Russa que mora em Brusque fala sobre a Copa do Mundo em seu país
Viktoria Sitnikova Schmitt conta experiências e choque cultural com o Brasil
A campanha da Seleção Russa de Futebol surpreende até mesmo os torcedores do país-sede da Copa do Mundo 2018. É o caso de Viktoria Sitnikova Schmitt, que mora em Brusque e é professora na For You Idiomas. Natural de Blagoveshchensk, na Rússia, Viktoria não esperava que a equipe da casa avançasse para as oitavas de final da competição, o que aconteceu: os russos agora encaram a Espanha na segunda etapa do Mundial.
Para ela, embora o país europeu seja apaixonado por futebol, a seleção nunca foi de gerar grandes expectativas. “A gente ouve pessoas falando que, por ser o país-sede, tem que ganhar, mas não é assim. A Rússia sempre perde, seja em casa ou fora. Mas por enquanto está jogando bem, fico feliz. Estou assistindo todas as partidas”, explica. Agora Viktoria se divide entre a torcida para o país natal e para o Brasil, onde mora desde 2014.
Viktoria se disse feliz em poder ver repercutir em todo o mundo, inclusive no Brasil, um pouco da cultura de seu país por meio das reportagens em emissoras nacionais. Contudo, ela diz que há um pouco de exagero na cobertura. “Tem muita coisa que eu acho que não é tão atual. A comida que dizem ser tradicional, por exemplo, eu nem comia. O próprio estrogonofe, na minha casa, era uma vez por ano”, explica.
A diferença do estrogonofe russo para o brasileiro, segundo Viktoria, é o uso da nata azeda ao invés do creme de leite, uma iguaria difícil de ser encontrada no Brasil. “Mas no fim o gosto acaba sendo o mesmo”, afirma a russa.
Copa longe de casa
As partidas da Copa do Mundo se concentraram na região oeste da Rússia, em municípios mais próximos da capital Moscou. O país-sede de dimensões continentais deixou de fora a maior parcela das regiões, principalmente na parte mais sudeste como a cidade de Viktoria, muito próxima da China – apenas o rio Amur separa os dois países.
Para estes russos, a Copa está tão distante e cara quanto para qualquer outro país. Aliás, o Mundial serviu apenas para inflacionar a economia local, como explica a professora. “Estas regiões próximas da Sibéria são sempre assim, pouco prestigiadas. Mesmo na cultura, como músicos internacionais, tudo é concentrado para a capital e arredores. O preço de um voo da minha cidade a Moscou, que é 7 mil quilômetros, está quase R$ 3 mil por causa da Copa. Em tempos normais é R$ 1 mil”.
Chegada em Brusque
O que trouxe Viktoria para Brusque foi um namoro virtual com seu agora esposo, brusquense. Apaixonada por idiomas, ela o conheceu no antigo programa de bate-papo ICQ. Com o tempo este relacionamento amadureceu e ela decidiu vir para o Brasil. “Não tive dificuldades em aprender o português. Foi com a convivência mesmo. Quem sabe falar o russo não acha nenhuma outra língua complicada”, brinca.
Para a russa, os povos dos dois países, que aparentemente são muito diferentes, têm semelhanças entre si. “Acho que o patriotismo que vocês têm é parecido com o russo. Essa coisa da torcida de futebol, de gritar e amar o país, me lembra muito a Rússia. A diferença é que o brasileiro é mais aberto, mais quente”, diz.
Por incrível que pareça, a russa diz sentir mais frio em Brusque do que na sua cidade natal. Isso porque a cidade registra temperaturas baixas mas não tem estrutura para amenizar o frio. “Na Rússia todas as casas, os carros e os prédios estão preparados para o clima abaixo de zero. Aqui além de tudo há muita umidade. Passo bastante frio”, explica.