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Prognóstico de ano é turbulento para o têxtil

Setor sofre com competição desigual com produtos asiáticos e alta do algodão; trabalhadores demitidos das grandes fábricas aguardam salários atrasados

Empresários do setor têxtil da região preveem um ano de dificuldades econômicas ainda mais acentuados do que as registradas em 2014, quando o ano já não terminou bem. “Na melhor das hipóteses, esperamos ter um crescimento zero”, sentencia o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem de Brusque e região (Sifitec), Marcus Schlösser.

Ele afirma que o setor já está fragilizado há bastante tempo, e que se contentará em não fechar o ano com variação negativa na taxa de crescimento. A maior preocupação do empresário, contudo, não é com a crise econômica – originada da competição desigual com produtos asiáticos e alta expressiva no preço do algodão – mas pela falta de confiança na resolução dela.

“O que preocupa é o descrédito total nas instituições, e isso talvez seja o mais grave. Já houve crise, ciclos, nos últimos anos. A diferença é que nunca houve um descrédito tão grande em todas as instituições, em todos os poderes, e isso é gravíssimo para o setor industrial”, afirma Schlösser.

Ajuste fiscal

As medidas econômicas adotadas pelo governo também impactam o setor têxtil. O ajuste fiscal promovido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é visto como solução paliativa para o equilíbrio econômico do país. O empresário avalia que o aumento de impostos é “uma forma fácil, no sentido pejorativo, de fazer os ajustes”.

“Na verdade, o que teria que ser feito é uma reestruturação completa. Reformas política, tributária, fiscal e trabalhista. Como isso não acontece de uma hora pra outra, nem sequer se vê isso acontecendo a médio prazo, todo mundo sabia que o ajuste viria assim”, diz o presidente do Sifitec, ressaltando que as medidas de aumento da tributação podem fragilizar ainda mais o setor.

Câmbio ameniza

No entanto, o ajuste promovido pelo governo federal não traz só más noticias. Schlösser afirma que a questão cambial, para as fábricas que têm possibilidade de colocar seus produtos no mercado externo, será favorecida, com a tendência de que o dólar estabilize entre R$ 2,80 e R$ 2,90. Ele diz que isso, de certa forma, vem compensar as dificuldades econômicas geradas pelo ajuste fiscal.

Isso permite, ainda, que se façam ajustes internos na economia, já que possibilita às empresas têxteis o combate momentâneo da diferença de preço apresentada por concorrentes internacionais, principalmente em relação aos produtores de confecções.

“Mas isso, na verdade, ajuda em parte, porque o ajuste é muito maior do que possa ser compensado via câmbio ou qualquer outra forma. O setor industrial está parado, é um momento de indecisão. Muitos investimentos foram feitos e existem fábricas inteiras paradas à espera de definições econômicas”, afirma Schlösser.

Elevação de preços

Ele também comentou a elevação de preços ao consumidor de dois itens fundamentais na cadeia de produção industrial: os combustíveis e a energia elétrica. “Sabia-se que o aumento viria, que eram dois setores usados como âncoras de inflação, mas a surpresa ficou por conta do tamanho do reajuste”, diz o empresário.

Conforme Schlösser, alguns setores do têxtil, principalmente o de fiação, vão ser “duramente atingidos” pelos reajustes. “A questão do combustível também é vital para a distribuição dos produtos. Obviamente vai impactar”, conclui.