Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Kiko do INPS e o seu sonho de estar na faculdade

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Kiko do INPS e o seu sonho de estar na faculdade

Rosemari Glatz

Esta é uma história real, e o conteúdo aqui compartilhado foi adaptado do texto produzido por Marise de Souza Gartner, filha do popular Kiko do INPS.

Era 23/07/1926 quando uma família se mudou para Brusque com dois filhos. Basílio Manoel de Souza era um tropeiro tijucano e Augusta Dutra de Souza, uma professora nascida em Itajaí. Um mês depois, em 23/08, nasceu Aurelino de Souza. O nome, muito sério para uma criança, logo foi substituído por Kiko, como sempre foi conhecido.

Moravam numa casa anexa à escola e Kiko aprendeu a ler muito novo, espiando as aulas de sua mãe. Menino, acompanhava os irmãos na catequese onde o padre deixava ele ficar junto. Quando chegou a época de preparação da Primeira Comunhão dos irmãos, o pequeno Kiko bateu pé, argumentando que tinha todo o direito de tomar a comunhão pois não havia faltado às aulas, podia ler a Bíblia e sabia as lições passadas. Não teve jeito e o padre o aceitou como catequizando com apenas cinco anos de idade.

Tendo crescido na Limeira em volta da escola que hoje leva o nome de sua mãe (EEF Augusta Dutra de Souza), e tendo convivido com seu pai, que era tropeiro, carroceiro e negociante, Kiko conhecia muita gente e acrescentava amigos à sua existência. Em 1946 se casou com Esmeraldina de Souza, outra professora em sua vida. Já morando na Santa Terezinha, em Brusque, o casal teve três filhas: Ivone, Mariléia e Marise, todas professoras. Ainda tiveram um menino de nome Francisco Carlos, que faleceu aos 15 anos de idade.

Kiko foi barbeiro, padeiro, motorista de caminhão. Tinha muito orgulho de ter ajudado a criar e de trabalhar no Samdu (Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência), onde foi motorista da ambulância e conheceu muita gente. Era amigo dos médicos, dos enfermeiros e dos assistidos. Como uma pessoa que gostava muito de aprender e por ter abandonado a escola cedo, já adulto se propôs a estudar e formar-se no segundo grau. Fez parte da construção do extinto Colégio Cenecista Honório Miranda, estudando à noite, durante a semana, e construindo o prédio do colégio junto com a comunidade aos sábados e domingos.

Quando o Samdu foi extinto e os serviços agregados ao INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), Kiko se inscreveu no concurso para ser Agente Administrativo. As lembranças da filha Marise sobre essa época, são de ver o pai estudando, estudando e estudando. O esforço foi recompensado e seu nome estava na lista dos aprovados. O “seu Kiko”, então, realizando outro sonho, trabalhou na previdência (INPS) até sua aposentadoria. Mas ele tinha mais um sonho: estar na faculdade.

Marise escreveu que seu pai era caprichoso, paciente, e levava jeito com as mãos. Certa vez, um primo lhe mostrou uma réplica da bateira que ele usava para pescar quando menino, feita com madeira e um canivetinho simples. Animado, seu Kiko fez um pequeno carrinho de mão. E uma canoa. E uma carroça. Cada peça pronta era inspiração para outra. Fez réplicas de casas alemãs, polonesa e italiana. De engenhos, olaria, carros de mola, das igrejas católica e luterana. Da caleça mortuária, de pontes, e até da icônica chaminé e da fábrica Renaux.

A produção, que durou cerca de trinta anos, só pausava quando ele e sua amada esposa, Esmeraldina, saiam para dançar. Quando ela faleceu, em 2012, seu Kiko perdeu o seu par, o compasso da dança e a inspiração para continuar fazendo suas miniaturas. Ele faleceu em 2021, e a Brusque que ele construiu, nostálgica e pequena, foi doada pelas filhas para a Unifebe, onde as peças estão expostas na Brusque Antiga em Miniaturas. E agora, de algum lugar especial, seu Kiko vê seu grande sonho de vida finalmente realizado: estar na faculdade.

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