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Xokleng, os indígenas em Brusque – Parte I

Na história dos “Vales do Itajaí” os colonizadores europeus são descritos como tendo enfrentado muitas dificuldades iniciais, incluindo a difícil vivência com os nativos. São vários os registros de enfrentamentos que por vezes deixaram resultados fatais para ambos os lados. É uma história que devemos conhecer. Assim, nesta sequência de artigos, compartilho informações que propiciam […]

Na história dos “Vales do Itajaí” os colonizadores europeus são descritos como tendo enfrentado muitas dificuldades iniciais, incluindo a difícil vivência com os nativos. São vários os registros de enfrentamentos que por vezes deixaram resultados fatais para ambos os lados. É uma história que devemos conhecer. Assim, nesta sequência de artigos, compartilho informações que propiciam conhecer um pouco mais sobre os índios brasileiros Xokleng/Laklãnõ, povos originários que habitaram a região antes da chegada dos europeus.

Laklãnõ significa gente ligeira, que conhece todos os caminhos. Pela literatura antropológica, a região de Brusque era habitada pelos índios Xokleng/Laklãnõ que regionalmente são mais conhecidos como “Bugres” e “Botocudos”. A denominação “Botocudos” está associada ao uso de um enfeite labial pelos homens, denominado tembetá, ou “Bugres”, designação que também foi dada pelos brancos, mas com sentido pejorativo. No artigo intitulado: Os Conflitos Étnicos entre Colonos e Índios no Sul de Blumenau/SC – 2012), Martin Stabel Garrote cita Wiik (1999) e explica que a denominação Xokleng foi inventada pelos brancos, sendo também conhecidos como “Bugres”, “Botocudos”, “Aweikoma”, “Xokleng”, “Xokrén”, “Kaigang de Santa Catarina” e “Aweikoma-Kaingang”.

Os Xokleng/Laklãnõ, eram um povo migrante entre o litoral e o planalto. Habitavam florestas que cobriam as encostas das montanhas, os vales litorâneos e as bordas do planalto do Sul do Brasil, vivendo da caça e da coleta. A floresta atlântica e os bosques de pinheiros (araucária) forneciam tudo o que eles necessitavam para sobreviver. Caçavam diferentes tipos de animais e aves, coletavam mel, frutos e raízes silvestres. E tinham o pinhão como um dos principais recursos alimentares.

O território que ocupavam não tinha contornos bem definidos. As rotas de perambulação eram frequentadas de acordo com o seu potencial em suprir, através da caça e da coleta, as necessidades alimentares do grupo. Mantinham uma disputa secular com os povos Guarani e o Kaingang, disputando o controle do território e dos recursos. Ainda de acordo com Garrote, antes do contato com o branco, o território tradicional dos Xokleng se estendia do planalto até o litoral, aproximadamente de Porto Alegre até os campos de Curitiba e Guarapuava no Paraná, e incluía quase todo o centro-leste de Santa Catarina. Os planaltos eram de predominância da araucária, fonte de alimento durante os meses de inverno para o Xokleng/Laklãnõ, e de intrigas e disputas com os Kaingang e Guarani pelo pinhão e pela fauna.

Em relação à organização social, Silvio C. dos Santos, no artigo intitulado: Os Xokleng, Hoje (publicado na revista Blumenau em Cadernos em 1965) escreveu que os Xokleng/Laklãnõ estavam divididos em grupos locais formados por contingentes de 50 a 300 indivíduos, aparentados entre si. Em cada grupo, as famílias eram constituídas com base na monogamia, poliginia, poliandria e no chamado “casamento conjunto”. Usavam pinturas corporais que estavam associadas a grupos de nomes e a cinco clãs, e a função dessas pinturas era “afastar os Kupleng” – isto é, o espírito dos mortos.

O território dos Xokleng/Laklãnõ passou a ser ocupado por povos não índios na primeira metade do século XIX, com a política de ocupação de terras nos campos de Lages (SC) e na região de Guarapuava (PR). Em uma carta régia, de Dom João VI declarou guerra aos bárbaros índios “Bugres” e “Botocudos” nestas localidades (Garrote (2012). Aos poucos povos originários perderam o seu território para as frentes colonizadoras que, pelo extremo Sul no Rio Grande do Sul avançavam para o Norte, e pelo Paraná avançavam para o Sul. O índio passou a se refugiar em terras de difícil acesso e menos ocupadas, adentrando as serras da Mata Atlântica de Santa Catarina.