Procura-se um Homem
Diógenes de Sinope era um filósofo grego, que viveu em Atenas num período bem decadente. Conta-se que andava pelas ruas da cidade, em plena luz do dia, com uma lanterna na mão, dizendo que procurava um Homem. Esse “h” maiúsculo quer dizer não apenas um indivíduo com cromossomo XY, testículos e pênis, mas um Homem de virtude, um Homem honesto, na plena acepção do termo. Mas por que tanta dificuldade em achar alguém assim? Forjar um Homem na virtude não é moleza. A virtude é uma riqueza que deve ser buscada no trabalho e no sacrifício, porque a tendência natural é fugir das dificuldades e se jogar no que dá prazer.
Ora, essa é a receita para formar “bananas”, homens sem força moral, como há tantos por aí, e como certamente havia em Atenas, na época de Diógenes. Um Homem começa a ser forjado na infância, com o exemplo dos pais e de quem mais o rodeia, com uma condução segura de quem o educa, para que saiba discernir o que é importante e o que é banal, o que faz amadurecer e o que gera displicência e dependência. Essa forja se intensifica na juventude, pelas boas escolhas, pelo exercício de renunciar ao prazer imediato em nome de valores perenes e conquistas mais elevadas. A (des)educação contemporânea e nossa cultura apodrecida, baseada em filósofos dementes e artistas degenerados, fazem exatamente o contrário. Estamos formando gerações e gerações de “bananas”, de sujeitos incapazes de assumirem responsabilidade, de amarem de verdade, de serem pastores e esteios de suas famílias.
Esses homens (com “h” minúsculo) só pensam em prazeres e satisfações imediatas, e fogem das responsabilidades e sacrifícios como os vampiros fogem da luz. Quando chegam a constituir família, ao invés de serem sua força e sua referência, não raro são um problema a mais para a esposa e para os filhos. Essa terrível crise de masculinidade verdadeira é uma das responsáveis pela desagregação das famílias e pela decadência moral na qual estamos imersos, como na Atenas de Diógenes.
Fiz essa longa introdução para homenagear quem considero um exemplar raro dessa masculinidade virtuosa, e que faleceu no último dia 23 de abril: o Professor Marco Antônio Pizarro da Silveira. Quando entrei na Faculdade de Filosofia, na FEBE, em 1988, ele foi o primeiro professor com quem tive contato. Lecionava Introdução à Economia. Embora tenha aprendido bem o conteúdo da disciplina, o que mais me marcou em suas aulas foram as histórias que ele, de vez em quando, contava. Lições e dicas valiosas sobre a vida prática, que recordo e tento seguir até hoje. Quando olhava para ele, percebia que ali estava um Homem, daqueles que Diógenes teria satisfação em encontrar. Essa é a imagem dele que ficou em mim. Nunca tive intimidade com ele, nem frequentei seu círculo familiar.
Sei de sua intensa atividade profissional e social pelo que ele já dizia, e por sua biografia, “A Trajetória de uma Vida”, escrita pelos meus amigos Ricardo José Engel e Reinaldo dos Santos Cordeiro. Sei que fez muita coisa e deixou muitas marcas, mas nenhuma maior que a de ter se forjado como Homem, e assim vivido até o fim. Que seu exemplo nos inspire, para que essa espécie não se extinga de vez, nessa terrível maré de lama em que vivemos.