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Cemitérios como registro da história e cultura da cidade

Estamos nos aproximando do Dia de Finados, um feriado religioso dedicado a homenagear aos que já faleceram. É tempo de limpar e enfeitar os túmulos dos nossos entes queridos. E também uma oportunidade de compreender a nossa própria história comunitária a partir das representações que encontramos nos cemitérios, pois eles são importantes fontes históricas e […]

Estamos nos aproximando do Dia de Finados, um feriado religioso dedicado a homenagear aos que já faleceram. É tempo de limpar e enfeitar os túmulos dos nossos entes queridos. E também uma oportunidade de compreender a nossa própria história comunitária a partir das representações que encontramos nos cemitérios, pois eles são importantes fontes históricas e colaboram para a preservação da memória familiar e coletiva.

Muitos cemitérios são extremamente simples e despidos de qualquer suntuosidade, alguns com arquitetura tumular sóbria, enriquecida apenas pela vegetação que a circunda e ornamenta seus túmulos, e outros são mais ricos no quesito arte tumular. Em algumas culturas, os túmulos são verdadeiras representações artísticas e possibilitam a compreensão de crenças religiosas, posturas políticas, revelam profissões e gostos artísticos da sociedade. Oportunizam o conhecimento da formação étnica de uma comunidade, a expectativa de vida da população e contribuem para estudos genealógicos. Com relevância histórico-social, uma visita ao cemitério proporciona um turismo educativo que contempla cultura, memória, identidade e arte, entre outros tantos significados da vida social.

No caso de Brusque, considerada o berço da imigração polonesa no Brasil, o cemitério da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do centro, além da sua beleza estética, possui valor histórico inestimável, pois lá está sepultada grande parte dos imigrantes poloneses rememorados como “tecelões de Łódź”. Eram imigrantes de etnia alemã, protestantes (luteranos) que estavam estabelecidos em território polonês, e que chegaram a Brusque a partir de 1889.

No cemitério luterano do centro de Brusque encontramos sepultados desde mestres tecelões que impulsionaram a indústria têxtil, a exemplo das famílias Haake, Hartke, Jeske e Wilke, até grandes industriais, a exemplo da família Schlösser. Juntos, tecelões e industriais contribuiriam efetivamente para a transformação da Brusque colonial para a Brusque industrial. Neste cemitério também estão sepultadas as famílias Renaux, Büettner e Schlösser, industriais e proprietários das três grandes indústrias têxteis fundadas e consolidadas entre o final do século XIX e início do século XX. Destas, as duas primeiras foram diretamente impactadas pela capacidade técnica dos tecelões de Łódź.

Uma das características que se observa no cemitério luterano do centro de Brusque, assim como em outros cemitérios protestantes em Santa Catarina, é o cuidado especial com a arborização, onde a vegetação é elemento fundamental para valorização da arquitetura tumular ajudando a criar um ambiente aprazível. Sua arquitetura é composta por túmulos de pequeno porte, com pouca estatuária, e raros ornamentos, com destaque para os símbolos decorativos e esculturas. Há valorização da inscrição de epitáfios – a escrita de uma frase em relevo no túmulo. Há grandes áreas reservadas exclusivamente para famílias, a exemplo da família do Cônsul Carlos Renaux, grande industrial e pioneiro da indústria têxtil na região. Uma das sepulturas mais anosas do cemitério, ainda preservada, é de 1908, muito antes da aprovação do regulamento do cemitério, datado de 1932.

O Cemitério Luterano é o mais antigo do centro de Brusque que ainda está preservado, um verdadeiro registro da história e cultura da cidade. Pelos valores memoriais, materiais e imateriais que encerra, de ampla significação histórica, social, ideológica, religiosa e política, uma maravilhosa exposição de arte e de fé, este cemitério pode ser considerado um dos patrimônios históricos de Brusque, inclusive com grande potencial turístico.