Reconstrução após enchente de 2008 foi marcada pela união de diversos setores de Brusque
Nova cheia abriu os olhos da cidade para a importância de obras de infraestrutura e da Defesa Civil
Em 72 horas, choveu em Brusque naquele novembro de 2008, entre 200 a 400 milímetros, o equivalente a três meses de chuvas. O resultado não poderia ser diferente. Muitos estragos e a sensação de impotência diante da força do rio Itajaí-Mirim.
A água invadiu casas, empresas, ruas, destruiu estradas e deixou praticamente a cidade inteira sem luz e água encanada. Os brusquenses viviam, mais uma vez, em meio ao completo caos.
A história parecia se repetir, mas desta vez, com um agravante: os deslizamentos. Até então, as chuvas intensas registradas na cidade resultavam nas inundações. Porém, a partir de 2008, Brusque começou a sentir também os efeitos dos desmoronamentos de forma mais intensa.
A água invadiu casas, empresas, ruas, destruiu estradas e deixou praticamente a cidade inteira sem luz e água encanada. Os brusquenses viviam, mais uma vez, em meio ao completo caos
Foi assim que a tragédia de 2008 fez uma vítima fatal na cidade. André Alexandre Bittencourt, 28 anos, morador da localidade Cerâmica Reis, não resistiu à força do deslizamento de uma encosta que atingiu sua residência e morreu no sábado, 22 de novembro.
Diversas regiões do município registraram pontos de deslizamentos. Quem não foi atingido pelas águas, foi pelos desmoronamentos de terra. Abrigos em todos os bairros da cidade foram montados para atender as famílias desalojadas, num momento de muita tristeza e fragilidade.
Na época, 100 residências foram interditadas por deslizamentos. Cinco pessoas ficaram levemente feridas. O município contabilizou ainda 300 desabrigados e 160 desalojados.
O prefeito da época, Ciro Roza, decretou estado de calamidade pública para conseguir recursos para a reconstrução da cidade o mais rápido possível.
Paulo Eccel, que um mês antes da enchente foi eleito prefeito, precisou mudar tudo que havia planejado para o início de seu mandato. “Todo o planejamento que nós tínhamos para iniciar o governo foi radicalmente transformado pela realidade”, diz.
O ex-prefeito diz que esse sentimento de união motivou a criação de uma nova festa na cidade, a Felicità.
A gente andava pela rua e via grandes empresários com a mão na massa, comandando caminhão de limpeza, de entulho. A cidade estava unida
“Vejo que foi um marco na reconstrução da cidade. A gente sabia que os problemas continuavam, que ainda tinha barro dentro das salas, cozinhas, quartos das pessoas, mas pensamos que criar um novo evento, bastante familiar, daria ânimo para as pessoas”.
A festa, que homenageava as diferentes etnias que colonizaram a cidade, teve sua primeira edição realizada em abril de 2009 e seguiu até 2015.
“Lembro como se fosse hoje. Aquele início de 2009 foi terrível, a cidade ainda não tinha se recuperado da grande enchente, e todo final de dia dava uma chuva daquelas de alagar tudo. No dia 25 de janeiro de 2009 recebi uma ligação de Brasília. Era o governo federal chamando os prefeitos aqui do Vale do Itajaí para uma reunião para discutir as catástrofes”.
Eccel lembra que foi para a reunião com a missão de até o dia 10 de fevereiro apresentar um projeto de obras de drenagem na cidade. “Não existia projeto nenhum disso na cidade. Tivemos que a jato buscar apoio de diversos profissionais para elaborar as linhas gerais do PAC”.
De acordo com ele, a base para o projeto de macrodrenagem na cidade foi as reportagens que saíam na imprensa de Brusque apontando os principais pontos de alagamento.
“Vejo que aquela crise trouxe essa transformação em obras de infraestrutura para Brusque”, diz. “É uma obra de transformação, de infraestrutura, que vai além de um governo, ela pensa a cidade pra frente, as obras de macrodrenagem foram pensadas a cidade para os próximos 50 anos”, completa.
As obras do PAC iniciaram em 2010. Foram anunciados projetos para 14 bacias em diferentes regiões da cidade. As obras, apesar de necessárias para resolver problemas históricos de alagamentos em vários pontos de Brusque, também trouxeram vários transtornos.
Atrasos, trocas de empresas, problemas estruturais e de solo foram alguns dos problemas enfrentados pela prefeitura para a realização da macrodrenagem.
Ao longo dos anos, foram concluídos os PACs da rua São Pedro, Bateas, Steffen, Paquetá, Azambuja, Santa Terezinha, Limeira e Poço Fundo. A macrodrenagem de parte do Centro também foi realizada. O PAC Nova Brasília teve diversos problemas, e foi concluído parcialmente.
Apesar dos transtornos causados pelas obras, – muitas levaram anos para serem finalizadas -, pontos da cidade que tinham histórico de alagamentos com enxurradas e que receberam a macrodrenagem hoje já não sofrem com esse problema.
Depois de 2008 foi realizado concurso público na Prefeitura de Brusque para a contratação de agentes de Defesa Civil. O órgão, que dividia um espaço no quartel do Corpo de Bombeiros, foi para um novo local, na rua Manoel Tavares, no Centro.
Assim como em Brusque, a Defesa Civil estadual também se desenvolveu após a enchente de 2008. Antes, o órgão se limitava a apenas registrar as ocorrências do estado e, a partir de então, começou o processo de modernização, com ações efetivas de prevenção e auxílio aos municípios.
Essa evolução iniciada a partir de 2008 seguiu nos anos seguintes tanto em Brusque quanto no estado, até o trabalho que é realizado atualmente.
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