Professor do IFC que teve “despedida comunista” processa Luciano Hang e vereadores por danos morais

Além da despedida comunista, outra sala preparou "despedida bolsonarista" para Gabriel Bandeira Coelho

Professor do IFC que teve “despedida comunista” processa Luciano Hang e vereadores por danos morais

Além da despedida comunista, outra sala preparou "despedida bolsonarista" para Gabriel Bandeira Coelho

Por Otávio Timm e Thiago Facchini

Neste domingo, 3, a defesa de Gabriel Bandeira Coelho, ex-professor de Sociologia do Instituto Federal Catarinense (IFC) de Brusque que recebeu críticas após um vídeo de “despedida comunista”, anunciou que entrou com uma ação na Justiça contra o empresário Luciano Hang e contra os vereadores Rick Zanata (Patriota) e Jean Pirola (PP).

A ação pede uma indenização por “graves danos morais” causados ao ex-professor da instituição. Segundo o documento, Gabriel vem recebendo ameaças contra si e contra a família. O então professor do IFC deixou a instituição na semana passada, com o fim do contrato temporário.

O advogado de Gabriel, Artur Antunes Pereira, alega, no documento, que o professor foi difamado por Luciano Hang em publicação nas redes sociais. Além disso, o advogado também acusa Rick e Jean de difamação. Na nota consta que a dupla fez “imputações ainda mais graves, alegando que o professor estaria fazendo apologia ao comunismo, às drogas e à poligamia”.

Artur comenta ainda que tanto Rick quanto Jean serão representados ao corregedor da Câmara para que apure possíveis punições. A nota da defesa, entretanto, não deixa claro de qual forma isso será feito.

“Despedida bolsonarista”

O advogado alega que as imputações são “falácias” e que “promoveram recortes seletivos nas manifestações de despedidas promovidas pelos alunos do IFC ao professor”. Gabriel, na ocasião, estava prestes a deixar o cargo temporário na instituição.

Conforme consta no documento, outra turma preparou uma “despedida bolsonarista” para Gabriel, além da “despedida comunista”. Na nota aparece uma foto de um bolo com uma placa escrita “#Mito2022”, além de alegar que os alunos desta outra sala receberam o então professor a gritos de “mito, mito”.

Reprodução

Luciano Hang e vereador se manifestam

A reportagem de O Município entrou em contato com Luciano Hang e com os vereadores Rick Zanata e Jean Pirola. Questionados se gostariam de se manifestar, Rick informou que ainda não recebeu a nota divulgada pela defesa do ex-professor e, quando receber, poderá retornar o contato à reportagem.

Luciano Hang, que divulgou um vídeo e o nome do ex-professor nas redes sociais, afirma que Gabriel precisa “fazer uma autoanálise para ver o que está pregando em sala de aula”. Além disso, diz que “Brusque não quer ideologias”.

“Sobre a informação de que o professor do IFC irá me processar, penso que, antes de processar alguém, ele tem que fazer uma autoanálise para ver o que está pregando em sala de aula. Brusque não quer ideologias, quer que professores repassem conhecimento aos alunos. Educação se recebe em casa”, respondeu o empresário.

Jean Pirola disse que o ex-professor tem a liberdade de denunciá-los e afirma que “luta pela liberdade”, citando também que esta defesa, conforme mencionou, não acontece por parte do ex-professor do IFC.

“É o direito que ele (ex-professor) tem de liberdade, o que ele prega ao contrário no IFC ou o que ele pelo menos aceitou que se fizesse dentro de uma sala de aula. Aqui defendemos a liberdade. Então, ele tem a liberdade de fazer o que bem entender. Se ele acha por bem processar ou denunciar, ele vai ter que provar tudo isso que está fazendo. Está tudo certo. Nós lutamos por aquilo que ele não defende, que é a liberdade”, diz.

Além disso, o vereador fez mais críticas ao ex-professor da instituição. Jean comenta que Gabriel “aceitou ativamente” o que estava escrito no quadro. Ele diz ainda que a defesa será apresentada em ambas as denúncias feitas pelo ex-professor.

“Um professor que vai para dentro de uma sala de aula e aceita ativamente o que foi escrito no quadro e está nas imagens, que foram apresentadas pelo vereador Rick… não tenho muito a dizer de um cidadão igual a este. Pode fazer o processo e apresentar na corregedoria que vamos apresentar a defesa, sem problema algum”.

Jean alega também que não ofendeu o professor, mas, sim, criticou o que classificou como “aceitação ao comunismo”. Por fim, reforçou que sempre combaterá a doutrinação nas escolas, conforme mencionou em sua manifestação sobre o caso.

“Na nossa fala não ofendemos a pessoa. O que ofendemos foi a aceitação ao comunismo. Isso eu vou combater e debater todas as vezes que for passado a mim. Jamais vou aceitar passivamente que alguém venha dentro de uma sala de aula tentar, no mínimo, doutrinar aquilo que a nossa Constituição prevê como crime”, finaliza.

Confira, na íntegra, a nota da defesa de Gabriel:

Nota à imprensa.

