X
X

Buscar

Ruan busca títulos em 2020 e abre o jogo sobre momentos difíceis no Brusque

Volante fala sobre início de carreira, títulos, treinadores e desentendimento com Pingo em 2018

Depois de 73 jogos e três títulos, o volante Ruan espera atingir, em 2020, a marca das 100 partidas defendendo o Brusque, mas sonha também com o momento no qual marcará seu primeiro gol com o manto quadricolor. “Penso em fazer um golzinho, pra ter um destaque ainda maior. O Zé Mateus neste ano como volante fez cinco”, comenta. Este destaque por gols o carioca já viveu, e lembra-se com alegria do momento.

Em 2013, Ruan disputava pelo Manhuaçu (MG) a Taça BH, um dos grandes torneios de categorias de base no Brasil. O grupo tinha Criciúma, Coritiba, Bahia, Botafogo e Tupi (MG). “Cheguei faltando 15 dias para o campeonato. O time montado, jurava que não ia jogar. No fim das contas, fui jogar como meia-esquerda. Faltando três dias, fui titular em coletivo. No primeiro jogo, contra o Bahia, empate em 4 a 4, fiz gol de falta. Contra o Tupi, um gol de fora d’área, de longe”, lembra.

Na época, o empresário de Ruan havia recomendado uma transferência ao Bahia. A família, de Florianópolis, achou uma melhor opção ir ao Criciúma. E assim foi feito. A carreira profissional do garoto de 18 anos estava iniciada, jogando a Série A do Campeonato Brasileiro.

A ascensão do volante foi interrompida após um Campeonato Catarinense exemplar, em 2015. “Eu era novo, o extracampo atrapalhava muito. Muita festa. Era solteiro, o extracampo estragava, era o problema.” Em 2016, o Tigre resolve emprestar o jovem jogador, que recebe uma ligação do diretor de futebol do Brusque, Carlos Beuting. O empréstimo é concretizado, e Ruan disputa Catarinense e Série D pelo Marreco, para retornar como jogador do clube em 2017.

Lesões

Ruan fez 35 jogos pelo Brusque no ano e poderia estar muito mais próximo dos 100 jogos ou já ter balançado as redes com a camisa do Brusque se não tivesse sofrido tantas lesões. Uma lesão muscular o tirou da Copa Santa Catarina por quase um mês, e por pouco as partidas das finais não foram perdidas. Na Série D, foi necessária um a cirurgia no menisco de um dos joelhos, além de uma lesão em um músculo adutor. “Só saí por causa de cartões e lesões”, comenta.

Os cartões, normais da vida de um volante, foram frequentes no ano de Ruan: nove amarelos e dois vermelhos, para um jogador que jamais havia sido expulso na carreira. “A expulsão contra o Hercílio Luz [ida da segunda fase da Série D] foi a minha primeira na carreira de jogador de futebol.”

Para Ruan, sua atuação na Arena da Amazônia foi uma das melhores da carreira | Foto: Lucas Gabriel Cardoso/Brusque FC

Série D

A campanha do título nacional do Brusque foi inesquecível para todos, e com Ruan não é diferente. Passar por uma fase de grupos e por cinco outras de mata-mata é tarefa difícil, e uma delas teve obstáculos em especial: a viagem a Juazeiro (BA), para enfrentar a Juazeirense no jogo de ida das quartas-de-final. O placar foi 1 a 0 para os anfitriões. “Nossa viagem não existe. Ir para Salvador, dormir lá para pegar ônibus pra Juazeiro, com o sol muito quente. É cansar demais. Jogar no outro dia, às três da tarde. E o cara [Cesinha] acertou um chute que nunca mais vai acertar na vida dele.”

“O segredo da Série D é esse: quando jogar fora primeiro, segura empate ou perde no máximo de 1 a 0, e em casa tem que atropelar. Em casa, só empatamos na final contra o Manaus ganhamos todos os outros jogos.”

Renovação

Após um 2019 que vai ficar marcado em sua vida para sempre, Ruan acertou novo contrato com o Brusque, e seu vínculo com o clube se estende até o fim de 2021. A duração de dois anos foi uma escolha do próprio jogador.

“Em um contrato de um ano, às vezes o jogador pode se machucar, ficar de fora muito tempo e o clube não querer renovar. O clube tem esse direito. Penso muito nisso. Tenho família, uma filha, e estou pensando que, se o Brusque conseguir subir, tenho um ano de contrato para jogar a Série B. É tudo muito calculado.”

