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Direto ao ponto: retorno às aulas presenciais

Chegamos ao final de um ano totalmente atípico, com relevantes impactos negativos na área de educação, em seu sentido macro. Desde março de 2020, quando as aulas presenciais foram suspensas, a maioria das crianças e jovens não colocou mais “os pés na escola”. Passados nove meses, o assunto “retorno às aulas presenciais” voltou a ser […]

Chegamos ao final de um ano totalmente atípico, com relevantes impactos negativos na área de educação, em seu sentido macro. Desde março de 2020, quando as aulas presenciais foram suspensas, a maioria das crianças e jovens não colocou mais “os pés na escola”. Passados nove meses, o assunto “retorno às aulas presenciais” voltou a ser discutido. A esse respeito, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina – CRM-SC, em sessão plenária do último dia 07, aprovou um parecer no sentido de que o retorno às aulas presenciais não pode mais ser postergado. Compartilho alguns pontos contidos no referido parecer:

1. A utilização do ensino remoto se mostrou uma ferramenta importante no início da pandemia, mas, dado o seu papel limitado, deveria ter sido temporário e associado a atividades presenciais o mais rápido possível, o que não aconteceu na maioria das escolas. Os impactos do isolamento social prolongado no desenvolvimento e na saúde mental infanto-juvenil são imensos e duradouros, sejam eles precoces ou tardios.

2. Impedir o acesso ao ambiente escolar traz transtornos de desenvolvimento físico, psíquico e social que comprometem o futuro das nossas crianças e adolescentes. Inúmeros estudos psicopedagógicos disponíveis na literatura científica mostram que o ambiente escolar promove a socialização das crianças e adolescentes. Permite que elas tenham experiências lúdicas, compartilhadas, aprendendo a conviver em harmonia, a controlar seus impulsos, negociar diferenças e possíveis conflitos, enfrentar desafios e compartilhar decisões, na busca dos ensinamentos e habilidades fundamentais para a sua integração social.

3. As crianças (25% da população brasileira) se infectam de duas a cinco vezes menos do que os adultos, e complicações decorrentes do COVID-19 são muito raras. A grande maioria é assintomática ou apresenta sintomas leves, e transmitem menos. Vale lembrar que o H1N1 apresenta em torno de 30% dos casos graves em crianças, e a exposição à COVID-19 coloca as crianças em risco muito menor do que a exposição ao vírus influenza, e medidas de fechamento das escolas não são impostas nos surtos de gripe.

4. Seguindo os cuidados indicados, as escolas (públicas ou privadas) são locais seguros para os professores, funcionários e alunos. O local de maior risco de transmissão é o domicílio. As crianças se infectaram mais em casa no contato com os próprios familiares expostos do que na escola. Entre os adultos, a transmissão é maior em situação pública do que na escola.

5. As atuais políticas de confinamento produziram efeitos devastadores na saúde pública em curto prazo, que também serão constatadas em longo prazo. Alguns resultados já são conhecidos: queda nas taxas de vacinação infantil, menos exames oncológicos, deterioração da saúde mental, etc., o que levará a um aumento de mortalidade nos próximos anos, imputando aos “sobreviventes“ destas ações, na sua maioria os membros mais jovens da sociedade, carregar um fardo mais pesado. Manter as medidas de confinamento em vigor até que uma vacina esteja disponível causará danos irreparáveis. E manter os alunos fora da escola é atitude pouco humanitária e uma grave injustiça, em especial aos usuários do sistema público, afirma o parecer do CRM-SC.

Apesar de as crianças e jovens serem os grandes prejudicados pela suspensão prolongada das aulas presenciais, em nenhum momento foram, e tampouco serão consultados acerca do retorno às aulas presenciais. Em resumo, a decisão é nossa: professores, pais, educadores, poder público. Que sejamos capazes de decidir com sabedoria, pois os impactos da nossa decisão serão sentidos durante gerações. Que Deus nos ilumine!