Floresta Urbana: Rastejando pela sobrevivência

Com a eliminação destes animais nas cidades, mariposas e borboletas estão ameaçadas

Floresta Urbana: Rastejando pela sobrevivência

Com a eliminação destes animais nas cidades, mariposas e borboletas estão ameaçadas

lagarta 3Pequenas, lerdas e de aspecto feio, as lagartas costumavam viver nas florestas, mas, com a expansão desenfreada do homem, cada vez mais aparecem nos meios urbanos. O problema é que pouco podem fazer contra a ação humana – o bugio, por exemplo, pode fugir e lutar – e por isso sua população está cada vez mais ameaçada. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) colocou nada menos que 63 espécies de borboletas na sua lista de animais ameaçados de extinção em 2014. Sim, as feias lagartas tornam-se mariposas e borboletas, algo pouco lembrado pelas pessoas.

Em Brusque, apenas nesta época do ano, quando elas saem para, em breve, virar casulo e então borboletas, já há alguns relatos de infestação de lagartas. Maria Inês Seman, moradora do bairro Steffen, conta que há poucas semanas apareceram várias lagartas na sua residência. Elas começaram a comer descontroladamente as plantas de Maria. “Comeram minhas orquídeas, meu pé de rosas e também hortelã, salsa, tomate e tomilho”, diz.

Lagartas invadiram a casa de Maria Inês Seman, no bairro Steffen / Foto: Acervo pessoal / Maria Inês Seman
Lagartas invadiram a casa de Maria Inês Seman, no bairro Steffen / Fotos: Acervo pessoal / Maria Inês Seman
Os bichos comeram as plantas em pouco tempo
Os bichos comeram as plantas em pouco tempo

A moradora acredita que a infestação tenha ocorrido porque atrás da sua casa tem um matagal. São tantas, que Maria tentou acabar com as lagartas na base da chinelada e apelou para os venenos. Semanalmente, ela passa inseticida nas plantas, mas ainda assim não vence.

Em outra região da cidade, também perto do mato e de um riacho, no Águas Claras, Márcia Mendes de Brito Cosmo conta que nas paredes da garagem da sua casa tem muitas lagartas. Faz dois meses que apareceram e ela nunca tinha visto tantas de uma só vez. A preocupação de Márcia é que os três cachorros que ela possui acabem engolindo algumas delas. Assim como Maria, ela tenta se livrar das taturanas, mas não consegue dar conta.

Por último, no Nova Brasília, próximo de uma área com mato, Luana Souza reclama também dos bichos. “São muitas, até no banheiro”, diz ela. A preocupação de Luana é uma só: que sua filha acabe colocando algumas delas na boca. “Fiquei muito assustada”, diz.

De modo geral, as lagartas não são perigosas. “Não necessariamente precisamos nos preocupar. Uma boa parcela de lagartas e taturanas não são de interesse médico, não causam dano. Mas existem, sim, algumas espécies que precisamos observar, como a Lonomia, que pode causar dano grave”, diz o biólogo Rodrigo de Souza, que também é coordenador do parque Zoobotânico de Brusque.

A princípio, a maior probabilidade é que as lagartas não causem problemas para os residentes nas casas citadas nesta reportagem. Talvez alguma irritação na pele. Porém, Souza lembra que podem acontecer acidentes com animais que não estão acostumados a conviver com insetos, como os cachorros criados dentro de casa.

O fiscal da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema), Maicon Eder lang, diz que são raras ocorrências deste tipo que chegam ao conhecimento do órgão. A última que ele lembra ocorreu há cerca de dois anos, no bairro Dom Joaquim, sem vítimas. A Fundema não faz o recolhimento destes animais.

[accordion][acc title=”Causa e consequência”]

Souza explica que o motivo dessas infestações é, também, a invasão, pelo homem, do habitat das lagartas. Elas costumavam viver nas matas, mas agora há pouca floresta, quase tudo é concreto e prédios. Trata-se, então, de uma retomada, e não de uma  invasão.

 

Diferentemente de outros bichos rastejantes, as lagartas não buscam áreas de mata densa. O gramado de  casa já é suficiente para que elas possam se alimentar à espera de virar uma borboleta ou mariposa. Aliás, assim como outros animais, elas gostam das casas porque são ambientes protegidos dos predadores, quentes e úmidos.

 

Evidentemente, as lagartas são um incômodo, mas é preciso aprender a conviver com o meio ambiente para não desequilibrá-lo ainda mais, e o ideal é não matá-las. Em várias regiões do planeta, as borboletas estão ameaçadas de extinção ou, em alguns casos, sumiram, muito em função do desmatamento das áreas onde viviam os animais e da facilidade com que são mortos quando os homens deparam-se com eles. A consequência da predação humana é grave para o meio ambiente, pois as lagartas são ricas em proteínas e importantes na dieta de aranhas, vespas e outros predadores. Estes, por sua vez, fazem parte da dieta de outras espécies. A natureza é totalmente interligada.

 

As lagartas, embora pequenas e muitas vezes esquecidas, são igualmente afetadas pelo crescimento desordenado das cidades. No meio urbano, tentam sobreviver, mas a ação humana e a poluição são obstáculos na luta pela sobrevivência.[/acc][/accordion]


A Temida Lonomia

A Lonomia, também conhecida na região como bicha cabeluda, é a exceção das lagartas. Esta espécie é extremamente venenosa e deve-se evitar o contato a todo custo. Após ter tocado nela, os sintomas que podem aparecer são: dor, inchaço, mal-estar, náuseas, vômito, dores nas articulações e, em menor escala, dores abdominais. Ainda podem haver hematomas e bolhas de sangue por causa de hemorragias embaixo da pele. Também pode ter sangramento no nariz. Ela é tão venenosa que, se a pessoa não for socorrida a tempo, pode morrer.

A recomendação dos órgãos de saúde é que, mesmo sem os sintomas aparentes, em caso de contato acidental a pessoa colete o bicho e procure assistência médica imediatamente. Nas épocas quentes são registrados mais acidentes.

A Lonomia – que tem em média sete centímetros de cumprimento – costumava viver em árvores como o cedro e ipê, mas com o desmatamento foi também para árvores frutíferas como o abacateiro, ameixeira, pereira e o pessegueiro.
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