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Saber concentrar-se

Saber concentrar-se é uma grande arte. Arte que auxilia grandemente na arte de viver. A concentração é um dos grandes instrumentos que o ser humano se serve em sua vida. Nem todos, porém, conseguem adquirir esse instrumento e servir-se dele satisfatoriamente. Em todos os momentos históricos, o ser humano sempre teve dificuldade de se aparelhar […]

Saber concentrar-se é uma grande arte. Arte que auxilia grandemente na arte de viver. A concentração é um dos grandes instrumentos que o ser humano se serve em sua vida. Nem todos, porém, conseguem adquirir esse instrumento e servir-se dele satisfatoriamente. Em todos os momentos históricos, o ser humano sempre teve dificuldade de se aparelhar com essa ferramenta, tão útil e até necessária, em certas circunstâncias da existência. O ser humano contemporâneo, creio, por várias razões enfrenta grandes dificuldades em adquirir e em usar a concentração. Por que será?

Primeiramente, porque se trata de uma conquista, de uma aquisição. Ela é fruto de um longo aprendizado. Exige treino constante. Um exercício contínuo. Por outro lado, observando o ser humano contemporâneo tem dificuldade em concentrar-se. Tentarei dar minha opinião. Certamente, o amigo leitor e estimada leitora tem a sua. Por isso escrevo para dar ocasião de refletir sobre as temáticas apresentadas. Não pretendo convencer a ninguém. Dou-me por já gratificado, se conseguir fazer refletir.

Bem, voltemos à concentração, sem querer esgotar a questão, levando em conta, apenas, a observação pessoal, seja como professor, seja como padre percebo que a mentalidade disseminada pela cultura dita pós-moderna, nas últimas décadas, suscitou novo estilo de vida. O ser humano contemporâneo ou pós-moderno, de modo geral, é um ser fragmentado, atomizado, disperso, acossado por mil informações a toda hora, está permanentemente conectado, sempre apressado com dificuldade de tomar distância diante da realidade que o cerca. Vive o momento presente. Vive do imediato.

Com esse estilo de vida, torna-se difícil, quase impossível de concentrar-se. Com efeito, a concentração é a capacidade da mente humana de focalizar num objeto ou assunto específico. Captar o objeto ou assunto, além dele nada abranger, para assimilá-lo com a própria concentração unidirecionada. Quase como acontece com uma lente. A lente capta a luz e o calor do sol e os faz convergir em um só ponto. Com isso, é capaz de provocar um incêndio. Por isso, a concentração é uma força significativa que o ser humano tem a sua disposição para o trabalho, para resolução de problemas, para a tomada de decisões, para superação de obstáculos.

Esse saber concentrar-se ou a falta dele aparece, na prática, com certa nitidez, em alguns homens e em algumas mulheres, quando têm que realizar um trabalho, os dispersos demoram cinco horas para realizar um trabalho. Os que sabem concentrar-se, ao contrário, o realiza em uma hora e meia. Ou alguém dispersivo leva horas, dias para tomar uma decisão, ou para resolver um problema. Outros que tem a arte de saber concentrar-se perdem menos tempo e normalmente acertam mais. Numa exposição de uma temática, também se pode perceber a diferença de um e de outro. O que se serve da concentração desenvolve o tema com tranquilidade. O outro já divaga, não é tão claro em sua exposição e dificulta a sua compreensão.

Saber concentrar-se, portanto, é viver, intensamente e inteiramente, o momento presente ou dito de outra maneira, “estar ligado”, sem desconexão, naquilo que se está realizando. Por isso, a concentração antes de ser um modo de “fazer” é um modo de “ser”. É um estilo de vida. Por isso, é uma arte. Arte conquistada, adquirida com a experiência. É ela que dá firmeza, harmonia interior, sabor especial e profundidade à vida. Daí, a importância de evitar tudo o que é dispersivo, externa e internamente. A filosofia oriental até construiu todo um conjunto de instrumentos que ajudam a adquirir sempre mais concentração, desde o modo de respirar até a meditação mais profunda.