Prezados,

Na qualidade de advogado de Gabriel Bandeira Coelho, o professor do IFC de Brusque que foi difamado pelo Sr. Luciano Hang em suas redes sociais (o qual alegou que o professor vinha fazendo doutrinação comunista em sala de aula) e que foi também difamado pelos vereadores Jean Daniel dos Santos Pirola e Rick Zanata (que fizeram imputações ainda mais graves, alegando que o professor estaria fazendo apologia ao comunismo, às drogas e à poligamia), venho informar vossas senhorias que:

1- As imputações feitas pelos três senhores não tem qualquer amparo fático, já que eles, de forma maliciosa e ilícita, promoveram recortes seletivos nas manifestações de despedidas promovidas pelos alunos do IFC ao professor, a fim de criar uma falácia, capaz de alimentar a neura política que possuem e dar-lhes palanque em um circo que promovem rotineiramente às custas da honra alheia.

2- Ao contrário do professor, nenhum dos três tem formação na área da sociologia (na qual o docente é Doutor) e portanto não possuem capacidade técnica para opinar sobre assuntos que demandam uma capacidade que eles claramente não possuem.

3- Qualquer pessoa isenta, livre de fanatismos e de paixões, terá condições de perceber a inexistência de qualquer ato de apologia na conduta do professor, nos vídeos que os três fizeram circular pela internet, já que o docente ali se limitou a atuar comicamente em um momento de pura descontração e confraternização, reagindo à conteúdos puramente humorísticos, recheados de sátiras, que foram elaborados livremente e exclusivamente por adolescente e jovens que possuem senso crítico apurado e convivem em meio aos mesmos temas sociais que o restante da população.

4- Se qualquer desses senhores tivessem sido minimamente cautelosos antes de atacar a honra alheia e colocar em risco a integridade física, moral e psicológica do professor, teriam identificado nas próprias imagens que compartilharam, que nelas, o professor é retratado sarcasticamente como sendo de esquerda e também ao mesmo tempo como sendo de direita, já que os dois rótulos (infelizmente) fazem parte da vida social atual e estão presentes na vida de todos. A imagem abaixo, relativa a homenagem feita por uma das turmas, mostra inclusive o professor sendo caricaturado como apoiador de Jair Messias Bolsonaro, em uma montagem que apresenta o docente ao lado do presidente:

(Foto do bolo, já divulgada acima)

5- Na mesma turma da figura acima, em clima de descontração e despedida, o docente foi recebido pelos alunos em gritos de “mito, mito”, em alusão à Bolsonaro, ao que o professor reage fazendo sinal de “arminha”, gesto que é típico daqueles que apoiam o atual presidente, o que prova tanto que o professor jamais doutrinou qualquer pessoa, bem como que os eventos citados pelos três senhores aconteceram em um ambiente de brincadeiras e sátiras.

6- Na data de hoje (domingo, 3) já entramos com ação contra o Sr. Luciano, o que faremos também em face dos vereadores Rick Zanata e Jean Pirola, pedindo indenização pelos graves danos morais que o professor vem experimentando (já que desde tais manifestações o professor vem sendo alvo de diversas ameaças contra si e sua família), contra quem também serão manejadas Queixas Crimes por cometimento do crime de difamação, sendo ainda que, em face dos vereadores Rick Zanata e Jean Pirola, será apresentada representação ao corregedor da Câmara de Brusque, por quebra de decoro parlamentar, pedindo providências daquela Casa legislativa e aplicação das punições cabíveis.

Brusque, 3 de julho de 2022.

Artur Antunes Pereira

O caso

Durante sessão da Câmara de Vereadores na terça-feira, 28, Rick Zanata criticou o vídeo de despedida do professor e classificou como “apologia às drogas, à poligamia e ao comunismo”, se referindo aos desenhos no quadro, feitos em referência ao comunismo.

“Fico só imaginando o que esse professor ensina de conteúdo. Trago isso para que os pais fiquem de olho aberto para doutrinação política dentro de sala de aula. Nunca vi tanta porcaria. Tenho maior apreço por todos os professores e tenho convicção que esse tipo de horrores que vimos seja disseminado apenas por uma pequena minoria”, disse o vereador, na tribuna.

Os vereadores Alessandro Simas (PP); André Batisti, o Deco (PL); Jean Pirola (PP); e Ivan Martins (Republicanos) apoiaram o posicionamento de Rick. Marlina Oliveira (PT) repreendeu o vereador e o acusou de ter uma postura violenta e precipitada em relação ao vídeo apresentado.

O assunto ganhou atenção e também foi compartilhado por Luciano Hang. Já na quarta-feira, 29, o IFC de Brusque emitiu uma nota sobre a fala de Rick. A nota do IFC inicia falando do instituto e das conquistas mais recentes do campus de Brusque. Também, destaca que tem o “compromisso com educação libertadora, estimulando a autonomia intelectual e participação cidadã”.

Sobre a fala do vereador, o IFC disse que repudia a atitude de Rick. “Repudiamos completamente a fala feita a partir de um recorte, sem conhecimento dos fatos e sem o interesse em dialogar com a instituição”, escreveu a instituição.

O IFC escreveu ainda que o professor costuma ser elogiado por sua abordagem. “Diferente do que foi exposto e criticado pelo vereador, o professor é elogiado por abordar e dar espaço às mais variadas posições e concepções ideológicas em sala de aula. Ações que feitas dentro do rigor metodológico que cabe às Ciências Sociais”.

Por fim, o instituto também afirma que, nas ocasiões em que Gabriel “foi questionado em aula por alguns estudantes sobre o que pensava sobre a ideologia do comunismo, ele explicou que trata-se um modelo utópico de sociedade e que a lógica capitalista parece haver vencido, sobretudo por razões filosóficas e morais, as quais não cabe explorar agora”, consta na nota. Confira o documento na íntegra aqui.

*Colaborou Yasmin Eble

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