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Xokleng, os indígenas em Brusque – Parte III

Em 7/12/1855, Julius Blumenau escreveu uma carta ao seu irmão, Hermann Blumenau, onde relatou um ataque de índios a uma residência localizada próxima à serraria de Salenthien e Gaertner, em Pedras Grandes (Brusque). Na carta, Julius contou que os colonos não levavam a sério os pequenos ataques dos nativos […], e diz: “antes, aqui todos […]

Em 7/12/1855, Julius Blumenau escreveu uma carta ao seu irmão, Hermann Blumenau, onde relatou um ataque de índios a uma residência localizada próxima à serraria de Salenthien e Gaertner, em Pedras Grandes (Brusque). Na carta, Julius contou que os colonos não levavam a sério os pequenos ataques dos nativos […], e diz: “antes, aqui todos riam dos bugres, como aqui são chamados, porque raramente eles apareciam, e quando isto acontecia, era para roubar, não para matar”. É notável que alguns colonos não temiam os nativos, entretanto, um acontecimento singular mudou as concepções de suas seguranças pessoais.

Em 9/11/1855, Paul Kellner, com 2 trabalhadores, um belga e um suíço, estavam trabalhando num açude quando foram atacados a flechadas por índios. O suíço morreu na hora e o belga na noite do mesmo dia. Paul Keller ficou ferido. Os cuidados médicos que lhe dispensou o sábio Fritz Müller, e a sua natureza robusta e sólida, auxiliaram-no a refazer-se. Edith Kormann (1994), no livro “Blumenau: arte, cultura e as histórias”, também cita o acontecido entre os nativos e os colonos em Brusque na década de 1850.

Considerado um dos precursores do vale do Itajaí-Mirim, Paul Keller era sobrinho do Dr. Hermann Blumenau, e um dos 17 colonos pioneiros fundadores de Blumenau. Kellner havia se estabelecido no Vale do Itajaí Mirim por volta do ano de 1853, onde tinha requerido terras, tal como também o fizeram Salenthien e Gaertner. Kellner tinha um projeto que exigia uma área mais extensa de terras, porém, como as terras devolutas na região estavam ficando cada vez mais escassas, ele só as obteve em Pedras Grandes. Isso ainda anos antes da fundação de Brusque em 1860.

Em relação aos acontecimentos envolvendo os índios e os colonos depois de 1860, há farta documentação nos arquivos do Museu Casa de Brusque. Transcrevemos aqui parte de dois ofícios do Barão Maximilian von Schneeburg, primeiro Diretor da Colônia Itajahy (Brusque), dirigidos ao Presidente da Província e publicados por José Ferreira da Silva (1970).

O primeiro é de 5/09/1863, e diz: “Tendo-se mostrado de novo os índios (bugres) no Ribeirão do Cedro, lugar denominado Pedra Grande, no rio Itajaí-Mirim, contíguo à Colônia, no mesmo lugar onde em março do corrente ano já pereceram três vítimas, levo ao conhecimento de V. Excelência, a reaparição desses gentios e rogo mandar-me uma força de soldados com sua necessária munição que, batendo as matas seguindo as extensas e largas picadas dos bugres, os afugentem e expilam dos seus estabelecimentos, estacionando nos lugares mais expostos aos ataques repentinos dos bugres, protegendo e defendendo assim as vidas e propriedades das família, o que os colonos, por si e sem disciplina regular, moradores em dispersos e distantes lotes, além de grandes despesas, debalde tentariam alcançar”.

O outro ofício é de 10/12/1863 e diz: “Na noite seguinte à partida de V. Excelência desta Colônia, reapareceram os bugres noturnamente, fazendo bulha no mato, batendo nas árvores e imitando gritos de galinhas, no mesmo lugar em que V. Excelência foi reconhecer uma pessoa nos lotes de João Jorge Schmitt e Carlos Mathus. Os animais e cães refugiaram-se, uivando, para as casas dos ditos colonos e, assim, toda a gente está com medo e alarmada. Ontem, no dia 9 do corrente mês, pela tarde, apareceu junto à casa de Gustavo Rose, um porco do mato a toda brida e, pouco depois, a mulher do mesmo colono, viu as costas nuas, de cor castanho, de alguém que abaixo engatinhou ao longo da cerca de sua roça para o rio Guabiruba, desaparecendo no mato. Envio gente armada para bater de frente e dos fundos destas situações os matos, e para perseguir os rastos, caso os encontrassem. Eu mesmo vou com um partido, e o escriturário com outro. E quanto tenho com pressa de levar ao conhecimento de V. Excelência para que determine as providências como bem julgar”.