Queda da ponte em 1980: americano tentou avisar prefeito, mas foi chamado de louco
James Crews lembra história 40 anos após ponte Irineu Bornhausen desabar
James Crews lembra história 40 anos após ponte Irineu Bornhausen desabar
A queda da ponte Irineu Bornhausen completa 40 anos neste sábado, 8 de agosto. O acidente aconteceu por volta das 14h30, na mesma data, em 1980.
No total, 13 veículos estavam sobre a estrutura no momento da queda. Felizmente, apesar do susto, ninguém morreu. O trânsito da cidade, no entanto, ficou comprometido.
Somente no ano seguinte, em setembro, é que a estrutura que ruiu foi substituída por uma nova ponte, que mais tarde daria lugar à atual ponte estaiada.
O acidente, porém, poderia ter sido evitado se o prefeito da época, Alexandre Merico, tivesse dado ouvidos ao estadunidense James Thomas Crews Junior.
Crews veio da Carolina do Norte para o Brasil há quase 64 anos para trabalhar como gerente de produção da Souza Cruz. Ele chegou ao país em 1956 e morou alguns meses em Santa Cruz do Sul (RS) e Tubarão, antes de ser transferido para Brusque em 1958. Ele ficou aqui por quatro anos, casou com uma brusquense, e depois foi para Rio Negro, Tubarão outra vez, até voltar definitivamente para Brusque em 1975. Mora até hoje na rua Rodrigues Alves, no Centro.
Ele costumava sair de carro para seus compromissos, mas, naquele 8 de agosto de 1980, decidiu ir a pé para uma reunião no estádio Augusto Bauer, próximo da ponte. Ele fazia parte da diretoria do Carlos Renaux. O encontro terminou por volta das 11h e, quando estava voltando para casa, percebeu algo estranho com a estrutura.
“Quando eu andei uns 10 metros em cima da ponte, ouvi um estalo, uma rachadura. Eu estava a pé e senti que a ponte desceu. Naquela hora, não tinha nenhum carro em cima da ponte, mas tinha uma senhora com uma criança no outro lado da ponte e ela também escutou e saiu correndo. Depois, eu fui atrás dela para pegar o nome dela, a senhora Alzira Lopes Petermann. Ela escutou, ninguém poderia dizer que era mentira”.
Sentindo a fragilidade da estrutura, Crews foi até o lado direito da ponte para conversar com seu amigo médico, o doutor Mattioli. Ele estava sentado na parte de fora e Crews o alertou: “essa ponte vai cair hoje”. O médico não acreditou e disse que o amigo estava louco. “Eu disse que ia cair sim, expliquei o que tinha acontecido, mas ele não acreditou”.
Crews então foi encontrar com um amigo seu, Ross Schlösser, que era dono da Schlösser. O objetivo era interditar a ponte e evitar algo pior.
“Eu disse para ele assim: “Você quer fazer um favor para mim? Vai lá avisar o prefeito Alexandre Merico e pede para ele fechar a ponte, que a ponte vai cair”. Ele foi lá, mas quando falou para o prefeito, ele disse: “Vocês ficaram loucos!”. E não fez nada. Quem eu deveria avisar naquela época era o delegado, porque tinha muita amizade com ele. Ele me disse que se eu tivesse avisado a ele, tinha fechado a ponte”.
Após a tentativa frustrada de convencer o prefeito e depois de conversar com várias pessoas, Crews foi para casa por volta de 12h. Ele avisou sua esposa de que a ponte ia cair. Ela não acreditava. Outra vez foi tachado de louco.
Poucas horas depois, porém, a previsão de Crews se confirmou e a ponte desabou.
“Por sorte, machucou pouca gente se machucou e ninguém morreu. Mas foi avisado. Depois, chegou à tarde, minha esposa estava indo para o Caça e Tiro jogar bolão, e teve a notícia que a ponte caiu. Ela falou: ‘Meu marido avisou, e eu chamei ele de louco’”.
Crews conta que a repercussão da queda da ponte foi muito grande e que repórteres de vários lugares vieram até Brusque para cobrir o fato. O prefeito Merico foi perguntado se não houve nenhum aviso de que aquilo iria acontecer. Segundo Crews, ele disse que não.
“Eles foram até o prefeito, e ele disse que ninguém avisou nada. Alguns anos depois, eu estava nos Correios, e o prefeito estava saindo, e meu genro estava junto comigo. Quando eu entrei, apresentei ele para o prefeito disse, e ele disse: ‘Esse homem que avisou que a ponte ia cair’, mas primeiro ele mentiu, disse que ninguém tinha avisado”, lembra Crews, com bom humor.
Um tempo depois, quando a prefeitura decidiu implodir o que restou da estrutura, a ponte deixou uma última lembrança a Crews.
“Um dia, já tinham tirado os carros fora e eles queria implodir a ponte para tirar os pedaços. Eu peguei meu DKV, subi o morro, e deixei meu carro do lado da delegacia, por causa da explosão que ia ter. Quando explodiu, uma pedra veio e quebrou o vidro do meu carro, que é difícil acontecer isso, né. E eram 350 metros de distância. Não dá para acreditar”, brinca.