Relembre a chegada do celular a Brusque há 30 anos
Primeiros aparelhos foram adquiridos no município um ano antes do sinal ser estabelecido, em 1994
O primeiro celular do Brasil foi lançado em 1990. Era o modelo Motorola PT-550, que foi vendido inicialmente no Rio de Janeiro e logo depois em São Paulo. Entretanto, foi só entre 1992 e 1993 que os primeiros telefones celulares chegaram a Brusque.
Na época, eles eram trazidos por vendedores de fora, que vinham até o município oferecer os aparelhos. Aos poucos, a tecnologia foi atraindo a atenção de empresários locais.
Apesar de ser uma grande novidade, o celular não era tão funcional no interior, pois não havia sinal. Era essa a situação da região brusquense, por exemplo, de acordo com o historiador Celso Deucher.
Ele recorda que comprou um celular no início da década de 1990, junto com outros dois empresários. Segundo Celso, um vendedor do Paraná chegou ao município vendendo três aparelhos da Philips.
“A gente nem sabia o que era aquilo. Na época, ficamos na mão por quase um ano, pois não tinha sinal. Pensamos em devolver os celulares, mas o cara sumiu do mapa. Eu fiquei com um celular para o meu jornal na época, que era semanal”, conta.
Celso recorda que demorou por volta de um ano e meio para ser montada a primeira antena no município. No início, o sinal pegava apenas próximo do Centro. Já em outros locais da cidade o sinal não chegava, o que impossibilitava fazer uma ligação comum no dia a dia.
Ao longo dos anos, o sistema de telefonia móvel melhorou aos poucos. “Fiquei com o celular por 10 anos, era um facão praticamente. Mandei fazer uma cinta especial e um invólucro de couro, andávamos de um lado para o outro, e nem funcionava. Quando íamos para Itajaí, aí pegava”, diz.
Em maio de 1993, o jornal O Município publicou na capa o anúncio de que a cidade teria a tecnologia. A matéria informava que, conforme a chefia de Divisão Comercial da Telesc, que operava a telefonia do sistema Telebras no estado, seria instalado em Brusque o sistema de telefonia celular até novembro daquele ano.
“Uma avançada tecnologia, que além de estar beneficiando, atenderá o anseio da população”, aponta o texto.
Conforme a matéria, o projeto era de urgência e visava levar o sistema, que já funcionava em Florianópolis, para as principais cidades de Santa Catarina. Além disso, a reportagem do jornal aponta que até aquele momento o sistema próximo de Brusque levava o sinal até o alto do morro da Claraíba, no limite com Nova Trento.
“Tão logo se faça a instalação da antena de transmissão localizada junto às da Embratel no Brilhante, a população brusquense terá o sistema à sua disposição”, anuncia a matéria.
Sistema implantado
Segundo a reportagem, Brusque passava por uma escassez de telefonia fixa em 1993 por causa da expansão do parque comercial e industrial da cidade. Considerada caótica, a situação fazia com que não houvesse nenhum telefone disponível, nem de reserva técnica.
“Caso uma empresa necessite com urgência de um telefone em Brusque, somente recorrendo ao mercado negro, onde os preços variam em média entre Cr$100 e 130 milhões, fora as linhas congestionadas que dificultam as ligações”, aponta. “A população ficará na espera de que o novo sistema a ser implantado, venha suprir estes problemas inaceitáveis. Outra boa notícia é o preço, que deverá ficar em cerca de US$ 600,00, incluindo o aparelho”, complementa.
Apesar da expectativa para o final daquele ano, foi apenas em 26 de maio de 1994 que ocorreu a inauguração do sistema de telefonia celular móvel em Brusque. O evento foi realizado onde era a sede da Telesc no município.
Conforme publicação no jornal O Município, foram disponibilizados 250 canais naquele momento. No estado, 30 municípios já constavam com o sistema implantado.
Uso do celular
Após a instalação da antena, o uso do celular começou a se popularizar. Representantes da Motorola passaram a aparecer em Brusque para vender os aparelhos. Inclusive, começaram a surgir anúncios para venda dos aparelhos no jornal.
Na época, os empresários Osmar Crespi, conhecido como Maru, Newton Patrício Crespi, conhecido como Cisso, e o advogado Cambises José Martins compraram o aparelho PT-550 da Motorola.
Cambises recorda que muitos vendedores autônomos traziam os aparelhos do Paraguai. Eles também explicavam sobre o funcionamento e a tecnologia impressionava os clientes, principalmente por ser móvel.
“O celular era muito grande e pesado. Tinham outras marcas, mas a Motorola era a melhor. Quem tinha era uma beleza, você colocava na cinta parecia ser uma arma. Era uma coisa interessante, na época dava a impressão de que a pessoa era bem-informada”, pontua.
O advogado também relembra que o valor dos celulares era muito alto. O preço, em tempos atuais, seria o equivalente a R$ 15 mil. “Eu consegui comprar, mas eu não era rico, e aquilo era só para rico de tão caro que era. Na época, inclusive, tive a ajuda do sr. Maru, que me emprestou dinheiro para me ajudar a comprar o telefone”, salienta.
Cambises lembra que, no começo, a tecnologia não funcionava muito bem. “Às vezes você até tinha que marcar hora, para falar à tarde ou de manhã. Colocavam antenas grandes nos morros, tínhamos que ir aos lugares altos e mais aberto para usar. Era um negócio interessante”, finaliza.
Evolução
Em 1996, surgiu o celular Motorola StarTAC, bem pequeno, ele abria e fechava. Era a febre do momento entre os consumidores e marcava a popularização do telefone no Brasil.
No final dos anos 90, a marca que dominava as vendas era a Nokia. Também tinha o Motorola que contava com o icônico jogo da cobrinha.
A história do celular teve alguns marcos. Nos anos 2000, vieram os primeiros com câmara. Dois anos depois, chegava o Blackberry, este revolucionou o mercado, já que podia enviar e-mail. O dispositivo já não servia apenas para mandar mensagens ou ligar, ia além.
O tempo passou e chegamos a 2007. Nos Estados Unidos, apareceu o Iphone, outro marco da telefonia celular. E ali começou a despontar a diferença entre o sistema da Apple e o operacional Android. Agora, o Brasil inicia a implantação da tecnologia 5G de internet móvel.