Professora adapta atividades para aluno cadeirante participar da Educação Física
Kevin Gonçalves, que tem paralisia infantil, se esforça para dar o melhor de si nas aulas
Trazer a inclusão social para dentro das aulas de Educação Física é sempre um desafio para a professora Cristiane Teolinda Bodnar, mas também uma grande satisfação. Na sexta-feira, 15, ela realizou uma atividade que a emocionou muito pelo envolvimento de todos os alunos.
Ela é professora do menino Kevin Gonçalves, de 15 anos, que é cadeirante devido à paralisia infantil. Em todas as aulas, Cris busca integrá-lo nos exercícios, porém em alguns se torna impossível, como saltos à distância.
Entretanto, ao fazer uma corrida de bastão, a professora se sensibilizou ao ver o aluno observando os colegas. “Chamei ele para participar e ele me disse que era ruim ficar sozinho”, lembra.
Para haver igualdade durante a disputa, uma das equipes fez uma cadeirinha usando dois colegas e um terceiro sentou sob os braços deles para simularem uma cadeira de rodas, enquanto a professora empurrava a cadeira de Kevin para chegar até o colega de equipe e passar o bastão.
Os alunos Andrei de Souza Flores de Bairros, 11, e Kauã Marques Lamin, 13, fizeram a cadeirinha para Eduardo Bonamente, 10, sentar. Ao fim da brincadeira, os três afirmaram que é muito difícil e agora conseguem entender um pouco melhor as limitações do colega. “É importante incluir ele nas atividades com a gente para ele não ficar muito parado e sozinho. Porque se não ele só fica vendo a gente brincar”, avalia Eduardo.
Felicidade do aluno
Kevin sentiu-se muito feliz em poder participar com os colegas da atividade. Apesar da escola não contar com uma quadra de cimento, foi possível se dirigir até o espaço com brita e brincar. “É muito ruim ficar lá sozinho. Gostei bastante de participar, mas sinto falta de um espaço para brincar mais”, diz.
Amante do esporte, Kevin já foi campeão de bocha em um torneio em Porto Alegre (RS) quando ainda participava da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São João Batista. Porém, depois que deixou de frequentar a instituição, não praticou mais.
Entretanto, a professora Cris afirma que tentará levar Kevin neste ano para participar do Jogos Escolares Paradesportivos de Santa Catarina (Parajesc). “É preciso incentivar cada vez mais ele, ainda mais por demonstrar o interesse”.
A educadora ressalta que quando realiza alguma atividade em que não é possível integrar o aluno, ela dá as peças de lego para encaixar para trabalhar a coordenação motora.
Superação
Com seus 15 anos, Kevin é um menino sonhador. Seu maior desejo é chegar aos 18 anos para fazer a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e então ter seu próprio carro. Ele ainda deseja estudar muito para conseguir ingressar na faculdade e cursar psicologia.
A mãe Vanessa Fontanive, 34, apoia o filho em seus sonhos e acredita que são eles que o fazem seguir em frente e dão força para superar os desafios.
Ela revela que o filho teve a paralisia durante o parto, pois passou da hora de nascer e com isso faltou oxigênio. Foram 30 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para recuperação. Durante esse período, a mãe que acabava de ganhar o primeiro filho, não sabia ao certo quais eram os problemas que ele teria. “O resultado final veio quando ele já estava com 11 meses de vida: paralisia cerebral infantil mais o atraso mental leve”.
A mãe lembra que chorou muito quando soube do diagnóstico, mas foi nos atendimentos de estimulação precoce que uma profissional da saúde a ensinou como lidar com as dificuldades. “Com isso eu fui aceitando e aprendendo a amar meu filho. Essa mulher chamada Aliamara foi um anjo em minha vida”.
Sonho de andar
A força de vontade de Kevin impressiona a própria mãe. Ela conta que o filho é muito esforçado e tem se empenhado bastante para conseguir caminhar. “Eu tenho fé em Deus que um dia ele vai conseguir. Estarei ao lado dele em todos os momentos”, afirma.
A estimulação para começar a andar iniciou por meio de fisioterapia na Apae, e agora já bem desenvolvido, a mãe o incentiva em casa também.
Vanessa conta que após passar por uma avaliação na Apae, ficou decidido que ele tinha condição de frequentar uma escola regular. No início, a mãe enfrentou seus medos por não saber qual seria a reação dos colegas.
“Todos os alunos aceitaram muito bem. Todos o adoram e ele se sente muito bem na escola com os professores, que são todos muito prestativos também. Ele acorda cedo para ir para a escola”, diz.
Para Vanessa, Kevin é tratado como uma criança normal. Se precisar, fica de castigo assim como a irmã. Entretanto, a maior dificuldade que enfrenta por ter um filho cadeirante é a falta de acessibilidade no município. “Faltam rampas nas calçadas para circular com a cadeira de rodas e os elevadores nos transportes escolares, porque não adianta ter a placa na frente para espaço reservado se não tiver como subir”, diz.
Veja como foi a atividade: