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Rodovias Antônio Heil e Ivo Silveira: a luta histórica por melhorias nas estradas

Foi só a partir dos anos 1970 que a cidade teve suas rodovias asfaltadas

Desde o início, a história de Brusque com as estradas foi marcada por muito esforço e luta. Ao chegarem aqui, os primeiros colonos usaram as próprias mãos para abrir, em meio à mata fechada, os caminhos que, mais tarde, pertenceriam à cidade.

A primeira ligação entre a colônia e a Vila de Itajaí foi concluída somente em 1875, 15 anos depois da chegada dos primeiros imigrantes, por iniciativa do barão Maximilian von Schneeburg.

A estrada, antes chamada Brusque-Itajaí, seguia um trajeto diferente, cheio de buracos e bastante precária. Por muitos anos, foi a única ligação com outras cidades.

Em 1900, por iniciativa do cônsul Carlos Renaux, aconteceu a primeira tentativa de melhorar o transporte em Brusque: os trilhos. A intenção era que a estrada fosse uma linha estreita, com tração animal, com extensão de três quilômetros, ligando a antiga ponte Vidal Ramos à Fábrica de Tecidos Carlos Renaux.

Dez anos depois, a classe empresarial de Brusque demonstrou ter interesse em uma ligação férrea com o porto de Itajaí. O desejo era que o trilho saísse de Blumenau, passasse por Gaspar e Brusque, até chegar em Itajaí. Porém, o que ficou decidido foi que o trilho sairia do Vale do Itajaí-Açú e adentraria, a partir de Ilhota, no Vale do Itajaí-Mirim.

Com isso, a partir do bairro Itaipava, em Itajaí, iniciaria-se a construção de um ramal até Brusque, que teve início nos anos 1950, porém, não foi longe. A obra, bastante cara, demorou anos para avançar, até que após muitos pedidos, em 1964, foi decretada a não continuidade. O túnel do Montserrat, como é conhecido hoje, foi abandonado e redescoberto somente nos anos 1990.

Foto: Brusque Memória/Divulgação

O fracasso da estrada de ferro, do transporte hidroviário – que até o início do século 20 era o principal sistema de escoamento da produção – e as péssimas condições das estradas – que até a década de 1960 eram as mesmas abertas pelos colonizadores um século atrás – deixaram Brusque praticamente isolada durante muito tempo, freando o desenvolvimento da cidade, que contava com indústrias pujantes e era uma das forças da economia no estado.

Não demorou muito para que as lideranças da cidade percebessem o problema. Brusque necessitava de uma ligação decente com Itajaí e também com Gaspar. Iniciava, então, uma grande luta para a construção das rodovias no município.

 O fracasso da estrada de ferro, do transporte hidroviário e as péssimas condições das estradas deixaram Brusque praticamente isolada, freando o desenvolvimento da cidade

Na década de 1950, o governo federal iniciou a construção da BR-59, mais tarde denominada BR-101. Já naquela época, as lideranças pleiteavam uma estrada que fizesse a ligação de Brusque com a BR-59. Nascia a campanha pela rodovia Antônio Heil, que durou mais de 10 anos.

Ao mesmo tempo, a cidade também reivindicava a construção de uma nova estrada entre Brusque e Gaspar para substituir a velha rodovia paralela aberta no começo do século pelos primeiros colonizadores da região. A nova estrada até iniciou em 1952, mas de forma muito lenta, gerando descontentamento na população.

Em dezembro de 1957, o jornal O Município publica um artigo cobrando mais ação do poder público em relação às estradas. Com o título: “Nossas estradas…uma calamidade”, o texto diz que “precisamos urgentemente da ratificação da estrada para Itajaí, por onde escoa, em caminhões, toda produção industrial e colonial do município; necessitamos de uma ligação rodoviária senão excelente, mas pelo menos em condições de trânsito permanente para a capital; a estrada para Blumenau precisa ser melhorada de uma vez, pois a que aí está é ainda aquela do tempo em que o carro de boi era o veículo da moda”.

Diversos artigos foram publicados em O Município ao longo da década de 1960, cobrando rodovias para a cidade.  Foram inúmeras promessas, frustrações e anos de espera até que, finalmente, Brusque ganhasse caminhos dignos de sua grandeza.

Em julho de 1962, foi assinado o convênio entre o Gabinete de Planejamento do Plano de Metas do Governo e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para a continuidade da execução da rodovia Brusque-Gaspar, que teve início durante o governo de Irineu Bornhausen, mas ficou paralisada por anos. A retomada da obra, entretanto, aconteceu somente um ano depois da assinatura do convênio, em agosto de 1963.

Na época, O Município noticiou que a estrada seguiria por uma traçado totalmente novo, reduzindo em aproximadamente 20 quilômetros a distância entre Brusque e Gaspar, além de eliminar todas as curvas e subidas.

