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Promotor de justiça detalha sequência dos fatos do atentado na creche de Saudades

MP finaliza denúncia contra autor do atentado; crime aconteceu no dia 4 de maio

Em uma coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, 21, o promotor de justiça do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), Douglas Dellazari, detalhou os fatos ocorridos no crime cometido na escola Aquarela, em Saudades, no Oeste do estado, por Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, no dia 4 de maio.

Além disso, o MP-SC finalizou a denúncia contra o autor do crime ainda nesta sexta-feira, entregue à Justiça.

Premeditação e idolatria por criminosos

Dellazari informa que a denúncia foi dividida em duas partes. A primeira é a premeditação do crime, e o planejamento feito pelo acusado, que teve início há 10 meses.

“Era a idealização de um verdadeiro massacre. Durante o período foi possível ver inúmeros acessos na internet a conteúdos impróprios de extrema violência, discriminação, ódio e matança generalizada”, conta.

Ele ressalta ainda que o denunciado nutria idolatria por criminosos e assassinatos em massa, e o objetivo de matar o máximo de pessoas se conecta com o reconhecimento e fama pelos atos praticados.

Como exemplo, Dellazari destaca que em um fórum da internet, onde o acusado comentou sobre um crime, e que não entendia o porquê da repercussão, já que apenas uma pessoa teria falecido.

Fabiano chegou a pesquisar sobre o retorno das aulas no Estado e no município de Saudades. “Na véspera do evento, em 3 de maio, ele pesquisou especificamente a creche Aquarela, o que denota que ele vinha planejando o ataque, e não foi por acaso. Ele delineou o alvo mais fácil para garantir a ação vil, criminosa, abjeta e covarde”, ressalta o promotor de Justiça.

Segundo Dellazari, o autor também pesquisou na internet diversas vezes sobre armas de fogo, arco e flecha, balestras e armas brancas. Inclusive, contatou diversos fornecedores mas não conseguiu adquirir armas de fogo.

Sem sucesso, ele fez pesquisas sobre massacres em escola cometidos com facas, o que, de acordo com o promotor, denota a premeditação, que o acusado julgou fácil em um ambiente que não era esperado esse tipo de crime.

Dia do crime

Na manhã do dia 4 de maio, Fabiano foi ao trabalho, e no intervalo, por volta das 9h15, foi para a casa, preparou a mochila com as facas, tomou café, pegou a bicicleta e foi até a creche Aquarela, conta o promotor de justiça.

“Ele estaciona a bicicleta e entra no local. As professoras viram ele entrar, mas não estranharam. Ele teve a liberdade de averiguar a creche, e se armou com a faca que estava na mochila”, detalha.

Dellazari destaca que o jovem levava duas facas. Uma delas, de uso militar, e outra para utilização em vegetação densa, ambas consideradas extremamente lesivas.

O promotor relata que neste momento, uma das educadoras vai até o rapaz para perguntar o que ele queria no local. A partir disso, ele inicia o massacre e ataca duas educadoras. Uma delas faleceu no local, e outra mais tarde no hospital.

Ele destaca que uma das professoras sofreu além da conta. Com as vísceras expostas, ela vai em um espaço e fica agonizando até ser atendida e falecer na sequência.

“Depois de golpear e matar as educadoras, ele se dirige para outra sala onde havia bebês com mais três profissionais. Elas estavam cientes do que aconteceu, viram o golpe brutal e ele vem então em direção a porta e tenta entrar, na ânsia de matar a maior quantidade de vítimas possível”, destaca

Fabiano utiliza força física pra entrar na sala, e as profissionais resistem e seguram a porta, impendindo a entrada. Com isso, ele procura outro local por mais vítimas e chega a entortar uma porta de uma das salas, desferindo chutes por uma vidraça na porta, conta o promotor.

“Não conseguindo mais uma vez o intento criminoso, ele pega um caminho no anexo da creche e procura por novas salas e vítimas. Chegando na estrutura ele se aproxima de uma janela, quando uma professora sem saber o que estava acontecendo abre a janela e ele desfere golpes com a faca de 68 centímetros contra ela, que consegue desviar”, explica Dellazari.

Ele conta ainda que o golpe chegou a cortar a máscara que a professora utilizava por conta do coronavírus, e que por pouco, não sofreu ferimentos.

Na sequência, o autor vai até uma sala contígua, e de acordo com o promotor, tem um tom sádico, batendo com a faca nos vidros das janelas do recinto. Após isso, ele se vira e acaba encontrando outra profissional, e retorna às outras salas para matar mais pessoas, relata.

A profissional sai da escola gritando por socorro, enquanto o autor retorna na sala das crianças, que ficaram desassistidas quando a mulher saiu. “Ele se aproveita da situação covarde, cruel e brutal e feriu as quatro crianças. Apenas uma sobreviveu no meio da tragédia”, comenta.

Dellazari destaca que ainda dentro da sala, Fabiano entra na parte anexa onde fica o berçário, e coloca bombinhas para gerar terror e tentar afastar a intervenção de terceiros.

“Vizinhos escutam os gritos nesse momento e entram na creche. Eles vão na sala, quando encontram o denunciado próximo a porta de acesso ao banheiro. Um popular consegue resgatas duas crianças, uma sobreviveu e a outra veio a óbito”, diz.

Os estampidos fazem as pessoas crer que sejam disparos de arma de fogos, e saem da escola por conta do barulho. Na sequência, Fabiano sai da creche e se depara com moradores em maior quantidade, com barras de ferro nas mãos. Ele volta até a sala e começa a se auto lesionar, mas é contido até a chegada do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar.

Denúncia do MP

Na denúncia protocolada pelo MP-SC, dentro dos delitos, o denunciado irá responder por 19 tentativas de homicídio, oito contra adultos e 11 contra crianças.

Destes, cinco são homicídios consumados e 14 tentados, em circunstâncias que qualificam por motivo torpe, cruel e recurso que impediu e dificultou a defesa das vítimas.

Além da multiplicidade dos golpes com que ele atacou as vítimas, a última qualificadora é sobre os recursos que dificultaram a defesa, ressalta Dellazari.

“As crianças estavam no horário de repouso, na ‘hora do sono’. Foram golpeadas em várias regiões do corpo, e inclusive nas costas, denotando a frieza e crueldade em sua essência. E as educadoras foram surpreendidas, não puderam resistir às investidas e uma delas foi golpeada pelas costas”, explica.

Ele comenta que o MP teve cautela na elaboração da denúncia, para não acusar sem discriminar os fatos. Havia 40 pessoas na escola no dia do atentado, mas de acordo com a análise técnica, 19 pessoas tiveram a vida colocada em risco, isto é, tiveram os homicídios imputados na denúncia, após o início do atentado.

Relembre o caso

Na manhã de terça-feira, 4 de maio, o jovem de 18 anos Fabiano Kipper Mai, invadiu a escola Aquarela, e matou três crianças, duas profissionais e deixou uma criança ferida, em Saudades, no Oeste do estado.

Após o crime, ele tentou tirar própria vida. O autor ficou internado até quarta-feira, 12, quando recebeu alta do Hospital Regional do Oeste, em Chapecó.

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