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Rua dos cinco gêmeos

Via do São Pedro, em Guabiruba, concentra moradores que tiveram a experiência da gravidez múltipla

A rua Marcos Habitzreuter abriga 16 casas, boa parte delas com integrantes da família Habitzreuter. Mas existe uma peculiaridade que a diferencia das demais vias do bairro São Pedro, em Guabiruba: há 5 casais com filhos gêmeos.

Apenas dois casos de gêmeos não são da família, mas como eles moram na rua há muito tempo, criaram um vínculo com os moradores.

Os moradores até brincam que a água do local deve ser batizada para ter tanto gemelar por perto. Os guabirubenses recordam que na rua principal do bairro há ainda outros casos de gestações múltiplas. Quando se reúnem, os familiares e amigos fazem festa e aproveitam para lembrar como foi criar os gêmeos praticamente ao mesmo tempo.

Com os vários casos de gêmeos na rua, moradores criaram um vínculo especial / Foto: Eliz Haacke

Pontapé inicial
O primeiro casal a ter gêmeos na rua foi Teresinha e Jose Rubens Habitzreuter, ambos com 63 anos. Rubia Habitzreuter Dirschnabel e Helinton Habitzreuter, atualmente com 32 anos, nasceram em 1987. Os pais já tinham dois filhos, Hentoni e Camila, quando descobriram a gravidez.

Ela recorda que fez um tratamento para engravidar de Camila e por um acaso do destino, pouco tempo após o nascimento da filha descobriu que estava grávida novamente. Ela sempre planejou ser mãe, mas foi pega de surpresa pela terceira gravidez. No entanto, Teresinha só foi descobrir a notícia de que esperava dois bebês quando estava com sete meses.

Na época era muito caro fazer um exame de ultrassom. Apesar das dificuldades, ela diz que as três gestações foram tranquilas, mesmo tendo que cuidar da pressão.

Pouco antes de Rubia e Helinton nascerem, Teresinha recebeu a notícia de que seu pai tinha pouco tempo de vida. Abalada com a informação e grávida, ela perdeu alguns quilos e quase teve depressão.

Os pais Jose Rubens e Teresinha Habitzreuter com os gêmeos Helinton Habitzreuter e Rubia Habitzreuter Dirschnabel / Foto: Eliz Haacke

Camila tinha 1 ano e dois meses quando os irmãos nasceram. No dia ela tinha uma consulta, mas acabou passando mal. O médico preferiu interná-la e logo fez a cesárea.

Eles chegaram ao mundo no dia 12 de fevereiro, apesar de estarem programados para as primeiras semanas de março. O primeiro foi Helinton seguido por Rubia. Os gêmeos de placentas separadas precisaram ficar no hospital por cinco dias, mas não apresentaram nenhum problema mesmo sendo prematuros.

Teresinha precisou cuidar dos três simultaneamente e para isso contou com a ajuda da cunhada e de uma funcionária. “Aos domingos a minha diversão era passar fralda”, conta aos risos.

Apesar dos percalços da vida, Teresinha garante que os filhos são motivo de alegria. “Foi um susto grande, mas hoje eles estão aqui com saúde e perfeitos”.

Troca de experiências
Depois foi a vez dos gêmeos José Felipe e José Lucas Habitzreuter, ambos com 25 anos. A mãe deles, Iria Ebele Habitzreuter, 56, conta que tem histórico de gêmeos na família dela e do esposo, José Inácio Habitzreuter, 60, mas nenhum caso é próximo.

Na época, eles já eram pais de Eduardo Habitzreuter, que tinha 3 anos, quando decidiram engravidar novamente. Apesar de terem planejado a gravidez, eles foram pegos de surpresa com os gêmeos.

“Foi muito bom, foi diferente, uma sensação estranha. Eu não sabia se ria ou chorava, como reagir. Foi assustador e bom ao mesmo tempo”, revela.

Lucas ao lado do pai José, com a mãe Iria e o irmão Felipe / Foto: Arquivo pessoal

Apesar de esperar dois bebês, a gravidez não foi muito difícil. O único susto que teve foi quando a gestação completou dois meses. Iria teve algumas dores e ficou com medo de perder o bebê. Durante o ultrassom para descobrir se estava tudo certo, o médico revelou que ela esperava duas crianças.

