Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Entre trombetas e bengalas: Cônsul Carlos Renaux

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Entre trombetas e bengalas: Cônsul Carlos Renaux

Rosemari Glatz

Nos últimos cinco anos, sempre que possível me dediquei a pesquisar a vida do Cônsul, o que produziu subsídios para que eu escrevesse o livro “Política, Poder e Fortuna: Nuances da vida do Cônsul Carlos Renaux”, que será lançado em Brusque, no próximo dia 10 de março, em homenagem aos seus 160 anos de nascimento. Na falta de uma autobiografia deixada por ele, adotei o estilo autobiográfico para discorrer sobre a sua vida, desde o seu nascimento, em 1862, até sua morte. Trata-se de uma história baseada em fatos reais, que mistura ficção com realidade histórica. E, ao desenvolver minhas pesquisas, constatei que em várias fotos o Cônsul aparece utilizando uma trombeta. Em outras, aparece usando bengala. Nas fotos do final de sua vida, aparece usando trombeta e bengala.

O Cônsul usava trombeta porquê nasceu com uma deficiência auditiva que foi se agravando com o tempo. Ele não pôde servir ao exército alemão em função desta deficiência. E, à medida que envelhecia, aumentava a sua dificuldade de audição. Usar a mão em concha atrás da orelha já não era o suficiente para Carlos Renaux, embora essa até hoje seja uma forma eficaz de aumentar o som para o ouvido, e ele passou a fazer uso de uma trombeta específica para ser utilizada no ouvido, e com ela ele escutava um pouco melhor.

Desenvolvidas no início do século XIX, havia trombetas fabricadas sob muitas formas e tamanhos, e elas foram o melhor dispositivo para auxiliar a audição até as primeiras décadas do século XX. A trombeta possibilitava que a pessoa direcionasse o ouvido para os sons desejados, e ao mesmo tempo protegia dos sons de fundo indesejáveis, não muito diferente do que os aparelhos auditivos modernos fazem. Normalmente, as trombetas de ouvido eram mais eficazes quando utilizadas de perto, com a pessoa falando diretamente para o bocal da trombeta. Mas ela também auxiliava na audição à distância, embora às vezes houvesse certas limitações para a captação do som. Em uma foto datada de 1942, o Cônsul Carlos Renaux aparece usando uma trombeta enquanto conversava com Nereu Ramos, governador do Estado de Santa Catarina. O Cônsul usou trombetas até a sua morte, em 1945.

Também encontrei fotos em que Carlos Renaux aparecia portando uma bengala, principalmente a partir de 1922, durante os anos em que ele foi Cônsul Honorário do Brasil em Baden-Baden. Mas, diferente da trombeta que ele utilizava por realmente ter deficiência auditiva, a bengala era um adereço charmoso e símbolo de status para a burguesia da época. No princípio a bengala compunha exclusivamente a indumentária masculina. Tempos depois surgiram as bengalas femininas, menores e mais finas, mas com o mesmo objetivo de distinção de classe e eram ornadas com laços, cordões e pequenas joias.

Por aquele tempo, o Cônsul não tinha problemas de locomoção, e usava bengala como objeto simbólico de distinção de classe. A título de exemplo, existe uma foto do Cônsul com amigos num dos lugares que ele gostava de frequentar em Baden-Baden, o Cassino Stephanie, na qual todos os homens estão com uma bengala. O Cônsul possuía várias bengalas: de madeira esculpida e de diversos outros materiais nobres. Carlos Renaux sempre foi muito vaidoso e ligado às questões estéticas, e usava a bengala que melhor combinasse com o seu traje e com o local que iria frequentar, algo semelhante ao uso de bolsas por mulheres ainda hoje. Com o passar do tempo, a bengala foi perdendo seu simbolismo de status, pois homens e mulheres de todas as classes passaram a usar.

Em seus últimos anos de vida, o Cônsul Carlos Renaux usou trombetas e bengalas.

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