Que tal falar sobre coisas ruins?!
Tocar na ferida, expor ela a seu máximo, até que seja possível olhar para ela sem sentir tanto receio, até que se possa passar a mão, encostar a pontinha do dedo e iniciar os procedimentos necessários para que ela fique limpa e não infeccione. E mesmo que aconteça, que haja pus e que venha a dor: podemos lidar com ela.
Não existe alma viva que desconheça o que chamamos de dor, mas cada um tem seus meios de passar por ela; não são poucos os que a ignoram, tentam fugir das sensações que ela provoca. Se eu estivesse em posição de lhes dar um conselho eu diria: se permitam sofrer!
A vida é tão complexa, cheia de desdobramentos… não faz sentido negar que alguns deles nos fazem chorar. Que alguns não serão prazerosos.
Vamos nos surpreender um pouco: existem pesquisas científicas que apontam que a depressão não é um transtorno, e sim uma característica adaptativa de nosso corpo perante as adversidades. Nosso organismo, antes que nossa consciência perceba, está defendendo-se das complexas questões sociais que vivemos – como uma febre que ataca o vírus e nos defende da infecção, o estado depressivo nos coloca em alerta frente ao problema, nos trazendo foco e melhor capacidade de análise quando algo chega a nos afetar.
Devemos olhar para a depressão como um sinal de força, de que nosso corpo está buscando maneiras de defender-se da dor que lhe acomete, pois, somente aceitando a tristeza e encarando seus motivos é que se torna possível vislumbrar um meio de detê-la e tornar a vida prazerosa mais uma vez.
Eduarda Padoin – Psicóloga Clínica
arte: Silvia Teske