“Meu marido não estava junto, cheguei lá e o médico disse que eram dois. O doutor pediu para não contar ao pai e esperar ele vir na consulta. Durante a consulta ele mostrou os dois corações batendo, aí ele começou a chorar”, conta a mãe.

Ela lembra que trocava experiências com Teresinha e contou com a ajuda da mãe para cuidar dos pequenos.

Dois casos na mesma família
Nesse meio tempo, Eliete Marcia Allein, 54, e o esposo Arnaldo Allein, 55, que até então moravam em Brusque, se mudaram para Guabiruba e, por coincidência, o casal que já tinha duas filhas gêmeas foi morar na rua Marcos Habitzreuter. Deise e Denise Allein tinham 11 anos na época.

Eles criaram um grande vínculo com os demais moradores da rua. As crianças estudavam na mesma escola e brincavam juntas. Para ela, morar na rua dos gêmeos é muito divertido.

Eliete Marcia e Arnaldo Allein com as gêmeas Deise e Denise / Foto: Eliz Haacke

No encontro realizado para produzir esta matéria, Eliete descobriu que a rua tem mais gêmeos do que imaginava. “Eu nem sabia que tinha gêmeos na casa da frente. É legal porque eu conheço eles, eles têm a mesma idade das minhas filhas e estudaram juntos”, explica.

Anos depois, em novembro de 2015, foi a vez de Denise ter filhas gêmeas. As pequenas Laura e Valentina Trebien iniciaram a segunda leva de gêmeos da rua Marcos Habitzreuter. Hoje, as meninas estão com quatro anos. Você pode conhecer melhor a história delas na matéria Gerações de gêmeas.

Denise com as gêmeas Valentina e Laura, o irmão Nicolas e o pai Cleiton Trebien / Foto: Eliz Haacke

Os mais novos
Três meses depois os irmãos Arthur e Bruno Habitzreuter Schlindwein vieram ao mundo. Rejane Habitzreuter Schlindwein, 40, e o esposo Luciano Schlindwein, 46, já eram pais de Heloise Habitzreuter, e tentavam engravidar novamente há alguns anos. Infelizmente, Rejane teve dois abortos espontâneos.

Devido às perdas dos bebês, eles estavam desistindo da ideia de engravidar novamente. Foi quando a mãe descobriu os gêmeos.

A avó de Rejane teve uma gestação gemelar, mas devido a complicações durante a gestação acabou perdendo os bebês.

Rejane Habitzreuter Schlindwein com os gêmeos Bruno e Arthur, a filha Heloise e Luciano Schlindwein / Foto: Eliz Haacke

Quando era mais nova, Rejane conta que pensava em ter gêmeos, mas com o tempo a ideia foi sumindo da sua cabeça. “O Luciano me lembrou que quando a gente namorava eu já falava em ter gêmeos”, conta. Para ela, a surpresa foi em dose dupla por finalmente ter engravidado, e em dose dupla.

Ela precisou entrar em repouso quando estava com sete meses para prolongar a gravidez. Os pequenos nasceram no dia 10 de fevereiro de 2015 com oito meses e cinco semanas. A gestação dos gêmeos foi tranquila, mesmo comparando com a da filha Heloise. O primeiro a nascer foi Arthur, com 2,615 quilos. Já Bruno veio ao mundo com 2,605 kg. Hoje, os gêmeos têm 4 anos.

A mãe conta que enquanto não teve os meninos passou despercebido o fato da rua ter vários gêmeos, mas depois do nascimento deles prestou mais atenção. “É legal e interessante escutar o depoimento de pessoas que têm gêmeos, inclusive adultos. Eu gosto de escutar”, revela.

Da esquerda para direita: Helinton e Rubia Habitzreuter; Bruno e Arthur Habitzreuter Schlindwein; Laura e Valentina Trebien; Denise e Deise Allein / Foto: Eliz Haacke

Você está lendo: Rua dos cinco gêmeos 


– Introdução
– Surpresa no dia do parto 
– Gêmeos em dobro
– Unidas pela maternidade
– O ABC da psicóloga
– As três Marias de São João Batista
– Gerações de gêmeas
– Vencendo morte
– Superação após perda 
– Os meninos da casa