Conheça a história da linha férrea Renaux, que operou por mais de 20 anos em Brusque
A primeira tentativa de uso de trilhos para o transporte de cargas na região de Brusque foi do Cônsul Carlos Renaux. Foi a única linha férrea realmente finalizada, e que operou por mais de 20 anos na cidade. O contrato de concessão foi assinado com o poder Executivo municipal no ano de 1900, e autorizava […]
A primeira tentativa de uso de trilhos para o transporte de cargas na região de Brusque foi do Cônsul Carlos Renaux. Foi a única linha férrea realmente finalizada, e que operou por mais de 20 anos na cidade. O contrato de concessão foi assinado com o poder Executivo municipal no ano de 1900, e autorizava a implantação de uma linha férrea com a função de ligar a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, na Avenida Primeiro de Maio, então um já importante centro produtor de Brusque, e o porto fluvial, no centro da cidade.
O contrato tinha duas exigências que visavam o interesse público: estabelecia que, para facilitar a passagem das carroças, principal meio de transporte à época, os trilhos não poderiam atrapalhar as porteiras das propriedades e, ainda, que os trilhos deveriam ficar à disposição da Prefeitura de Brusque para a condução de materiais para obras públicas, quando esta necessitasse.
Brusque estava completando 40 anos quando a linha férrea foi autorizada. Nos primeiros decêndios, o transporte fluvial era o meio mais fácil de transporte. O porto fluvial de Brusque dispunha de um trapiche de pedras, mastro de madeira e guincho, e estava implantado no centro, nas cabeceiras da ponte Irineu Bornhausen (atual Ponte Estaiada).
Ali aportavam os barcos, as canoas, e lanchas que visavam o abastecimento da população e o escoamento de produtos para o porto marítimo, na atual cidade de Itajaí. Lanchas-perua eram utilizadas para transporte de cereais, como farinha de mandioca, milho, açúcar grosso, pipas de cachaça, para escoar outras mercadorias, e também para o transporte de pessoas. Naquele tempo o percurso entre Brusque e Itajaí pelo rio levava de sete a oito horas, para ida, e um dia, para a volta.
A Fábrica de Tecidos Carlos Renaux também utilizava o porto fluvial de Brusque. Era por ele que chegavam os equipamentos, materiais e as matérias primas para a produção, e de onde se despachavam os tecidos produzidos na fábrica. Assim, a linha férrea foi implantada em ponto estratégico, ao lado do porto fluvial, ligava o centro da cidade à fábrica, e servia tanto para transporte de pessoas quanto de materiais.
O carrinho de trem corria sobre os trilhos da linha férrea, puxado por 2 cavalos, um atrás do outro, e facilmente desencarrilhava; quando isso acontecia, as pessoas desciam e o colocavam novamente nos trilhos. Era uma forma simples e rudimentar de logística, mas tinha pouco custo e não poluía o meio ambiente.
Em 1920 o Carlos Renaux estava vivendo na Holanda, onde adquiriu um caminhão Mannesmann, que foi despachado via Alemanha para o Brasil. O caminhão substituiu os carrinhos que serviam como trem e a pequena linha férrea, uma simples plataforma de três quilômetros de extensão, da qual há muitos anos não restam quaisquer vestígios.
Depois de mais de 20 anos, a pequena ferrovia perdeu seu uso, pois o transporte começou a ser feito por caminhão. Iniciava-se o período capitalista industrial brasileiro, quando as ferrovias passaram a ter menor importância, dando lugar às estradas de rodagem, símbolo do transporte no período e de custo reduzido para as necessidades de um país continental como o Brasil.
Geralmente associada a um determinado ciclo econômico, ferrovias desativadas se tornam parte da história local e também das lembranças de moradores. Uma das poucas lembranças que Brusque ainda guarda da pequena linha férrea da Renaux é um cartão postal, do ano de 1902, aproximadamente, no qual aparecem os filhos mais novos de Carlos Renaux, junto com outros meninos, brincando nos carrinhos da ferrovia, acompanhados do professor Moritz Lemann.