Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Fragmentos da imigração italiana para Brusque e região – parte III

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Fragmentos da imigração italiana para Brusque e região – parte III

Rosemari Glatz

O número de imigrantes italianos que deu entrada em Brusque por força do Contrato Caetano Pinto não é conhecido com exatidão, mas entre 1875 e 1877 entraram 5.616 imigrantes. A maioria veio do norte italiano: Vêneto, Piemonte, Lombardia e Trentinos, que eram chamados de tiroleses porque possuíam passaporte austríaco. Alguns imigrantes eram bilíngues, falavam o austríaco e o italiano.

Sobre os primeiros anos após a chegada dos imigrantes italianos, D. Arcângelo Ganarini escreveu, em 1880, o texto “Notícias de Brusque e Nova Trento, isto é, das Colônias Itajaí e Príncipe Dom Pedro na Província de Santa Catarina Império do Brasil”, traduzido do italiano por Lucas Alexandre Boiteux, e publicado na revista Blumenau em Cadernos em 1959.

Quando as famílias chegavam, em vez de encontrarem os terrenos medidos, com suas casas provisórias e um trecho de floresta derrubado com suas estradas para localizá-los, nada existia. Foi necessário improvisar-se barracões com capacidade para 50 a 60 famílias e neles abrigá-las provisoriamente, enquanto os engenheiros metiam-se nos matos em todas as direções, medindo terrenos para toda aquela gente.

Escreveu Ganarini: como houvesse interesse que o serviço se prolongasse bastante, não havia grande pressa, nem se olhava se os terrenos eram próprios à cultura, e por isso muitos colonos descontentes tiveram de mudar de sítio ou desgostosos retornar à pátria ou ir para a Argentina. Todas aquelas famílias encontravam-se como que acampadas, ociosas, em torno de Brusque, excetuando-se as ocasiões em que a administração lhes proporcionava alguns dias de trabalho na abertura de estradas. Eram, aproximadamente, cem contos mensais que o Governo dispendeu durante quase dois anos com a sua manutenção.

Brusque tornara-se o centro da vida, uma torre de Babel. Alfaiates, sapateiros, operários, carpinteiros, barbeiros, e pintores, todos se aplicavam à mesma arte de nada fazer, enquanto os cidadãos laboriosos, face àquela crescente ociosidade, suspiravam pelo momento de poder entrar em suas terras. Desse tempo data o engrandecimento de Brusque, que em 1880 era uma povoação à esquerda do rio, constituída de casas estilo alemão, mais asseadas, cobertas de telhas, com alguns graciosos palacetes de dois andares.

Surgiram bodegas e casas comerciais e, quase por encanto, construiu-se uma ampla e bela igreja, benzida em 1879 e dedicada a São Luis Gonzaga. Em 1880 existiam duas escolas públicas católicas, e uma particular do pastor evangélico, uma agência do correio, tiro ao alvo, um pequeno teatro, três fábricas de cerveja, padarias, açougue, alfaiataria e os demais artesãos necessários à vida social.

Uma estrada carroçável à margem direita do rio Itajaí-Mirim, de 38 quilômetros, liga Brusque com o porto de Itajaí, e uma outra de 28 quilômetros, passando pelo Morro da Onça, liga Brusque com Nova Trento. Sobre o rio, fazendo vez de ponte, duas balsas transportam carros, animais e pessoas; e, em outros pontos existem canoas para dar passagem às pessoas de uma margem à outra.

Padre Ganarini prossegue, dizendo que as melhores terras em torno de Brusque estão ocupadas por alemães, enquanto os italianos, situados mais no fundo dos vales, nem sempre puderam alcançar terras boas e planas. Havia montes pedregosos, próprios somente para a plantação da mandioca. E, particularmente os lombardos, habituados à planura de sua pátria, com aquela antipatia que manifestavam à mandioca, vendo que o terreno não se prestava ao milho e a outros produtos a que estavam acostumados, tornaram-se indiferentes às suas terras e mudaram de sítio assim que o Governo lhes suspendeu a devida subvenção.

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