Além de algumas possibilidades do exterior, Caxias (RS), Volta Redonda (RJ) e Cascavel (PR) se juntaram às sondagens e propostas ao fim do contrato de Ruan. No caso dos clubes do Paraná e do Rio de Janeiro, eram contratos curtos. Entre o incerto e permanecer em um clube onde é titular e querido pela torcida, não restou dúvidas.

“A torcida tem abraçado muito mais o clube, principalmente depois desta campanha na Série D. A diretoria coloca os ingressos em valores acessíveis, tudo reflete dentro de campo. As pessoas comentam, querem vir nos apoiar.”

A gota d’água com Pingo

Em 2018, Pingo chegou ao Brusque e Ruan perdeu a titularidade. “Ele não me deu satisfação nenhuma, e o pessoal não entendeu”, relata. A relação azedou completamente em 31 de janeiro, na vitória por 2 a 1 sobre o Criciúma. Ruan entrou após o intervalo, recebeu um cartão amarelo aos 16 do segundo tempo e foi substituído por Clébson aos 21.

“Falei ‘mano, esse cara deve estar de sacanagem, querendo me queimar com os caras! Não é possível que ele tá me tirando! Eu já tava p*** que ele já tinha me tirado”, relata, com bom humor. Ele conta ainda que o técnico tentou conversar sobre o ocorrido, mas não recebeu chance para se explicar.

Esta foi a circunstância principal do empréstimo de Ruan ao Itumbiara (GO) no primeiro semestre, com Luizinho Vieira, técnico com o qual tinha trabalhado no Criciúma. Pingo seguiu no clube para a disputa da Série D, e sem querer voltar, o volante foi novamente emprestado, desta vez para o Camboriú.

Ruan foi campeão da Copa Santa Catarina 2018 com Pingo no comando, e voltou a jogar. “Era ele no canto dele e eu no meu, treinava normal, às vezes ele conversava comigo.”

Os problemas do início de 2018 estavam muito além de Pingo. O elenco não colaborava. “Foi o pior momento, o time correu risco de cair. Se houve um momento ruim mesmo, foi esse. No elenco os caras só queriam sair, era festa todo dia, tá louco.”

Técnicos

A campanha na Copa Santa Catarina foi ameaçada pelo péssimo começo: três empates e três derrotas sob o comando do técnico Evandro Guimarães. Para Ruan, o problema foi tempo. Quando peças fundamentais para o título como Bambam e Rodolfo Potiguar chegaram, o treinador já havia sido demitido.

“Ele chegou faltando uma semana para começar o torneio, o cara não teve tempo pra trabalhar, para entender o elenco. Mas quem me ligar para perguntar do Evandro, só tenho elogios, é gente boa demais. Mas quando não engancha, pode trazer o Pep Guardiola que não vai dar jeito.”

O mais correto, para Ruan, era que Evandro Guimarães sequer tivesse sido chamado às pressas, e que Jersinho Testoni tivesse assumido desde o início. “O Jersinho era que dava o treino pra gente desde a Série D”, afirma, e completa brincando: “O Waguinho ia lá e dava um migué, boleirão pra c****”.

“O Jersinho tinha todo mundo na mão, todo mundo sempre respeitou demais. O Waguinho era sempre muito motivador, é ótimo, excelente com o vestiário, bem paizão. Quando ele gosta do cara, leva com ele pra onde for.”

2020

“A expectativa é de ser melhor que esse ano, queremos começar buscando a Recopa. Conseguimos manter o elenco, vamos brigar pelo Catarinense. A Série C vai ser muito difícil. Pretendo fazer um ano bom. Está todo mundo motivado. Ganhar o Catarinense é difícil, mas não impossível. Ninguém acreditava no acesso à Série C.”

Acréscimos

Seu pior jogo de 2019: Boavista 2×1 Brusque – “Uma bola que o Jefinho [Jefferson Renan] tocou forte, eu não consegui dominar e os caras fizeram um gol.”

Seu melhor jogo de 2019: Brusque 5×0 Foz do Iguaçu, Manaus 2×2 Brusque, Brusque 6×1 Metropolitano.

Ídolo: Zidane

Referências na posição: Casemiro

Time de coração: Flamengo