Patrimônio Histórico: Renaux, Buettner e Schlösser
O que de fato merece ser preservado do nosso patrimônio histórico material? Faço aqui um link com o artigo que publiquei nesta coluna no dia 26/03, quando convidei o leitor a refletir sobre a necessidade de distinguir os passados usáveis, dos passados. Em minha opinião, entre os “passados usáveis” de nossa região estão as edificações cuja memória conta a história da indústria têxtil em Brusque e que, ainda que suas portas e espaços não estejam abertos para o público, reúnem condições para se transformar num roteiro turístico histórico simplesmente pelo que foram e ainda são para a memória coletiva local e regional.
Destaco as indústrias centenárias Renaux, Buettner e Schlösser, que já não operam mais faz alguns anos, mas das quais ainda restam partes dos seus parques fabris. Eles materializam as memórias de milhares de famílias que, geração após geração, viram as suas próprias histórias de vida entrelaçadas com os fios que teceram a história de Brusque durante mais de cem anos. É tamanha a força destes “passados usáveis” que qualquer pessoa que viva em Brusque deveria, no mínimo, conhecer a essência de cada uma destas indústrias. E contribuo:
Renaux: a transformação da economia de Brusque, de colonial para industrial, se deve ao imigrante alemão Carlos Renaux. Ele era comerciante e político, e foi motivado a empreender na área têxtil por tecelões emigrados de Lodz (Polônia) que não se adaptaram ao trabalho agrícola.
Em 1892, motivado pelos tecelões de Lodz, Carlos Renaux criou a primeira indústria têxtil que realmente se desenvolveu na cidade (Fábrica de Tecidos Renaux). Em 1900, Renaux instalou a primeira fiação de algodão de Santa Catarina, que rendeu a Brusque o título de “Berço da Fiação Catarinense”. Em 1918 a empresa foi transformada em sociedade anônima e passou a denominar-se Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S/A. Após de mais de cem anos de histórias de sucesso, a empresa entrou em declínio e, em 2013, decretou falência.
Buettner: o primeiro empreendimento da família em Brusque foi uma loja de secos e molhados. Os negócios da família eram administrados pela esposa, a polonesa Albertine Burow von Buettner. Em 1896, o filho Edgar foi para a Polônia aprender a bordar com máquinas e retornou ao Brasil em 1899, trazendo duas máquinas de bordar à manivela. Em 1900, Edgar e sua mãe Albertine fundaram a empresa E.v.Buettner & Cia., precursora da Buettner S/A Indústria e Comércio.
A empresa expandiu e agregou os segmentos de fiação, tecelagem, estamparia e tinturaria. A Buettner foi a primeira e, durante muito tempo, a única fábrica de bordados e rendas no Brasil. Se transformou numa grande indústria de cortinas, passou a produzir tecidos em geral, mosquiteiros de filó, guarnições de mesa estampadas e tecidos de revestimento de móveis estofados. Em 2011 a empresa entrou em recuperação judicial e, em 2016, sua falência foi decretada.
Schlösser: a história da família no Brasil começou em 1896, quando o imigrante Gustavo Schlösser, um tecelão de Lodz (Polônia) chegou a Brusque com a família para trabalhar como técnico têxtil na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Schlösser trabalhou por 15 anos como mestre na Renaux. Em 1911, constituiu a sua própria empresa em sociedade com seus filhos Hugo e Adolph, a “G. Schlösser & Filhos”. Considerada a terceira grande empresa têxtil a iniciar operações na cidade, a Schlösser cresceu e passou a fabricar toalhas de copa, mesa, rosto e banho, além de tecidos em brim. No ano de 1933, a firma foi transformada em Sociedade Anônima, passando a ser denominada “Companhia Industrial Schlösser”. Com a abertura comercial do Brasil, não conseguiu competir com as importações e entrou em processo de recuperação judicial, encerrado em 2018.