Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Técnica construtiva enxaimel: preservação e objeto de estudo

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Técnica construtiva enxaimel: preservação e objeto de estudo

Rosemari Glatz

Quando os primeiros alemães chegaram na nossa região, a arquitetura enxaimel foi considerada adequada para as condições encontradas. Além de fortes, as casas eram baratas e de construção simples. Também houve a necessidade da adaptação do sistema construtivo às limitações impostas pelo meio, pela disponibilidade de matéria-prima e pelas exigências climáticas.

Apesar da ocorrência do frio, as altas temperaturas que também são registradas no Vale Europeu, onde o Vale do Itajaí-Mirim se insere, exigiram novos processos arquitetônicos. O fogão e a cozinha como elemento centralizador do padrão europeu perderam relativa significância por aqui, sendo inicialmente separado dos demais cômodos. Mais tarde, com a introdução dos fogões esmaltados, a cozinha voltou a se integrar à casa. Outro elemento agregado no Brasil foi a varanda, devido ao calor e a ocorrência das chuvas tropicais. Na adaptação da técnica construtiva enxaimel às características climáticas da região, também foi necessária a implantação, por conta da elevada umidade local, de uma estrutura feita de pedra que sustenta as construções, evitando que a madeira se molhe.

Enxaimel quer dizer enchimento. E diversos elementos estruturantes compõem a técnica construtiva enxaimel como os baldrames, os frechais e as tesouras como componentes do telhado, a composição dos esteios e os barrotes para escoras da estrutura. O sistema de treliças que dá estabilidade à estrutura é um elemento caracterizante dessa técnica construtiva. Nas casas edificadas em enxaimel primeiro era construído o esqueleto da casa e entre as vigas verticais eram colocadas as vigas horizontais e, nas extremidades das paredes, algumas vigas em ângulo, para evitar inclinação. Os tirantes de madeira dão estilo e beleza às construções enxaimel, produzindo um caráter estético único.

Pronta a “caixa”, os espaços eram preenchidos com materiais disponíveis de acordo com a região, basicamente por taipa, adobe, tijolos, pedras ou outros recursos disponíveis na época da construção, como barro socado e outros tipos de rochas. Em Santa Catarina, há maior ocorrência de tijolos maciços sem uso de reboco. As casas na técnica construtiva enxaimel em Brusque e região também adotaram este padrão e os elementos estruturantes que compõem a arquitetura enxaimel por aqui eram estruturados com toras grossas de madeira extraídas pelos próprios colonizadores da abundante floresta nativa. Passados 162 anos da colonização de Brusque e Guabiruba, em 2022 nossa região ainda possui muita floresta preservada, a maior parte dela inserida no Parque Nacional da Serra do Itajaí.

O enxaimel possui muitas vantagens: possibilita ser montada rapidamente, podendo ser desmanchada e reconstruída em outro espaço. Resiste a abalos sísmicos e permite sua restauração por completo, perdurando por gerações. Marcadas por uma beleza e imponência características, as construções enxaimel carregam toda a disciplina, dedicação e personalidade alemã para diferentes áreas colonizadas por imigrantes alemães no Brasil.

Um local que tem esse DNA alemão é Guabiruba, onde muitas casas enxaimel foram construídas pelos próprios imigrantes alemães, sendo que alguns exemplares ainda sobrevivem: em 2022, são menos de vinte casas enxaimel que ainda resistem ao tempo. Em Brusque, são raras as construções na técnica construtiva enxaimel que resistiram. Mas todas são importantes elementos representativos da técnica construtiva herdada dos imigrantes alemães e merecem ser preservados, valorizando aquilo que temos de tão importante: a cultura dos nossos antepassados. E, de carona, também são objeto de estudo de acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil, por exemplo.

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