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Rodovia Antônio Heil: há 50 anos era inaugurada a estrada que transformou Brusque e região

Via tornou-se a mais importante da cidade por fazer conexão direta com a BR-101

Há exatos 50 anos, em 25 de outubro de 1974, era inaugurada a SC-486, conhecida como rodovia Antônio Heil. A rodovia interliga o município de Itajaí, a partir da BR-101, ao município de Presidente Nereu, passando por Brusque, Botuverá e Vidal Ramos, com uma extensão total de aproximadamente 107,8 km.

Antigamente chamada de Estrada Brusque-Itajaí, a atual rodovia Antônio Heil não era asfaltada e seguia por um trajeto diferente, empoeirado e repleto de buracos. A rodovia foi inaugurada após receber asfaltamento e, em relação a Brusque, tornou-se a via mais importante da cidade, pois conecta a cidade à BR-101. Essa relevância foi um dos motivos que levaram à sua duplicação, ocorrida décadas após a inauguração.

Brusque e suas estradas

Quando os primeiros colonos chegaram à região, eles utilizaram suas próprias mãos para abrir caminhos nas matas que mais tarde se tornariam as vias da cidade.

A primeira conexão entre a colônia e a Vila de Itajaí foi estabelecida apenas em 1875, quinze anos após a chegada dos imigrantes, por iniciativa do barão Maximilian von Schneeburg.

A antiga estrada Brusque-Itajaí seguia um percurso irregular, repleto de buracos e em condições precárias, sendo a única ligação entre a cidade e os arredores por muitos anos.

Imigrantes abriram as primeiras estradas de Brusque na período colonial | Foto: Brusque Memória

Em 1900, o cônsul Carlos Renaux lançou a primeira proposta para melhorar o transporte em Brusque, sugerindo a construção de trilhos. A ideia era criar uma linha de trem de pequeno porte, movida por tração animal, com três quilômetros de extensão ligando a antiga ponte Vidal Ramos à Fábrica de Tecidos Carlos Renaux.

Uma década depois, a iniciativa do empresariado brusquense se voltou para a construção de uma ferrovia que conectasse o porto de Itajaí. O projeto previa que os trilhos saíssem de Blumenau, passassem por Gaspar e Brusque, até chegarem a Itajaí. No entanto, decidiu-se que a linha seguiria do Vale do Itajaí-Açú, entrando no Vale do Itajaí-Mirim a partir de Ilhota.

Assim, nos anos 1950, começou a construção de um ramal que se estenderia do bairro Itaipava, em Itajaí, até Brusque. Apesar do início das obras, o projeto enfrentou dificuldades financeiras e foi interrompido em 1964, após muitos pedidos. O túnel do Montserrat, que ficou conhecido por esse episódio, foi abandonado e redescoberto somente na década de 1990.

O insucesso da ferrovia, somado à dependência do transporte hidroviário e às péssimas condições das estradas, que permaneciam inalteradas desde a época dos colonizadores, deixaram Brusque isolada por muito tempo. Isso impediu o crescimento da cidade, que abrigava indústrias fortes e era um pilar da economia estadual.

Antiga rodovia Itajaí-Brusque | Foto: Acervo Particular Foto Áurea

A situação logo chamou a atenção das lideranças locais, que perceberam a urgência de estabelecer uma conexão adequada com Itajaí e Gaspar. Assim, começou uma intensa mobilização para a construção de rodovias no município.

Na década de 1950, o governo federal deu início à construção da BR-59, que posteriormente se tornaria a BR-101. Desde aquele período, os líderes da cidade lutavam por uma estrada que ligasse Brusque à BR-59, dando início a uma campanha que se estenderia por mais de uma década.

Porém, antes da construção da Antônio Heil, foi iniciada construção de uma nova estrada entre Brusque e Gaspar (rodovia Ivo Silveira), em substituição à antiga rodovia criada no início do século pelos primeiros colonizadores. Embora as obras tenham começado em 1952, o progresso foi lento, gerando insatisfação na população. 

Em dezembro de 1957, o jornal O Município publicou um artigo exigindo mais ações do governo em relação às estradas. Intitulado “Nossas estradas… uma calamidade”, o texto ressaltava a urgência da melhoria da via para Itajaí, essencial para o transporte de caminhões e a produção industrial e agrícola da região.

“Precisamos de uma ligação rodoviária que, se não for excelente, pelo menos ofereça condições de tráfego permanentes para a capital; a estrada para Blumenau deve ser urgentemente modernizada, pois a atual ainda remete à época dos carros de bois”, dizia o artigo.

Durante a década de 1960, diversas matérias em O Município clamaram por melhorias nas rodovias locais. Após anos de promessas não cumpridas e frustrações, finalmente Brusque começou a receber estradas condizentes com seu desenvolvimento.

Rodovia Ivo Silveira foi inaugurada em janeiro de 1967 | Foto: Arquivo O Município

Construção da Antônio Heil

Ainda na década de 60, artigos foram incessantemente publicados solicitando também o acesso à cidade portuária (Itajaí). Durante a inauguração da rodovia Ivo Silveira, o então prefeito Antônio Heil pediu em seu discurso o início das obras.

“Um acesso à BR-101 e uma nova estrada para o porto de Itajaí, que é o escoadouro natural de nossa produção robusta. Este é o pedido do povo de Brusque: uma nova via que una Blumenau, Itajaí e Brusque por rodovias modernas, tão necessárias na atualidade”.

O projeto havia sido cogitado durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), quando os estudos foram iniciados, mas não progrediram, deixando os brusquenses apenas com esperanças.

