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Quem é o menino superdotado de Brusque que entrou na maior sociedade de alto QI do mundo
Com QI de 133, considerado muito superior, André aprendeu a tocar piano sozinho aos 4 anos
André Pianizzer Michei, de 8 anos, passou a integrar a maior e mais antiga sociedade de alto QI do mundo. O brusquense recebeu um laudo positivo para a condição de superdotado. A mãe, Carine Pianizzer Michei, contou ao jornal O Município como foi o processo de identificação e os desafios até a descoberta de suas habilidades.
Com QI de 133, André aprendeu a tocar piano sozinho aos 4 anos. Ele é filho de Carine e Charles Michei. Ela explica que André é o primeiro filho do casal e que, no início, não via nada de diferente no desenvolvimento dele. As primeiras avaliações na creche apontavam dificuldades de relacionamento, mas não de aprendizagem.
“Ele tinha algumas manias, e a gente achava que era coisa de criança. A família do meu marido tem histórico de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), mas nunca pensamos em superdotação. Eu tinha uma visão errada sobre isso, pois muitas pessoas acham que superdotado é aquele ‘geniozinho’ estereotipado”, relata.
No entanto, tudo mudou aos 4 anos, quando André aprendeu a tocar piano sozinho. Ele começou a reproduzir as trilhas sonoras de um desenho que assistia em um teclado de brinquedo. Ainda assim, os pais acreditavam que ele possuía o chamado ouvido absoluto, uma habilidade rara que permite identificar ou reproduzir notas musicais sem referência externa.
“Desde que nasceu, percebíamos uma inclinação musical. Então, sabíamos que ele se interessaria por isso. Sempre foi agitado, mas, quando via alguém tocando um instrumento, podia ficar horas parado, hipnotizado”, lembra a mãe.
Pouco depois, André começou a ler. “Hoje, com o diagnóstico, percebemos que ele já apresentava características de superdotação desde bebê, mas não notávamos”, diz. Muitos dos seus aprendizados foram precoces: com apenas uma ano e meio, ele já soletrava palavras, o que indicava que estava aprendendo a ler.
Algumas características, no entanto, dificultavam sua interação social. “André é perfeccionista e um pouco inflexível. Quando via alguma criança fazendo algo que considerava errado, tinha dificuldade em tolerar. Isso gerava muitos conflitos. Na creche, queria empilhar materiais e, se não conseguia, ou tentava guardar algo em um espaço pequeno demais, ficava nervoso. Além disso, dormia pouco e era muito agitado”, explica a mãe.
A família procurou uma psicóloga, que afirmou que tudo estava dentro da normalidade. No entanto, um diagnóstico de TOC, por exemplo, só poderia ser feito após os 6 anos. Com isso, a busca por respostas foi pausada.
Aos 4 anos, André mudou de escola e passou a enfrentar dificuldades. Mesmo após a fase de adaptação, depois de um ano, os profissionais notavam que as questões de convivência persistiam. “Ele tinha muita dificuldade para ficar sentado e, enquanto os colegas ainda aprendiam a formar sílabas, ele já lia perfeitamente, como um adulto. Isso o entediava”, relata a mãe.
Mais uma vez, procuraram uma psicóloga, que realizou novas avaliações e descartou hiperatividade e autismo. No entanto, na época, a profissional ainda não possuía conhecimentos sobre altas habilidades e, hoje, reconhece que André já apresentava sinais claros de superdotação.
Mesmo assim, as dificuldades sociais continuaram, e ele passou a ser excluído pelos colegas. Foi então que a família procurou uma nova psicóloga, após uma amiga da mãe sugerir a possibilidade de superdotação. Essa busca levou ao Polo de Atendimento Especializado das Altas Habilidades/Superdotação de Balneário Camboriú.
“Lá, tive uma conversa com a coordenadora, que também é mãe de uma criança com altas habilidades. Foi um momento muito emocionante, pois foi a primeira vez que ouvi alguém falar sobre isso e descrever exatamente o comportamento do meu filho”, recorda.
Ela lembra que um dos momentos mais difíceis foi quando organizou uma festa de aniversário para André e apenas quatro crianças compareceram, pois muitos o consideravam “chato”.
“No polo, fomos acolhidos e sentimos um peso sair das nossas costas. Nós nos cobrávamos como pais, a escola se cobrava e, no fim, cobrávamos o próprio André. Quando descobrimos que se tratava de uma condição neurológica, passamos a enxergar e lidar com a situação de outra forma. Grande parte dos problemas dele vinha de um forte sentimento de inadequação e do tédio dentro da sala de aula”, detalha.
Com o diagnóstico, a vida de André ficou mais clara e as dificuldades começaram a diminuir. Hoje, ele recebe atendimento psicopedagógico com uma equipe que inclui uma neuropsicóloga especialista na área. “A nossa reação ao diagnóstico foi de muita emoção. Choramos, sentimos um grande alívio”, conta Carine.
