Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Botuverá: 147 anos de colonização e preservação do dialeto bergamasco

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Botuverá: 147 anos de colonização e preservação do dialeto bergamasco

Rosemari Glatz

Botuverá foi fundada no ano de 1876 por grupos de famílias de camponeses que emigraram de várias aldeias da região da Lombardia, Itália Setentrional. A Lombardia, cuja capital é Milão, tem limites ao norte com a Suíça, a oeste com o Piemonte, a leste com o Vêneto e com Trentino-Alto Ádige, e ao sul com a Emília-Romagna. Atualmente é a região mais populosa da Itália.

Fundada em 1860, no início a grande Colônia Itajahy-Brusque foi ocupada com imigrantes alemães que foram instalados na região central, na rua São Pedro, no Guarani, e em Guabiruba. Em 1869, chegaram os poloneses que foram instalados na Colônia Príncipe Dom Pedro. Os italianos chegaram partir de 1875, deram grande contribuição à formação da nova Colônia, e a sua chegada teve estreita relação com o Contrato Caetano Pinto. Os italianos chegaram a Botuverá nos primeiros meses do ano de 1876, quando o território integrava as Colônias Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro.

As cláusulas do Contrato Caetano Pinto estimulavam a imigração europeia, pois eram atrativas para as populações que, na sua pátria, sofriam com os problemas decorrentes de uma situação econômica desfavorável, agravada pela exiguidade do espaço físico dos lotes. Na Itália, na maioria dos casos, o lote não pertencia àquele que cultivava a terra que, além de tirar o sustento para a sua família, ainda pagava aluguel pelo seu uso. Aliciados por agenciadores e atraídos pela possibilidade de serem proprietários de terrenos documentados, bem como pela fertilidade da terra, as Colônias dos Vales do Itajaí passaram a receber milhares de imigrantes italianos a partir de 1875, quase todos italianos, lombardos ou tiroleses.

Conforme as cláusulas do Contrato Caetano Pinto, ainda na Europa o imigrante escolhia o lugar onde queria fixar-se no Brasil. Graças às boas informações prestadas pelos primeiros que se estabeleceram por aqui, entre os anos de 1875 e 1877 foi um contínuo chegar de gente. A maioria dos imigrantes veio do Norte da Itália e atravessaram o oceano Atlântico em navios a vapor. Eram bergamascos, cremascos, mantuanos, veroneses, trentinos, entre outros.

Foi criado o núcleo de Porto Franco, atual Botuverá, distando então 30 km da sede de Brusque. Situada na parte superior do Itajaí- Mirim, Botuverá foi colonizada a partir de 1876 por imigrantes italianos naturais da região de Bérgamo, Cremona e de Mântua, com poucas famílias de Trento. Eles viveram da roça, plantavam e colhiam os próprios alimentos.

Muitos imigrantes que colonizaram Botuverá viajaram juntos para a nova terra. Este grupo de bergamascos teve a peculiaridade de manter vivas, com o passar das gerações, as principais tradições culturais, folclóricas e alimentares de sua região de origem e, o que é mais incrível, de ensinar o dialeto bergamasco de pai para filho, para neto, para bisneto, para tataraneto. Um dialeto não é considerado uma língua literária, não existe sob a forma escrita, e acredita-se que o dialeto bergamasco era a única língua que a maioria dos imigrantes falava ao chegar a Botuverá. Mantê-lo vivo até hoje é um grande feito da gente de Botuverá, uma verdadeira riqueza imaterial.

Passados 147 anos desde a chegada dos imigrantes, e transmitido de geração em geração, o dialeto bergamasco falado em Botuverá conserva as marcas linguísticas do antigo bergamasco utilizado pelos colonos. O bergamasco, de tantos oriundis na região, é um dialeto difícil, cantado, às vezes complicado de se entender. Mas foi, e ainda é, muito falado em Botuverá. Em pesquisa que fiz em 2023 na Itália, foi-me informado que o dialeto bergamasco ainda é falado pelos mais idosos na região de origem, Bérgamo, na Lombardia, e que entre as gerações mais jovens alguns compreendem, porém poucos sabem falar o dialeto.

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