Primeiras empresas do bairro começaram a surgir na década de 1980
Projetado para ser estritamente residencial, Jardim Maluche teve abertura comercial anos mais tarde
Quido Sassi, morador do bairro e proprietário da panificadora, contra que começou a padaria após se aposentar. “Eu fui gerente da loja 3 do Archer, trabalhei lá 32 anos. Depois de aposentar, surgiu a padaria, em 85, 86”, conta. O terreno ele comprou de um amigo, que pretendia construir no bairro mas não gostou do local. “Foi aí o início dessa loucura que eu comecei”, brinca.
Ele foi um dos primeiros moradores do Jardim Maluche, e lembra que, quando se mudou para o bairro, havia apenas a casa de Augusto Maluche. Durante vários anos, o bairro foi exclusivamente residencial e não se permitiam comércios, mas ele julga que a padaria, primeira empresa a abrir no local, foi algo positivo para os moradores. “Foi muito bom para a gente e também para os nossos clientes da padaria”, diz.
Na garagem de casa
Uma das primeiras empresas a se instalar no Jardim Maluche foi, também, a loja Calçados Gevaerd, à época, sob o comando de Enah Gevaerd. A loja teve início na garagem da casa da família, um espaço de 15 metros quadrados: “Eu abri ela bem pequenininha, muito simples, muito miúda. Para espando nosso, aquilo foi indo, foi dando certo”, conta.
Enah lembra que as ruas ainda não eram calçadas e havia pouquíssimos estabelecimentos comerciais na região. A rua onde morava, a Pedro Werner, assim como o restante do bairro, era toda residencial. “Depois de 35 anos, está do tamanho que está. Como, ninguém sabe”, ri. “E começou numa rua que nem era comercial.”
Quem cuidava do estabelecimento eram ela e o filho, Marcelo, que hoje é quem dirige as lojas. Como não havia tantos representantes comerciais como existem hoje, Enah viajava muito para buscar mercadoria, até lugares próximos, como São João Batista, até distâncias maiores, como São Paulo.
“Naquele tempo era difícil, mas acho que era melhor do que hoje”, comenta. Ela acredita que abrir um negócio naquela época era mais fácil, podia-se começar de maneira simples e usar os lucros para investir na loja. “Hoje, quem quer começar tem que achar uma sala bonita, móveis bonitos. Para quem não tem muito dinheiro, como eu também não tinha quando abri a loja, muito do capital vai para a aparência.”
A rua Pedro Werner foi onde ela morou e criou os cinco filhos. A loja começou na garagem, mas não demorou muito para expandir: foi ocupando a sala, alguns quartos, o terreno ao lado (que a família já havia comprado).
“O dinheiro não se via, era só para manter a loja. Não tínhamos ordenado, nada. Era muito sacrifício, muito, muito”, recorda. “Mas a lembrança que eu tenho da época é muito boa. Quando chegamos no Maluche, há 63, 64 anos, não tinha nada, era só mato.”
Crescimento necessário
Juares Graczcki, um dos sócios da Refrigeração Graczcki, deu continuidade à empresa fundada pelo pai nos anos 1980. Ele conta que, no início, a empresa atuava na casa da família, e só mais tarde mudou-se para o outro lado da rua Germano Furbringer, onde atende até hoje.
“É positivo para os moradores do bairro que haja poucas empresas. No Jardim Maluche, isso é possível pelo Plano Diretor diferenciado, que determina o que pode e o que não pode de acordo com o zoneamento do bairro”, explica.
Segundo Juares e a esposa, Jussanan, que também trabalha na empresa, quando a cidade cresce, os bairros acabam por crescer junto. “Houve a necessidade de se criar leis para organizar o bairro”, pontua Jussanan. “Mas muita gente que quer abrir uma empresa no Maluche não entende isso, não gosta que exista o zoneamento.”
O casal é morador do bairro há mais de 20 anos, e a empresa já existe desde 1986. De acordo com Juares, foi a partir da década de 1990 que mais empreendedores e proprietários de empresas quiseram levar seus negócios para o Jardim Maluche.
Abertura comercial
Na época da abertura para as empresas, Oscar Maluche, neto de Antonio, proprietário do terreno da fazenda que se tornou o Jardim Maluche, conta que ele e a mãe, Marli, aplaudiram a ideia.
“Nos agradou ter uma padaria tão perto de casa, atravessar a rua e pegar o pão quentinho. Mas só depois vieram os problemas e nós vimos o erro que cometemos.” Segundo ele, quando a empresa começou as atividades, começaram também os caminhões descarregando produtos e o barulho, que antes não havia no bairro apenas residencial.
“O loteamento não foi pensado para isso, foi pensado para ser residencial. Mas agora está feito”, pontua. “Gostaria que o projeto do loteamento fosse respeitado o máximo possível pelo poder público.”
Muitas instituições – como escolas e unidade de saúde – foram implantadas em terrenos doados pela família à Prefeitura de Brusque.
“Eram áreas destinadas à ruas e praças. Foram doadas ao município, que mudou a destinação, na época em comum acordo com a família”, explica Oscar. As doações dos terrenos iniciais e construções do Sesi, da Apae, do antigo Fórum e outros aconteceram entre as décadas de 1960 e 1970. Foi só mais tarde que estabelecimentos comerciais passaram a se instalar no bairro.
Recentemente, também em comum acordo entre moradores, loteadores e prefeitura, foi implantado o Instituto Federal Catarinense – campus Brusque. A área de cerca de 20 mil metros quadrados era destinada a ser uma área de proteção, por conta das cheias do rio. “Como o rio já foi mudado, essa área deixou de fazer sentido. No governo do Paulo Eccel foi feito esse acordo”, pontua Oscar.