Ela lembra que, antes de descobrirem a superdotação, André chegou a desabafar dizendo que achava que nunca iria conseguir se encaixar. “Ele se cobrava muito, e nós nos perguntávamos: onde estamos errando? O cérebro dele tem fome de conhecimento e nada parece suficiente. Ver nosso filho sofrer, sabendo que ele tem um grande potencial, era angustiante. O diagnóstico foi libertador”, conclui.
Apesar de diversos casos já terem sido registrados no país, Carine percebeu que até entre os profissionais houve dificuldade de identificar as habilidades de André. A mãe chegou a apresentar os laudos para os profissionais com quem o filho consultou e via uma inquietação deles ao enxergarem que havia algo de diferente no menino, mas sem saber exatamente o que seria.
Enriquecimento de habilidades
Um tipo de tratamento para as altas habilidades é o enriquecimento delas, então os professores da escola acabam passando mais conteúdos para André para “matar” essa fome de conhecimento. Outra forma do jovem buscar novas informações é se autodesafiando.
A mãe relembra um momento em que descobriu um tipo de hiperfoco de André. O filho assistia à Galinha Pintadinha e só mudava o desenho quando terminava todos os episódios de todas as temporadas. “As duas principais características da superdotação são a hiperintensidade e hipersensibilidade, o que tem seus lados bons e ruins”, diz Carine.
E ressalta ainda que ela e o marido estão limitando as telas, isso, pois como André tem o costume de pesquisar e se aprofundar em alguns assuntos, por ainda ser muito jovem, não possui um filtro do que é falso e o que é verdadeiro.
Mensa Brasil
Com o diagnóstico de superdotação, André passou a integrar o grupo do Mensa, que reúne outras crianças e pessoas com as mesmas habilidades. Seu certificado foi emitido no dia 21 de fevereiro deste ano. Em Brusque, há pelo menos outros dois membros do Mensa, com condições semelhantes às de André.
A Mensa Brasil é uma sociedade de alto QI que reúne indivíduos com habilidades cognitivas excepcionais. A organização busca promover a intelectualidade, proporcionar um ambiente de estímulo e incentivar a interação entre seus membros.
Lá, grupos se reúnem para estudar sobre diversos assuntos. “Por exemplo, eu quero entrar no grupo de xadrez, lá dentro terão aulas, reuniões, eventos, tudo nesta área de conhecimento”, explica Carine.
A associação aceita pessoas com pontuações no percentual superior a 98, permitindo-lhes acesso a uma comunidade diversificada de pensadores e fornecendo oportunidades para atividades intelectuais, encontros sociais e desenvolvimento pessoal. Carine diz que a busca pelo Mensa surgiu principalmente para buscar os grupos de apoio para que André descubra que existem outras pessoas como ele.
Rotina de atividades
Neste ano, André começou a fazer aulas de tênis no Clube Guarani, onde a família é sócia. A atividade virou o principal hobby do filho. “Está se dando muito bem, ele se sai bem em esportes que necessitam de mais foco. Já em esportes que requerem mais agilidade, como o futebol, ele não é tão bom”.
Conforme a mãe, a principal área estimulada pela família é a da música, “pois o que percebemos, dentro do Mensa e até entre outros superdotados, é que a área da música são poucos que têm. Mas a gente não precisa incentivar, essa é uma vantagem de ter um filho superdotado, se ele gosta, ele não faz mais ou menos. Então o que a gente faz é apoiar ele, ele demonstra um interesse, ele se aprofunda e a gente apoia”.
O maior desafio da família é o de fazer o filho entender que ele é diferente dos outros e buscar um equilíbrio emocional nos seus momentos de estresse.
A mãe diz que a família precisou montar um cronograma de atividades para André. “A gente adota um checklist, pois como ele tem hiperfoco, se ele começar a fazer algo e a gente deixar, ele fica o dia todo naquilo”. Então sua rotina consiste em ir para a escola durante a manhã; ajudar os pais em tarefas domésticas; fazer tarefas da escola; tocar piano, “ele pratica todos os dias”; brincadeiras em ambientes externos e também há tempos para leitura, assistir desenhos e jogar videogame.
Futuro
André tem o desejo de continuar o projeto do pai de produzir vídeos sobre conteúdos relacionados à religião no YouTube e de se tornar cientista.
No bairro São Luiz, Carine conta que está criando um grupo de mães de alunos superdotados. E encerra relatando o desejo de que seja criada uma rede de apoio para o filho e demais pessoas com a mesma condição.
Hoje, o filho integra dois grupos, sendo um do Mensa e outro com superdotados de Brusque e região, que não são do Mensa, mas possuem diagnóstico. Assim, Carine e outros pais buscam junto a prefeitura a criação de um polo de Altas Habilidades e Superdotação (AH/SD).
Colaborou: Luiz Antonello
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