A obra só foi inaugurada em janeiro de 1967. A abertura do novo traçado da estrada Brusque-Gaspar passou por quatro governos: iniciou com pequenos cortes na época de Irineu Bornhausen, depois teve pequeno avanço na gestão de Heriberto Hulse. Foi retomada com mais impulso e sob durante do governo de Celso Ramos que concluiu praticamente a metade e finalizada e inaugurada em 29 de janeiro de 1967, pelo governador Ivo Silveira, que emprestou seu nome à rodovia.

A estrada foi inaugurada faltando 500 metros para ser totalmente macadamizada. A solenidade contou com a presença do governador Ivo Silveira, diversas autoridades e a população de Brusque, que fez questão de conferir a nova estrada, pronta 15 anos depois de seu início tímido, em 1952.

A obra foi entregue com o novo traçado, mas não asfaltada. Com o tempo, as dificuldades começaram a aparecer e, o asfaltamento da rodovia entrou na pauta de discussões na cidade.

Em maio de 1975, O Município noticiou o fim do trabalho de pesquisa de tráfego no trecho entre Brusque e Gaspar, que tinha uma média de 700 veículos passando pelo local diariamente. Meses depois, foi noticiada a abertura do processo licitatório para o asfaltamento da rodovia.

Em fevereiro de 1976, o governo do estado assinou contrato com a empresa vencedora da licitação e também a ordem de serviço para início da obra. A inauguração da rodovia asfaltada ocorreu em solenidade realizada em 28 de março de 1977, com a presença do governador Antônio Carlos Konder Reis.

Tão intensa quanto a campanha para a construção da nova estrada para Gaspar, foi a que reivindicava o acesso de Brusque para a BR-59, que mais tarde se transformou na BR-101. A luta para uma ligação rápida e em boas condições de Brusque a Itajaí começou em 1959 e foi uma novela que durou dez anos.

Vários foram os artigos publicados em O Município reivindicando o acesso à cidade portuária. Na inauguração da rodovia Ivo Silveira, o prefeito da época, Antônio Heil, em seu discurso, pediu o início das obras.

Este é o pedido do povo de Brusque: uma nova estrada para Itajaí a fim de unir Blumenau-Itajaí-Brusque, o triângulo de maior expressão econômica da região

“Uma estrada de ligação com a BR-101, uma nova estrada para o porto de Itajaí, escoadouro natural de nossa pujante produção. Este é o pedido do povo de Brusque a vossa excelência: uma nova estrada para Itajaí a fim de unir Blumenau-Itajaí-Brusque, o triângulo de maior expressão econômica da região, por modernas rodovias, que a época está a reclamar”.

Foi apenas em 22 de agosto de 1969, após inúmeros pedidos, que as obras iniciaram, numa distância de 29 quilômetros ligando Brusque a BR-101.

A obra até foi cogitada para iniciar durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), quando teve os estudos iniciados, mas não avançou, deixando os brusquenses somente na esperança.

Foto: Erico Zendron/Curto Fotos Antigas de Brusque

Foram pouco mais de cinco anos de trabalho intenso na nova estrada, até sua inauguração, em 25 de outubro de 1974, pelo governador Colombo Salles. A estrada, tão almejada, ganhou o nome de rodovia Antônio Heil, em homenagem ao ex-prefeito de Brusque, que foi um grande entusiasta da obra e faleceu em 1971, antes de vê-la concluída.

Uma multidão foi até a estrada para presenciar este capítulo tão aguardado da história de Brusque. Mais de 40 anos após sua inauguração, a rodovia Antônio Heil ainda é o principal acesso do município. Diariamente, passam pela estrada milhares de veículos leves e pesados, tornando a rodovia, uma das mais movimentadas do estado.

A mobilização das lideranças políticas e empresariais foi fundamental para a construção das duas principais estradas de Brusque. Anos depois, essa história se repetiu, mas agora, com a reivindicação da duplicação da rodovia Antônio Heil.

Foi pela iniciativa da empresa Irmãos Fischer, que o projeto saiu do papel. A indústria brusquense firmou parceria com o governo do estado e, por meio do abatimento do ICMS, viabilizou o primeiro trecho duplicado da rodovia, entregue para a população em dezembro de 2017 – do limite de Brusque e Itajaí até a concessionária Uvel.

Foto: Comphany Studio/Divulgação

Do limite de Itajaí até a BR-101, a duplicação é de responsabilidade do governo do estado e ainda não foi concluída. A ordem de serviço foi assinada em 2014 e a previsão inicial era ser entregue em 2017.

Não aconteceu. Burocracias e problemas com as empresas executoras atrasam essa que é uma das obras mais importantes para o desenvolvimento de Brusque. Assim como no passado, as lideranças não medem esforços para garantir que a cidade tenha o seu principal acesso duplicado, à altura da importância de Brusque para o estado.


Você está lendo: • A luta histórica pelas estradas


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