Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Fragmentos da imigração italiana para Brusque e região – parte final

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Fragmentos da imigração italiana para Brusque e região – parte final

Rosemari Glatz

D. Arcângelo Ganarini escreveu, em 1880, sobre as áreas onde os imigrantes italianos foram instalados. O texto, intitulado “Notícias de Brusque e Nova Trento, isto é, das Colônias Itajaí e Príncipe Dom Pedro na Província de Santa Catarina Império do Brasil”, foi traduzido do italiano por Lucas Alexandre Boiteux, e publicado na revista Blumenau em Cadernos no ano de 1959. A seguir, um pequeno extrato do texto:

As duas colônias, Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro, se desdobram em quatro distritos, em cada um dos quais há um engenheiro, designado pelo diretor, que distribui os trabalhos, faz os pagamentos e mantém a boa ordem.

O distrito de Cedro Grande é o mais próximo de Brusque, e por isso é o mais bem dotado de estradas, estando os melhores terrenos ocupados pelos colonos alemães e brasileiros.

O distrito de Gaspar, com algumas exceções, possui terras excelentes, e está situado em bom ponto pela facilidade de comunicações com Brusque, distante cerca de dez quilômetros, e com o povoado de Gaspar, no Itajaí-Açu, onde há a comodidade do vapor que faz o serviço três vezes por semana entre Itajaí e Blumenau.

O distrito de Porto Franco (hoje Botuverá), é habitado por imigrantes naturais de Cremona e de Mântua, com poucas famílias de Trento. Ali existe uma capela e um cemitério. Os colonos, satisfeitos com a fertilidade de suas terras, lamentam encontrarem-se tão afastados de um sacerdote. É o distrito que tem maior falta de estradas, nem há esperança de tão cedo entrarem carros em Porto Franco. Nos anos passados todo o transporte era feito por água ou em lombos de muares. Falava-se em uma mina de ouro e outra de carvão de pedra, tentando-se fazer escavações, mas mesmo que elas existissem, seriam precisos outros meios de que não poderiam dispor os colonos. Porto Franco é muito rico de madeiras de construção, e é de esperar que a serraria recentemente montada possa realizar bons negócios. Existem moinhos, piladores de arroz, alguns engenhos de açúcar e cachaça, e preparam-se outros para a fabricação de farinha de mandioca, escreveu padre Ganarini.

Nova Trento, sede do quarto distrito da Colônia, foi assim denominado por serem seus habitantes, na maior parte, do Trentino. Até 1876, Nova Trento chamava-se do Alferes e também Serras. Ganarini (1880) continua: entre Nova Trento e Brusque existe uma cadeia de montes cujos cimos mais elevados podem alcançar 700 metros acima do nível do mar. Aos poucos, os italianos foram se adaptando ao meio, tirando a subsistência através da agricultura. Entre os principais produtos, figuravam o milho, o feijão, a batata, o aipim, e a cana-de-açúcar. O excedente de produção era trocado nas “vendas” por gêneros de maior necessidade, como querosene, trigo, açúcar, sal e equipamentos agrícolas. Logo apareceram as casas comerciais com gêneros de primeira necessidade. Depois alguns artesãos ali estabeleceram suas oficinas de calçado, de alfaiate, de marceneiro. Também os negociantes e os artífices construíram boas casas e bastante cômodas, dispostas regularmente no povoado e com hortas nos fundos. A escola foi estabelecida em 1879.

O ideal de melhoria econômica e social dos imigrantes italianos que, a partir de 1875, cruzaram o oceano e vieram buscá-lo nos apertados vales do Itajaí-Mirim demorou para se concretizar, mas aconteceu. Passados mais de 145 anos e várias gerações depois, os milhares de descendentes dos quase seis mil imigrantes italianos que se estabeleceram no território da Colônia Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro, território este que deu origem aos municípios de Botuverá, Guabiruba, Presidente Nereu, Nova Trento e Vidal Ramos, podem lembrar a história dos seus antepassados com deferência e orgulho pois, afinal, corre em suas veias o sangue de um povo vencedor.

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