Foi somente em 22 de agosto de 1969, após inúmeras solicitações, que as obras finalmente começaram, criando uma via de 29 quilômetros que ligava Brusque à BR-101. Na época, a licitação da pavimentação asfáltica foi vencida por uma empresa de Belo Horizonte (MG). O início das obras contou com as presenças do governador Ivo Silveira, do ministro Mário Andreazza e do prefeito Antônio Heil.

O escritor Saulo Adami tinha apenas 9 anos quando a rodovia começou a tomar forma. Ele vivia com a família no bairro de área rual Arraial dos Cunhas, pertencente ao município de Itajaí. A ‘estrada velha’ atravessava a região, e Saulo a utilizava como caminho diário para a escola onde estudava.

“Na época da construção, passávamos pelo meio dos canteiros de obras e dos trabalhadores. De certa forma, convivemos com eles e também com seus filhos, que estudavam conosco. Eram mineiros que falavam ‘trem’ o tempo todo, mas com outro significado. Era uma farra engraçada “, comenta.

Em 16 de fevereiro de 1973, o jornalista e ex-diretor do jornal O Município, Jaime Mendes, publicou o artigo “Aberto mais um trecho de 4 quilômetros da Rodovia Antônio Heil”. No texto, ele relata que, da BR-101 até o ponto onde o asfalto já estava concluído (5 km), havia sido aplicado o material pré-misturado que permitia o trânsito de veículos, o que já ocorria.

Em 16 de março daquele ano, Mendes publicou outro artigo informando que mais asfalto havia sido colocado no trecho entre Limoeiro e a Fazenda Maluche. Quando a obra foi concluída, em outubro de 1974, a rodovia Antônio Heil foi identificada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de Santa Catarina com a sigla SC-48.

Jaime escreveu um livro sobre o tema. No prefácio da obra, o engenheiro Mário Henrique da Silva, lembrava que o trecho Itajaí-Brusque “foi o primeiro a receber os benefícios de pavimentação asfáltica, uma vez que Brusque, além de ser o primeiro município atingido pela rodovia, é o de maior expressão econômica de todos”. 

Após mais de cinco anos de trabalho árduo, a nova estrada foi inaugurada em 25 de outubro de 1974, pelo governador Colombo Salles. Logo após a morte do deputado estadual Antônio Heil, em 11 de junho de 1971, a estrada foi batizada com seu nome.

Inauguração da rodovia Antônio Heil. Fita foi cortada pela viúva do ex-prefeito | Foto: Erico Zendron/Curto Fotos Antigas Brusque

Uma multidão se reuniu para celebrar esse momento tão aguardado na história de Brusque. Mais de 40 anos após sua inauguração, a rodovia Antônio Heil continua sendo a principal via de acesso ao município.

Diariamente, milhares de veículos, tanto leves quanto pesados, transitam por ela, tornando-a uma das estradas mais movimentadas do estado.

Jornal O Município destacou a inauguração da rodovia | Foto: Arquivo O Município

Duplicação final e futuro

A mobilização das lideranças políticas e empresariais foi fundamental para a construção das duas principais estradas de Brusque. Anos depois, essa história se repetiu, mas com a reivindicação da duplicação da rodovia Antônio Heil.

Foi por iniciativa da empresa Irmãos Fischer, que o projeto saiu do papel. A indústria brusquense firmou parceria com o governo do estado e, por meio do abatimento do ICMS, viabilizou o primeiro trecho duplicado da rodovia, entregue para a população em dezembro de 2017 – do limite de Brusque e Itajaí até a concessionária Uvel.

“A Irmãos Fischer orgulha-se de ter realizado a duplicação deste trecho, uma obra que trouxe benefícios para toda a comunidade. Além de melhorar o trânsito e aperfeiçoar os trajetos com retornos mais seguros, a duplicação impactou positivamente a mobilidade urbana. No entanto, com o crescimento da região, a continuidade de parcerias sólidas é essencial”, comentou o empresário Ingo Fischer, idealizador da iniciativa.

Do limite de Itajaí até a BR-101, a duplicação foi realizada pelo governo do estado. A ordem de serviço foi assinada em 2014 e a entrega aconteceu no dia 19 de outubro de 2020. Na ocasião, o governador era Carlos Moisés e o investimento para ampliar os 20,9 km que faltavam foi de R$ 165,5 milhões.

Segundo o prefeito de Brusque, André Vechi, a rodovia é de extrema importância é estratégica para o município, pois, além de ser a via com o maior fluxo de veículos entre Brusque e toda a região, desempenha um papel crucial na logística, permitindo o escoamento da produção local em direção ao porto e à BR-101.

“Isso impacta diretamente o desenvolvimento econômico de Brusque. Após a revitalização realizada pelo governo do estado e com o trecho municipal também em obras, não tenho dúvidas de que essas melhorias trarão ainda mais qualidade à nossa mobilidade, contribuindo de forma significativa para o crescimento econômico local”, afirma o prefeito.

O presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Marlon Sassi, destacou que, durante as comemorações dos 90 anos da Associação, foram enfatizadas ações fundamentais para o desenvolvimento da região. Entre elas, a pavimentação da rodovia Antônio Heil, iniciada em 1969. Porém, o presidente também falou sobre o futuro.

“Hoje, nossa luta é pela interseção com a BR-101. Estamos trabalhando para trazer a empresa para discutir o cronograma da obra, a fim de garantir que não haja interrupções. Queremos que a obra seja realizada dentro do prazo estimado de 24 meses, que, possivelmente, será reduzido. A empresa diz que pretende entregar em 18 meses”, conclui o presidente.


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