Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Imortalidade e vida pública

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Imortalidade e vida pública

Rosemari Glatz

Dênis Diderot, filósofo e escritor francês do século XVIII, já dizia que “a imortalidade é uma espécie de vida que se adquire na memória dos homens”. Diderot foi um dos primeiros escritores que fez da literatura um ofício, sem esquecer que, antes de tudo, era um filósofo e não um literário. Sempre se preocupou com a natureza do homem, tendo sido um grande admirador da vida. E você, como quer ser lembrado? Que imortalidade está produzindo?

Vivemos como se fosse para sempre. Quando criança e adolescente, acreditamos que temos o mundo inteiro pela frente, e muitas vezes agimos de forma inconsequente e até irresponsável. Mas na criança e no jovem se tolera muita coisa. São as inconseqüências típicas daquela fase da vida. Porém o tempo passa e nos tornamos adultos. No entanto, muitos chegam à velhice com a mesma atitude inconsequente e irresponsável. Esquecem de crescer e ignoram que suas ações e palavras têm impacto sobre o núcleo familiar, sobre o coletivo, sobre a comunidade, sobre a cidade e, muitas vezes, até sobre uma nação inteira. E, pior ainda, é quando vemos isso na área pública, nos ditos “representantes do povo”.

Estamos em pleno período eleitoral. 15 de novembro já “bate à porta” e nossos candidatos aos cargos eletivos já “deram as caras”.

É interessante observar a movimentação política: em tempos de campanha eleitoral – mesmo com a pandemia que vivemos neste momento -, é comum encontrar candidatos a cargos eletivos frequentando cafés, restaurantes e até circulando em supermercados para se mostrarem ao povo… É um tal de sorrir e cumprimentar para cá e para lá, não interessa se a pessoa é um conhecido ou estranho…afinal, cada pessoa é um possível eleitor e tudo se resume a um teatro coletivo.

É uma pena, mas infelizmente ainda temos muitos políticos profissionais. Pessoas que esquecem que, acima de tudo, são cidadãos comuns. E que, uma vez ocupando um cargo eletivo – seja o de vereador ou prefeito -, estão a serviço do povo e devem servir ao interesse do povo.

Alguns querem se eleger como vereador pelo subsídio (salário). Há os que, mesmo em tempos de “vacas magras”, sequer consideram discutir a redução do subsídio, pois dependem dele para viver. Vereador não é uma profissão e é compatível com o desempenho de outras atividades. É uma questão de gestão do tempo e organização da agenda, pois as principais atribuições de um vereador são fiscalizar e julgar as contas do Executivo, e legislar sobre assuntos de interesse da população. Ou seja, dá para continuar a trabalhar ao mesmo tempo em que se exerce o cargo de vereador.

Mas quantas pessoas estariam dispostas a exercer o cargo de vereador recebendo apenas um subsídio simbólico, ou nem recebendo nada, tal qual um presidente de associação de bairro ou um líder da igreja, por exemplo? Quantos teriam disposição, vontade de aprender e servir ao público, doando suas horas de descanso e lazer pela comunidade?

Talvez você seja um ótimo líder de bairro, na igreja ou na escola e nunca tenha considerado a possibilidade de se candidatar a um cargo eletivo. Ou, caso tenha considerado, talvez tenham lhe dito que você não serve para isso, pois é honesto demais.

Mas é disso que precisamos. Do honesto. Do certinho. Do ético. Do integro. Do disposto a se doar pela comunidade. De pessoas capacitadas e que fazem a diferença. Que tenham a clareza de como querem ser lembradas e que não se corrompam com o poder. Que não esqueçam as suas origens e o povo que estão representando. Que acrescentem, ao invés de dividir, e que tenham consciência da imortalidade que estão produzindo, sem esquecer que, antes de tudo, são cidadãos e não políticos.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo