GALERIA – Relembre a história da caleça, carroça funerária que levava os mortos até os cemitérios de Brusque
Estrutura foi criada para auxiliar no transporte dos caixões, que antes eram carregados a pé
A caleça foi o primeiro carro funerário em Brusque que atuou durante anos levando os mortos das suas casas até os cemitérios luterano e católico. A estrutura surgiu entre as décadas de 20 e 30 e chamava atenção por onde passava.
A estrutura era uma carroça puxada por dois cavalos e comandada por Rodolfo Pruner, dono do item. Ela foi apresentada para comunidade com a seguinte frase: “quem ia não via, quem via não queria ir!”
A procissão da caleça ocorria da casa do falecido até a igreja e, posteriormente, até o cemitério. Quando passava pelas avenidas centrais, como a Cônsul Carlos Renaux, as lojas fechavam as portas como sinal de respeito aos familiares e amigos enlutados.
De acordo com a historiadora e coordenadora do Museu Casa de Brusque, Luciana Pasa Tomasi, o carro funerário funcionou até a década de 70, quando foi substituído pelos veículos motorizados. O item pertencia à funerária São José.
Cortejo pelo Centro
O historiador Celso Deucher comenta que antes da criação da caleça, as pessoas carregavam os caixões da casa do falecido até o cemitério. Alguns trajetos tinham de cinco a dez quilômetros. “Era feito o velório na sala da casa e as pessoas saiam no cortejo levando o caixão a pé pela estrada”, explica.
A caleça veio para auxiliar neste momento. Além disso, ela foi projetada em respeito ao falecido, pois a pintura e as cortinas eram pretas, assim como os cavalos que puxavam a carroça.
“O cortejo parava o Centro da cidade. Era a última viagem do cidadão da casa dele até o cemitério. Todo mundo sabia que quando falecia passaria por isso”.
Ele recorda que antes mesmo da invenção da caleça, quando o cortejo passava pelo Centro de Brusque, o comércio fechava as portas e os funcionários se deslocavam para o lado de fora em respeito ao falecido, tradição que se manteve após o surgimento da carroça. A multidão acompanhava em silêncio a última viagem do brusquense.
Celso também comenta que na época, como a cidade tinha uma população menor, a maioria das pessoas conhecia quem era carregado pela caleça.
Avanço da modernidade
Segundo Celso, a caleça foi sendo deixada de lado com o avanço da modernidade e com o surgimento dos automóveis maiores e próprios para carregarem o caixão. No entanto, como era uma novidade, o carro custava mais e por isso só as pessoas mais ricas realizavam o cortejo com o automóvel. As pessoas mais humildes ainda usavam a caleça e acompanhavam a pé.
“Ela representa uma época onde tínhamos uma população pequena, mas que tinha um ritual para terminar a vida na Terra. A caleça era extremamente necessária, representava a última volta e passagem na vida. A pessoa passava pela cidade onde nasceu e fazia a última viagem ali. Fazia parte da cultura, do próprio costume e respeito aos mortos”, ressalta.
O historiador ainda acrescenta que o cortejo pelo Centro era como “o último suspiro” do falecido, mas esse cerimonial se perdeu com a modernidade.
Exposta no museu
Tem quem diga que a última viagem realizada pela caleça foi no enterro do Padre Klein. De acordo com Luciana, os dias que antecederam a morte do pároco foram de muita chuva. Na época já existiam os carros funerários, mas devido às condições da pista após a chuva, o veículo não conseguiu subir o morro para levar o caixão e foi necessário utilizar a caleça.
O item chegou ao Museu Casa de Brusque poucos anos após a abertura do espaço. Luciana acredita que a estrutura chegou depois de realizar o último velório. O item é grande e ainda está exposto para visitação.
Segundo a coordenadora do museu, após a reforma realizada na Casa de Brusque, o item continuou na exposição. “Foi feita uma reforma no espaço e por ser muito grande, ela continua ali exposta no museu”, explica.
Ela destaca que as cortinas, os detalhes e toda a estrutura são originais. Segundo Luciana, a caleça ainda não passou por nenhum tipo de intervenção, restauração ou reforma.
Veja agora mesmo!
Costureiro da República Dominicana conseguiu emprego em Brusque em três dias: