Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

O manual do bom político

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

O manual do bom político

Rosemari Glatz

O final do ano se aproxima e, faltando dois meses para novas eleições municipais, são claras as movimentações para a disputa das eleições marcadas para novembro. Nos últimos meses, foi um tal de se desligar de um partido, filiar-se a outro. E por aí vai. E nós, enquanto eleitores, precisamos ficar atentos à essas movimentações. Afinal, não podemos “engolir” mais uma e depois sair posando de vítimas! Também temos responsabilidade neste processo, e o desejável seria que só elegêssemos políticos que realmente estivessem aptos a servir ao povo, e não a servir aos seus próprios interesses ou aos interesses de grupos específicos.

“Política é política”, e não muda rapidamente…

Para ilustrar a expressão, compartilho com você, caro leitor, fatos que se passaram faz 90 anos e ainda continuam atuais. As próximas linhas são resultado da adaptação do texto “Manual do bom político”, escrito por Lorenzo Aldé.

“Irônico e contundente, um prefeito ilustre tem muito o que ensinar a candidatos e eleitores. Conheça Graciliano Ramos, o administrador, em todo o seu estilo, através dos seus relatórios.

Interior das Alagoas, ano de 1926.

Um prefeito é assassinado no meio da rua por um fiscal tributário. O delegado de polícia persegue o fiscal e o executa. No ano seguinte haveria eleições municipais. Os caciques locais, no poder há quatro décadas, decidem lançar candidato um cidadão inexperiente.

Ele reluta, recusa, mas, açoitado por maledicências (“tem é medo de fracassar? ”), sua hombridade fala mais alto, e o homem candidatou-se. Sequer fez campanha. Acabou eleito à moda da época. “Assassinaram o meu antecessor. Escolheram-me por acaso. Fui eleito naquele velho sistema das atas falsas, os defuntos votando”. O que esperar de um processo que transcorreu desse modo, na terra dos coronéis, em plena República Velha? Tudo! Menos um administrador público exemplar, futuro grande nome da nação.

O nome é Graciliano Ramos. Ele mesmo, o escritor! E, ainda que não tivesse obtido consagração literária – coisa pouca: Memórias do cárcere, Vidas secas, São Bernardo… –, sua breve carreira de prefeito em Palmeira dos Índios já mereceria registro. Tanto que, na época, virou assunto até em jornais do Rio de Janeiro. De onde veio tamanha repercussão? De seus escritos, mas não os escritos literários, os quais teve que deixar de lado para dedicar-se ao cargo público que lhe caiu no colo. Valeu a pena. O que redigiu, entre 1929 e 1930, foram relatórios anuais para o governador de Alagoas, Costa Rego, prestando contas de sua gestão. Duas pérolas de estilo, ironia e sagacidade.

Noventa anos depois, os documentos têm o frescor de uma fotografia digital. E a utilidade de um verdadeiro manual de decência na administração pública, tanto pelo que fez e como se comportou, quanto pelo que deixou de fazer e criticou – todos os vícios do modus operandi tradicional de nossa política. 

Os ensinamentos de Graciliano Ramos, no que se refere a política, se resumem em seis lições: impor autoridade; nepotismo é palavra a ser riscada do caderninho; conhecer as leis; gerenciar bem os recursos; priorizar os desamparados, e apaixonar-se! E, ainda conforme Aldé, o escritor teria dito, em seus relatórios: “Para os cargos de administração municipal, escolhem, de preferência, os imbecis e os gatunos. Eu, que não sou gatuno, que tenho na cabeça um parafuso de menos, mas não sou imbecil, não dou para o ofício e qualquer dia renuncio”.

Renunciaria, sim! Mas só dois anos depois.

As nossas eleições municipais estão logo aí. E se você é candidato, deveria se inspirar nas lições Graciliano Ramos. Se é eleitor, também. Seguir seu exemplo de ética, retidão e comprometimento é pura obrigação.

Fonte: Manual do Bom Político. Disponível em: http://profjanaina.blogspot.com/2012/10/manual-do-bom-politico.html. Acesso em 14 set 2020.

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