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Religiosos de Brusque e região refletem sobre significados da Quaresma em tempos de quarentena

Semana Santa acontecerá neste ano de forma totalmente diferente dos anteriores

O dia em que a terra parou. Lançada em 1977, a música de Raul Seixas representa de forma simples o período de quarentena vivido no momento. A maior parte das pessoas reclusas. Muitas enfrentam a escassez, e apenas o essencial é adquirido. Há aqueles vivem melhor e compartilham o que tem com os que precisam mais. As preocupações estão no pensamento de todos.

Apesar dos obstáculos, conforme a tradição religiosa, o momento é de proteção e recolhimento. A Semana Santa deste ano está diferente, sem as celebrações presenciais que marcam o período, mas que serão transmitidas online. Sobre toda essa mudança, O Município conversou com alguns padres e pastores de Brusque e região, que refletem sobre o momento. 

Para o pároco da Paróquia São José, Paulo Vanderlei Riffel, “esta Semana Santa faz com que vivenciamos a experiência da igreja doméstica, como jamais antes tenha sido para as famílias. Devemos rezar e acompanhar os mistérios pascais dentro da própria casa, seja rezando o santo terço, acompanhando a santa missa pelas redes sociais ou televisão, mas também vivenciando um diálogo entre pais e filhos, sabendo cultivar um ao outro no amor, com a experiência de Deus”.

É comumente dito que o significado da fé é acreditar naquilo que não se vê. O pároco Diomar Romaniv, da Paróquia São Luís Gonzaga, relaciona o período com o momento reflexivo, de interiorização e silêncio contemplado na Quaresma. O pároco acredita que esse momento faz com que estejamos perto das pessoas que importam: “muitos me diziam, ‘padre, não tenho tempo para os meus filhos’, e a casa é o local que geralmente se constrói com carinho e que às vezes menos se fica”.

Ele destaca que o atual pensamento deve ser de esperança: “na história da humanidade passamos por tantas situações difíceis e com a ajuda de todos nós, conseguimos superar e recomeçar. Esse é um tempo para isso também, lembrar que a minha ajuda, a minha contribuição, minha parcela, acaba somando num todo”. 

Os pastores da Paróquia Luterana Bom Pastor, Cláudio Schefer e  Edélcio T. Tetzner, lembram que no tempo de Páscoa é celebrada a vida e a vitória sobre o mal e a morte através da ressurreição de Jesus Cristo.

“Esta mensagem da ressurreição, da vida nova, poderosa, incorruptível e eterna, vem ao encontro do anseio mais forte e profundo de tudo que vive: banir a morte e aperfeiçoar, salvar, prolongar, reproduzir, perpetuar a vida. Temos a certeza de que a realidade de Deus é mais forte que a morte, razão pela qual esperamos em que faça nova criação e dê nova vida ao ser humano”, afirmam.

Eles também ressaltam que não se deve deixar de lado a participação, a oração conjunta e estar em comunhão com toda a igreja do mundo inteiro, ainda que seja através de mensagens impressas, vídeos e áudios pelos diversos canais de comunicação. Além disso, fortalecer os vínculos familiares nestes tempos de isolamento social, mas tempo de aproximação com a família e desta com Deus.

Os pastores aproveitam para lembrar de uma antiga e sempre atual saudação para o Tempo Pascal que resume, em poucas palavras, à fé dos cristãos.

O reitor do Santuário Santa Paulina, padre José Napoleão Laureano dos Santos, conhecido como padre Napoleão, reflete que o país passa, é algo inesperado, “e sempre aquilo que chega sem que seja avisado, nos desinstala. Nós somos um tanto quanto propensos a ficar acomodados. Eu olho o fato que estamos vivendo como uma ocasião para nos buscarmos alternativas. Creio que essa situação de ficarmos em nossos lares nos ajudou a repensar algumas situações. Não que o comprar não seja bom, mas percebe que neste período quantas coisas nós sentimos que não precisamos ter e conseguimos passar com certa serenidade.”

Padre Napoleão acredita que a situação inesperada faz as pessoas pensarem de uma maneira diferente. Para ele, depois de uma provação há sempre um crescimento, e ressalta que “diante de cada desafio nós nos sentimos depois muito mais amadurecidos, veja, de forma nenhuma estou dizendo que foi bom que essa situação acometeu quantas pessoas, não, mas nós podemos aprender com ela, pois tudo aquilo que chega, passa”.

Ele também pede que “nós consigamos olhar para além da pandemia, olhar de uma maneira nova os acontecimentos que nos rodeiam”.