Ribeirão de Porto Franco
Como ribeirão é um afluente do rio Itajaí Mirim. Nasce na “Reserva da Canela Preta”, desliza mansamente pelo vale estreito, em dias normais. Em dia de fortes trovoadas, torna-se valente e faz os seus estragos. Como localidade, Ribeirão de Porto Franco, é uma estrada ou bairro, em parte, como perímetro urbano e o mais com […]
Como ribeirão é um afluente do rio Itajaí Mirim. Nasce na “Reserva da Canela Preta”, desliza mansamente pelo vale estreito, em dias normais. Em dia de fortes trovoadas, torna-se valente e faz os seus estragos. Como localidade, Ribeirão de Porto Franco, é uma estrada ou bairro, em parte, como perímetro urbano e o mais com pequenas propriedades de alguns alqueires. Estas propriedades particulares são as remanescentes dos lotes adquiridos pelos primeiros emigrantes, provindos do Norte da Itália. A maior parte deles era da Província de Bérgamo, outros de Crema ou Mántua. Mas, o dialeto italiano comum, nas conversações era o Bergamasco.
Foi, nesta verde e bela localidade da Mata Atlântica, que os meus avós paternos compraram seu lote. É bom lembrar que, nesta época, ainda estavam presentes certos grupos de índios. Inclusive, em frente onde construíram a casa, havia o local onde por muitos anos havia funcionada a ocara dos índios. Pois, havia um círculo com diâmetro razoável, onde os índios fizeram por muitos anos as suas fogueiras domésticas. A terra cota e carvões sempre apareciam quando o arado passava.
Aí, nesse lote de 300m de frente por 1000m de fundo, os meus avós criaram seus nove filhos. Meu pai, José casado com Rosa Maestri, era o caçula. Herdou por isso a casa e a obrigação de cuidar dos pais, como era hábito na cultura bergamasca. Todavia, a propriedade foi reduzida, pois mais dois irmãos também tiveram seu espaço. Com essa pequena propriedade, porém, conseguiu dar educação para os seus 11 filhos. Um foi acometido, com apenas três meses de vida, de poliomielite e não resistiu. Eu nasci logo após esse desaparecimento e sou o penúltimo.
É, nesse ambiente ecológico e sadio, que vivi minha infância e o início de minha adolescência. Em contato direto e permanente com a natureza. Onde o trabalho na “roça” (como era o modo de falar da época) e as tarefas domésticas, conjugados com a escola (que era ao lado da Igreja Matriz, no centro da vila\distrito do Município de Brusque), com as “brincadeiras” com os vizinhos nos pastos da propriedade, em animadas peladas de futebol com bolas improvisadas e com as habituais participações na e da vida da Igreja. Assim, vivíamos e crescíamos, neste ambiente sossegado e aprazível que até, hoje, desperta sentimentos de gratidão pela vida que nossos pais nos proporcionaram, em sua simplicidade, mas com uma riqueza humana e de valores que jamais alguém poderá roubar.
Foi, nesse aprazível recanto da nossa Casa Comum, o Planeta Terra, que os nossos antepassados plantaram as sementes de uma educação, onde os valores da fé, cultivada em família e na comunidade, unida a um senso forte de pertença a uma família, cultora do trabalho e do respeito mútuo e da propriedade alheia, cresci com meus irmãos (ãs). Foi a partir do verde vale do Ribeirão de Porto Franco, iluminados pelo testemunho vivo dos pais, que aprendemos a servir a Deus e a servir os irmãos, sobretudo, em atividades voluntárias, exercidas com constância e perseverança por eles ao longo de toda a vida. Ribeirão de Porto Franco é presente do Deus Criador. E que presente! Obrigado, Senhor!