Redução da violência exige participação familiar, defendem especialistas em fórum
Corregedor-geral do MP-SC participou de evento com outras autoridades em Brusque
Corregedor-geral do MP-SC participou de evento com outras autoridades em Brusque
O aumento da violência na sociedade e em Brusque foi debatido em evento realizado pelo Grupo de Proteção da Infância e Adolescência (Grupia) na manhã desta quinta-feira, 8. O “Fórum sobre a superação da violência” trouxe o corregedor-geral do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), Gilberto Callado de Oliveira, ao município para tratar do tema.
Conduzido pelo presidente do Grupia, Paulo Kons, o evento reuniu diversas autoridades ligadas à segurança pública. Estiveram presentes o comandante do 18º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Moacir Gomes Ribeiro; o delegado Wesley de Sousa Costa, da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami); dois promotores de justiça da Comarca de Brusque e o juiz da Vara Criminal, Edemar Leopoldo Schlösser.
A conclusão geral, entre os vários pontos de vista apresentados, é que a redução da violência na sociedade perpassa pela educação e pelos valores familiares. Somente com a participação ativa dos pais na orientação e correção dos filhos é que as próximas gerações terão mais respeito às leis.
O corregedor do MP-SC proferiu palestra para abrir a discussão no Fórum. Com vasta experiência jurídica, Oliveira considerou a lei branda com os criminosos e pouco protetora dos cidadãos de bem.
Para Oliveira, é importante discutir a violência porque, hoje, é o principal assunto na sociedade brasileira. Segundo ele, em 2017, foi feita uma pesquisa em Santa Catarina na qual foi perguntado o que mais preocupava o cidadão. Sete a cada dez respostas foram segurança pública.
Para Oliveira, a ficção na qual uns matam aos outros sem pudor pode transformar-se em realidade, se nada for feito. Para o corregedor, que já participou de eventos sobre os valores familiares e cristãos em Brusque, uma das chaves para o avanço da criminalidade é o desmonte da família.
Oliveira considera que o aborto legalizado e a ideologia de gênero desconstroem a entidade familiar. “O aborto é um terrível inimigo da família”, disse. “Ideologia de gênero é uma psicopatia”, completou.
Além da desconstrução da unidade familiar, Gilberto Callado de Oliveira também disse que as leis são muito lenientes. Ele fez reflexão, por exemplo, sobre a Constituição Federal de 1988. Ela prevê uma série de direitos humanos, segundo o corregedor, incluídos demasiadamente na carta magna porque os deputados constituintes eram escaldados da ditadura militar.
“Ora, tiveram a mesma preocupação [direitos] com o cidadão honesto?”, questionou. “Arrisco-me a dizer que a Constituição de 1988 é a desgraça do país”, afirmou o procurador de Justiça e corregedor-geral do MP-SC.
“Vemos os políticos querendo fazer remendos, improvisos. Mas a solução é estrutural, a começar pela Constituição”, afirmou Oliveira.
Processos
O juiz Edemar Leopoldo Schlösser, que atua na área criminal, traçou um panorama do tamanho do problema. Atualmente, são 6,5 mil processos criminais, e outras 1 mil execuções penais.
Para Schlösser, os números representam o quão grave é a questão da criminalidade. A solução, para ele, passa pela aplicação de leis rígidas. O magistrado criticou o “habeas corpus coletivo” dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No dia 20 de fevereiro, o mais alto tribunal da nação julgou um habeas corpus que pode beneficiar 4,5 mil presas pelo país. De acordo com a decisão, mães com filhos de 12 anos presos provisoriamente (não condenada ainda) pode passar para o regime aberto. Também têm direito gestantes e mulheres cujos filhos são deficientes.
“O juiz, além de não soltar, tem que explicar por quê mantê-la presa”, afirmou Schlösser. “Temos várias leis criadas para facilitar a criminalidade”, comentou. Ele defendeu uma mudança no sistema penal, para que tenha mais efeito em coibir atos violentos de toda natureza.
Valentim Hodecker, da Defensoria Pública de Santa Catarina em Brusque, frisou que as leis já existem, mas não são cumpridas. Para ele, se o Estado cumprisse o que já está na legislação – como a Lei de Execuções Penais -, seria um grande avanço.
Hodecker citou outro exemplo o direito à Educação. Quando uma mãe quer deixar o filho na creche para trabalhar, nem sempre consegue vaga. Isso a coloca numa condição de incapacidade que pode levar à vulnerabilidade financeira.
“A gênese da violência está nos mais elevados extratos da nação”, declarou o defensor público. Ele defendeu que o Estado não cumpre o seu papel por falta de dinheiro. Disse, ainda, que não há verbas por causa da corrupção que atinge a alta classe política.
Rodrigo Cunha Amorim, titular da 6 ª Promotoria de Justiça (PJ), deu como exemplo de ineficiência do governo os residenciais populares em Blumenau e os morros em Florianópolis, onde a polícia só entra com uma grande operação.
Cristiano José Gomes, titular da 4ª PJ, que atua na área criminal, destacou o papel das mães e dos pais na educação dos filhos. Ele refletiu que os problemas sociais são importantes, mas que a base familiar pode evitar que uma pessoa vá para o mundo do crime.
Educação
A secretária de Educação de Brusque, Eliane Buemo, informou que a pasta passará a trabalhar minimamente com a Base Nacional Comum Curricular, mas ponderou. “Vamos resgatar o que é tradicional, não ultrapassado”, disse.
A secretária também afirmou que não há como zerar a fila da creche porque pessoas nascem todos os dias. Segundo Eliane, é preciso que exista participação das famílias e que entendam que a escola é local de conhecimento.
Mapa da violência
O tenente-coronel Gomes apresentou os números da atuação policial na cidade. Ele ressaltou que Brusque é o município mais seguro do estado. De acordo com o comandante, os bons indicadores o penalizam.
“Somos prejudicados por este mérito”, afirmou, referindo-se ao que fato que o número de homicídios é levado em conta para a distribuição de efetivo pelos batalhões.