possível encontrar em farmácias”,

Todo paciente tem direito ao tratamento e, se segui-lo corretamente, consegue se tornar indetectável. Assim, a pessoa não transmite o vírus e consegue manter a qualidade de vida sem manifestar os sintomas da Aids. “Até 2022, conseguimos alcançar 90% de pessoas com carga viral indetectável, alcançando a meta da OMS para erradicação da transmissão do HIV”, comenta Camila.

Mortes registradas

Entre 2022 e 2023, ocorreram 29 óbitos de pessoas com HIV no município. Do total, são 16 homens e 13 mulheres. Conforme Camila, a grande maioria dos óbitos aconteceram por diferentes tipos de câncer, ou seja, não relacionados ao HIV. Também, ocorreram mortes por acidente de trânsito, assassinato e doenças cardíacas.

“A nossa população soropositiva está envelhecendo. Então, a maioria dos óbitos, nos últimos dos anos, estão relacionados as doenças do próprio envelhecimento do ser humano”, aponta.

Contudo, quatro pessoas morreram por abandono de tratamento, em decorrência da Aids.
Camila detalha que, neste caso, são pessoas que abandonaram o tratamento há alguns anos. Elas tiveram doenças oportunistas e não conseguiram se recuperar.

No geral, todos os óbitos foram de pessoas heterossexuais, sendo a idade do mais jovem a falecer 30 anos e o mais velho 80 anos. “São muitos cânceres, que atingem toda a população, não relacionados ao HIV”, completa.

PEP

A PEP, a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV, é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo vírus. Consiste no uso de medicamentos ou imunobiológicos para reduzir o risco de adquirir a infecção.

Em relação a PEP, foram feitos 106 atendimentos em 2023 no município. Destes, 17 foram após acidente de trabalho, dois após violências sexuais e 87 após exposições sexuais, ou seja, relações sexuais sem ou com rompimento do preservativo.

Neste caso, a pessoa tem até 72 horas após a possível exposição para procurar atendimento médico e iniciar a profilaxia com a PEP.

Em Brusque, esse primeiro atendimento, feito com teste somado a consulta médica, pode ser realizado em todas as Unidades Básicas de Saúde e no SAE. Caso for à noite no plantão noturno ou no final de semana, é preciso buscar os hospitais Dom Joaquim e Azambuja.


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