Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Enchentes em Brusque e o rio Itajaí-Mirim

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Enchentes em Brusque e o rio Itajaí-Mirim

Rosemari Glatz

O rio é nosso velho conhecido, mas até que ponto compreendemos o comportamento do Itajaí-Mirim em Brusque?

O governo provincial mandou levantar a planta do rio Itajaí-Mirim ainda antes da fundação oficial de Brusque (1860). O artigo “Características interessantes do rio Itajaí-mirim e seus afluentes no século passado”, publicado na revista Blumenau em Cadernos (02/1992), fala sobre o levantamento realizado pelo Eng. Charles Philippe Garçon Rivière, encaminhado ao Ministro da Agricultura em 06/06/1860. Dele transcrevo partes: “Os principais afluentes do rio Itajaí-Mirim são o ribeirão da Guabiruba e o Canhanduba (Itajaí). Os terrenos nas várzeas próximas das margens do rio quase não são aproveitáveis por motivo das frequentes inundações no tempo das chuvas. Em parte, poder-se-ia fazer desaparecer este grave inconveniente cortando algumas das muitas agudíssimas curvas que existem. A população do rio Itajaí-Mirim então contava 2.000 almas (…).

Passados 101 anos da recomendação do Eng. Rivière, em 1961 Brusque viveu uma grande enchente. A cidade, então com 17 mil habitantes, teve 90% das casas atingidas. O rio Itajaí-Mirim chegou a 10,46 metros acima do seu nível normal, trazendo urgência em realizar obras de contenção. As autoridades buscaram por uma solução e, em 1962, começou a retificação do rio. Com auxílio de pesadas máquinas, o leito do rio ganhou novo curso. Das 82 curvas existentes, ficaram 28, aumentando assim o volume de vazão das águas, modificando a paisagem de Brusque e minimizando as enchentes na cidade.

Em 1984, Brusque viveu aquela que é considerada uma das piores enchentes de sua história. O rio Itajaí-Mirim chegou a 10,30 metros. Calcula-se que 20 mil pessoas ficaram desabrigadas. A tragédia motivou as lideranças a buscarem novos projetos para a contenção de cheias. Entre as opções apresentadas estavam a retirada de obstáculos, assoreamento do rio e a construção de um canal. Em 1990 foi inaugurado o primeiro trecho da margem direita da avenida Beira Rio, com dupla função: auxiliar na mobilidade e servir como canal extravasor. Em setembro de 2021, foi inaugurada a margem esquerda da Beira Rio.

Outra obra que integrou o projeto de contenção de cheias foi a construção da ponte Irineu Bornhausen. A nossa ponte estaiada foi inaugurada em 2004 e tem um vão livre de 90,88 metros. Os pilares da ponte antiga estrangulavam a vasão do rio.

Em 2008, Santa Catarina registrou o maior desastre natural da sua história, incluindo enchentes e muitos deslizamentos de terra, com 135 mortes. O rio Itajaí-Mirim chegou a 8,75 metros em Brusque. Nova enchente de setembro de 2011, com pico de 10,03 metros e grande parte do município submerso. Neste outubro (2023) o rio já saiu várias vezes da calha e chegou ao pico aproximado de 7,0 metros em Brusque.

Cabe aqui um esclarecimento relevante para o leitor: o rio Itajaí-Mirim, que banha Brusque, é bastante diferente do Itajaí-Açú, que é muito mais largo e extenso. O Itajaí-Mirim, que no princípio foi a estrada dos nossos pioneiros, tem comportamento parecido com o de montanhas, sobe e desce rápido. O Itajaí-Açú, ao contrário, demora vários dias para descer, basta observar o que está acontecendo agora em Taió. Essas características podem definir se teremos ou não enchente.

O Itajaí-Açú nasce na Serra do Espigão, em Rio do Campo, passa por Taió, e em Rio do Sul se encontra com rio Itajaí do Sul (Alto Vale do Itajaí). A partir de então, o rio denomina-se Itajaí-Açu e ainda passa por todo o Vale do Itajaí, incluindo Blumenau. O rio Itajaí Mirim, por sua vez, nasce na Serra do Faxinal, em Vidal Ramos, passa por Botuverá e em Brusque (Vale do Itajaí-Mirim) recebe o rio Guabiruba. Se encontra com o rio Itajaí-Açu em Itajaí e, digno de respeito, deságua no Oceano Atlântico.

 

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