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Transitolândia: Educação como instrumento de mudança

Projeto referência no estado busca transformar crianças em multiplicadores de conhecimento

A formação de bons motoristas e pedestres começa muito antes da autoescola. Ainda pequenas, as crianças devem ser estimuladas a entender as leis de trânsito e o respeito ao espaço compartilhado. É por isso que alunos dos 4º anos das escolas públicas e particulares de Brusque, Guabiruba, Botuverá e Canelinha são convidados a vivenciar a experiência de estar no trânsito.

A Transitolândia é um espaço modelo para o aprendizado teórico e prático sobre o trânsito, simulando uma via comum da cidade, com placas indicativas, sinalização horizontal, faixas elevadas e calçadas, em menor escala. Neste ano, a novidade foi a implantação de quatro semáforos para veículos e pedestres.

O projeto foi criado em 2013 pelo 18º Batalhão da Polícia Militar, em parceria com a Guarda de Trânsito de Brusque (GTB) e apoio de empresas privadas, e desde então já atendeu mais de 4 mil crianças.

Para o major Otávio Manoel Ferreira Filho, responsável pelo setor de trânsito da PM, a educação é fundamental para a qualidade do trânsito. “A melhor forma de atingir o ser humano é começar pelas crianças, pois nessa fase, que costumo chamar de ‘esponja’. Elas absorvem mais fácil as informações e passam a ser multiplicadores”.

O sargento Edson Sidney Gielow, que atua no projeto, diz que o espaço em miniatura consegue sintetizar a complexidade do trânsito. “A única maneira de mudarmos o trânsito é nos educarmos. Se com o projeto de educação que desenvolvemos já é ruim, imagina se não tivesse”.

As aulas na Trânsitolândia ocorrem todas as terças e quintas-feiras, com agendamento prévio feito pelas escolas. No dia 4 de julho foi a vez dos alunos da Escola de Educação Fundamental Professora Augusta Dutra de Souza, do bairro Limeira, participarem.

Na chegada, as crianças já fazem o primeiro contato com os policiais, o que também tem uma função importante. “Quando chegam no quartel, eles já veem o policial como alguém em quem podem confiar”, diz o sargento Sidnei.

O projeto é dividido em dois momentos: teórico e prático. No início, o instrutor aborda temas do cotidiano, como utilização de passagens protegidas, faixas de pedestres, respeito aos demais usuários e a forma correta de utilizar os meios de transporte coletivos e individuais.

A experiência é referência no estado e outras cidades já pensam em adotar o modelo que vem dando certo. O sargento Sidnei acredita que por meio da Transitolândia, as crianças se tornarão motoristas melhores no futuro. Além disso, assim que pisam fora do quartel, passam a entender mais e ter mais atenção no trânsito.

Trabalhos em sala de aula
É geralmente no mês de setembro, na Semana Nacional do Trânsito, que as escolas costumam trabalhar o tema em sala de aula. Porém, as professoras do 4º ano da escola do bairro Limeira, Maria de Lourdes Fagundes Assi, 46, e Larissa Tomio Heckert, 29, afirmam que a participação na Transitolândia renderá conversas por muito tempo.

Entre as atividades desenvolvidas após a visita à Polícia Militar está a exposição de cartazes pela escola como forma de orientar as crianças das outras turmas.

“Faremos atividades de conscientização para atingir todos os estudantes, até porque o trânsito em nosso bairro, em especial, em frente a nossa escola, é bastante complicado”, destaca Maria.

A professora acrescenta que pretende, ainda, confeccionar panfletos para entregar para pais e alunos. “É uma tentativa de conscientizar a comunidade, pois, por exemplo, em frente à escola temos uma travessia elevada e as pessoas passam fora dela, gerando risco para todos”.

A professora Larissa destaca que entre os temas mais importantes abordados durante a aula teórica, foi observar com atenção o comportamento do motorista antes de atravessar a faixa de pedestres. “As crianças, em especial, costumam chegar na faixa e atravessar sem olhar. Mas muitas vezes o motorista não as viu, e por isso causam acidentes”, diz.

Conhecimento levado adiante
O major Otávio explica que o trânsito é o principal causador de mortes no Brasil e, até poucos anos atrás, chegou a ser superior aos homicídios. Devido às estatísticas negativas, a Polícia Militar está preocupada em melhorar o trânsito em Brusque.

Após a experiência, as crianças saem mais atentas aos problemas. “O que mais me impressiona são as pessoas mal educadas, que não respeitam as leis”, diz Guédria Gabriele da Silva Erthal, 9 anos.

O que mais marcou Renan Alberton Leonardo, 10, foi saber que para andar na garupa da motocicleta é preciso ser maior de 7 anos. “Vou levar o que aprendi para casa e cobrar dos meus pais quando eu ver eles fazendo algo de errado”, garante.

Encantada com tudo que viu e ouviu, a aluna Ana Clara dos Santos Munhoz, 9, afirma que gostou de estudar as normas de trânsito. “É comum ver pessoas atravessando fora da faixa, o que é muito perigoso”, diz.

Certificado de participação
Após a experiência vivenciada no trânsito em miniatura, as crianças recebem um kit contendo uma cartilha do projeto em que contém informações sobre o tema e uma história em gibi que se passa dentro da própria estrutura da Transitolândia. Além disso, no kit há uma caixa de lápis de cor para colorir, panfletos e uma carteira de habilitação em miniatura para os pequenos motoristas.

Por fim, eles recebem o certificado de participação. “É uma maneira de fazer com que sempre lembrem-se da experiência vivida aqui e também dos conhecimentos adquiridos”, explica o sargento Sidnei.