QUEM VAI AO AR PERDE O LUGAR
Existe um antigo jogo infantil denominado: “quem vai ao ar perde o lugar”. Trata-se de uma brincadeira que já foi popular, um divertimento colegial. Repassado pela tradição oral, foi brincado por muitos de nós na infância e funciona mais ou menos assim:
As pessoas que participarem da brincadeira formam um círculo, juntas umas das outras, ombro a ombro.
Do lado de fora fica uma criança, girando em torno da roda. Depois de ter dado algumas voltas em qualquer direção, toca de leve no ombro de um dos companheiros e diz:
– Quem vai ao ar perde o lugar!…
Acabando de pronunciar esta frase, corre rapidamente, na mesma direção em que estava caminhando. O outro, por seu turno, também corre, em sentido oposto.
Se a criança que se achava fora do círculo conseguir alcançar o lugar deixado pela criança que foi abatida, será por essa substituída. Do contrário, terá de tocar no ombro de outra, continuando a brincadeira.
Quando crescemos, aprendemos que aquela brincadeira infantil tem outra versão no “mundo dos adultos”, onde a estratégia do jogo é um pouco mais elaborada do que o divertimento colegial. No dito popular, ela se traduz em um provérbio de amplitude universal que diz: “quem foi ao vento, perdeu o assento”. Metaforicamente, esse provérbio indica que, quem sai para fora, isto é, ao vento, perde o lugar onde estava. E o que isso tem a ver com política?
Você já percebeu que políticos profissionais – mesmo quando impedidos de atuar na vida pública costumam estar por perto, direta ou indiretamente atuantes? Eles sabem que “quem vai ao ar, perde o lugar”. E conjugam esse dito com outro que diz: “não há espaços vazios”. Então, para que ninguém ocupe o seu espaço, ficam por ai… sempre que há oportunidade, inserem na estratégia um terceiro provérbio que diz: “fale bem ou fale mal, mas fale de mim”. Para que a empreitada tenha êxito, utilizam ferramentas de Marketing como o chamado merchandising que, em essência, consiste num conjunto de técnicas responsáveis pela informação e apresentação destacada dos produtos nos ponto-de-venda, de maneira a promover a sua comercialização.
Em política, fora do período eleitoral, costumam vender sua imagem continuamente, porém de forma mais discreta, utilizando propaganda indireta, também conhecida como product placement. Bastante conhecida pelo seu uso em programas televisivos, quando vem embutida em novelas, seriados e programas de auditório, a propaganda pode estar inserida de três maneiras: verbal, visual e integrada. A forma verbalé quando a marca é falada na história. Na forma visual, o produto é mostrado apenas visualmente, sem diálogos, com o nome da marca ou do produto. E na forma integrada de product placement o produto é inserido dentro da trama, como parte integrante de algo que se passa com os personagens.
Aparecer em mídias sociais, ter seu nome mencionado em jornais, ser tema das conversas de bar e no cafezinho também é uma forma de merchandising bastante almejada pois representa mídia espontânea. Pela combinação das metáforas “quem foi ao vento, perdeu o assento”, “não há espaços vazios” e “fale bem ou fale mal, mas fale de mim”, cuidam de estar vivos no consciente coletivo do possível eleitorado. E, assim como se diz que criança que brinca não pensa besteira, políticos profissionais cuidam de manter a cabeça do eleitor ocupada…afinal, é uma forma de garantir que uma nova liderança política não se crie por ali.