Proerd: há 20 anos, projeto ensina a dizer não às drogas; conheça essa história
Confira história do programa que já atingiu mais de 30 mil alunos em Brusque e região
Em março de 1999 a Polícia Militar de Brusque iniciava o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), com o intuito de conscientizar as crianças da redes pública e particular de ensino. O programa, que já formou mais de 30 mil crianças em Brusque e região, hoje é aplicado com os alunos do 5º ano de todas as escolas.
O atual instrutor do programa, Guilherme André Sedrez afirma que o Proerd é desenvolvido com uma abordagem diferente. O professor da sala de aula é substituído pelo policial fardado que, além de ensinar os pequenos a como dizer não às drogas, também tem o intuito de mostrar que eles não precisam temer a PM.
Segundo ele, um a cada sete catarinenses já participou do Proerd. O instrutor enfatiza que o programa busca ensinar aos alunos que eles têm o poder de tomar a decisão e não precisam seguir a influência dos amigos, apenas dos pais. “Eles que escolhem, se deu errado é porque eles escolheram errado. Um dos primórdios do programa é o poder da decisão”.
Início do programa
Em 1999, o comandante da Polícia Militar de Brusque, capitão Carlos Olímpio Menestrina, recebeu um convite para dois policiais da guarnição participarem de um curso sobre drogas. Os escolhidos foram Amarildo da Silva e Mauro Palma Rezende.
“O Proerd surgiu como projeto piloto em Lages, em 1998. Lá o coronel Otávio, que hoje é comandante de Brusque, e mais dois policiais fizeram o curso em São Paulo, voltaram para Lages e aplicaram o programa. Deu certo e a partir disso foram chamados 36 policiais do estado para fazer o curso”, explica Silva.
O comandante do 18º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Otávio Manoel Ferreira Filho, recorda de auxiliar “na formação dos policiais que trabalhavam em Brusque, que eram o soldado Amarildo e o tenente Rezende”.
O primeiro educandário brusquense a receber o projeto foi a escola Santa Terezinha, no dia 15 de março. O programa era realizado com os alunos das 4ªs séries, entre 9 e 12 anos. Amarildo, que se aposentou como 3º sargento, recorda que no início teve algumas dificuldades, como transporte . “Às vezes eu ia de ônibus, ou com a minha moto, ou alguns diretores me levavam de uma escola para outra”.
Além disso, era preciso providenciar o diploma e o uniforme dos alunos. “No começo eu ganhei 5 mil adesivos do Proerd por meio da CDL. Eu vendia e algumas professoras me ajudaram para nós pagarmos os diplomas e comprarmos as camisetas dos alunos. Hoje vem tudo pronto”.
No início, o curso teve 16 encontros, além da formatura realizada no pavilhão Maria Celina Vidotto Imhof. O instrutor recorda que no primeiro ano trabalhou com 35 turmas, totalizando 975 crianças. Desde o início, Silva acreditou no sucesso do Proerd.
As demais escolas que também receberam o Proerd em 1999 foram o Colégio Cônsul Carlos Renaux, Padre Lux, Ivo Silveira, Georgina de Carvalho Ramos da Luz, Paquetá, Feliciano Pires, João XXIII e São Luiz.
Silva explica que o programa não atingiu mais escolas no primeiro ano devido a logística do deslocamento. Ele recorda com carinho a recepção positiva das escolas, tanto que ainda tem amizade com alguns professores.
Ao longo da sua trajetória, o ex-instrutor contabilizou 9.710 alunos, sendo que 7.245 foram apenas em Brusque e região, onde atuou até 2008 quando foi transferido para Gaspar. Além do município, ele também trabalhou com Guabiruba, Botuverá, Gaspar, Ilhota, Rodeio, Apiúna e Ascurra.
20 anos depois
Instrutor há seis anos, Sedrez afirma que com o passar do tempo o programa foi se adequando. No início eram 16 aulas, que passaram para 12 e hoje são 10.
Além disso, o programa abordava apenas sobre as drogas, mas hoje outros temas integram a matriz curricular do Proerd. Os alunos aprendem que não são obrigados a seguirem o que o colega pede,no poder de dizer não, trabalham a confiança, aprender a ter opinião e a respeitar a dos outros, bullying, rede de ajuda e formas de se comunicar, além dos malefícios do álcool e do cigarro.
Para o comandante do 18º Batalhão de Polícia Militar, o grande problema da sociedade são os entorpecentes e o Proerd trabalha esse assunto antes do jovem ter contato com a droga. “O programa visa a conscientização, busca aumentar o senso crítico e evitar que no futuro essa criança seja usuária de determinadas substâncias”.
Ferreira Filho também comenta que é normal os alunos aguardarem ansiosamente pelo 5º ano para participarem do Proerd. Para ele, o programa cativa e é bem aprovado tanto pelas crianças quanto pelos pais.
Günter Teobaldo Gums, que também é instrutor, diz que o Proerd representa uma oportunidade de repassar informações às crianças para que elas possam se proteger das drogas, da violência e resistir as pressões que sofrem no dia a dia. “É uma chance de poder ajudar e contribuir com o futuro de várias crianças”.
O instrutor Julio Cesar Cristóvão afirma que o programa se tornou forte pois não basta reprimir as drogas, é preciso combater através da prevenção. “O Proerd veio para mostrar para essas crianças que elas têm possibilidade de ter uma vida saudável, basta eles fazerem as escolhas corretas”.
Kids e pais
Além do Proerd destinado para os alunos do 5º ano, também foram criados os projetos kids e pais. Com os pequenos é trabalhada a proteção e segurança pessoal, cartazes e números de segurança, placas de trânsito e para que eles não aceitem coisas de estranhos. Os alunos são do pré e do 1º ano.
Já no programa destinado aos pais são abordados os problemas que os jovens enfrentam e as diferenças entre as gerações. “Os pais acham que será ensinado como educar, mas vamos conversar sobre a realidade”, esclarece Sedrez.
Avaliação dos pais
A professora Lucimar Rocha Gazaniga da Costa, 39 anos, participou neste ano do Proerd Pais. Ela trabalha com o 5º ano e acompanhava as aulas do programa com os alunos. Agora que também participou do projeto, Lucimar garante que pôde aprimorar o conhecimento e aprendeu muitas dicas sobre o comportamento dos filhos que poderá aplicar em casa.
Ela é mãe de Lara Gazaniga da Costa, que está com 13 anos. “Às vezes surgem algumas dúvidas, e mesmo sendo pedagoga a gente precisa de um toque de quem está de fora”.
A pedagoga já era fã do programa, mas ficou mais encantada após participar. “Eles enfatizam para nós pais conhecermos as amizades, do que os filhos gostam e sermos amigos. Não é para sermos aquele amigo que deixa fazer tudo, mas aquele que indica o caminho certo”.
Quem também participou foi Daniel Maestri Heil, 34. Ele é pai da pequena Sophia Gottardi Heil, 11, que também fez o Proerd neste ano. Para ele, todos os pais que têm filhos nessa faixa etária deveriam participar do programa.
Durante as aulas, Heil explica que aprendeu a prestar atenção no jeito como as crianças agem e falam para tentar identificar se estão escondendo algo. “Essa é uma idade que eles são espertos e eles nos ensinaram macetes para ficarmos atentos”.
“Eu não tive esse conteúdo e precisei aprender na raça, mas eles podem ter isso na escola para distinguir o caminho certo e prevenir o uso de drogas”, finaliza.