Saber rezar ou cantar a vida
O povo de Israel da Antiga Aliança nos oferece uma gama imensa de ensinamentos de vida. O povo soube aprender, no decorrer dos séculos, a caminhar no meio das mais diversas circunstâncias e situações de vida. Com dificuldade e com muita relutância, foi aprendendo a parar e a abrir os olhos, para admirar e alegrar-se, […]
O povo de Israel da Antiga Aliança nos oferece uma gama imensa de ensinamentos de vida. O povo soube aprender, no decorrer dos séculos, a caminhar no meio das mais diversas circunstâncias e situações de vida. Com dificuldade e com muita relutância, foi aprendendo a parar e a abrir os olhos, para admirar e alegrar-se, ou para pedir perdão e mudar de vida. Israel faz da sua vida um grande hino ou, melhor dizendo, um grande diálogo com Deus. Registra, em parte, esse diálogo em forma de “Salmos”.
Os Salmos não são outra coisa que uma “maneira característica do povo de Israel de cantar a vida”. De fato, os Salmos são para serem cantados. São hinos ou cânticos de alguém, de uma família, de uma comunidade, de um povo que sente a necessidade de “gritar” a todos e a Deus o momento histórico que estão vivendo.
Não há uma cronologia exata de sua composição. Com toda a probabilidade, são de momentos históricos diferentes. Considera-se o Rei Davi (século X a.C) como o grande organizador. Alguns certamente são de sua autoria. Todavia, é certo que são muitos os autores e em tempos diferentes porque cantam e rezam situações e momentos diversos da história do povo de Israel. Os Salmos foram sendo compostos e colecionados em momentos diferente da história do povo. Certamente, foram modificados, reinterpretados, adaptados as novas realidades.
Após o Exílio babilônico do Povo de Israel (537 a C.), com a reforma de Neemias e Esdras, processou-se a codificação dos salmos, junto com a valorização do Templo e do Culto. Pouco a pouco, foi se formando a coletânea de cânticos sacros. Assim, foi se constituindo a coletânea de 150 cantos, que estão até hoje em nossas Bíblias. Portanto, fazem parte da tradição oral e escrita do povo de Israel.
Os salmos surgiram no arco de quase mil anos, nos lugares de culto, recitados ou cantados pelo povo, em suas reuniões ou cultos. Segundo alguns comentadores, foram organizados, recompostos até serem recopilados na época dos Macabeus no século II.a.C. Portanto, ao longo da história, gerações e gerações, milhares de mãos e vozes auxiliaram ao povo a rezar e cantar a vida, em épocas diferente. Assim, há salmos que revelam diferentes concepções de Deus, próprias de certa época. Outros que expressam o desejo de vingança e o juízo implacável de Deus. Atitudes estranhas para nós.
O povo de Israel, o Povo Eleito, tem consciência que, embora Deus habite em lugar inacessível, caminha no meio do povo. Tem a sua tenda. Pode ser atingido com seus rogos, com suas súplicas, seus louvores, suas ações de graças e até com suas lamentações. É um Deus sempre atento às necessidades de seu povo e pronto a escutar. Os Salmos são esse caminho à disposição das pessoas, famílias e do povo continuamente. Seja no Templo ou em qualquer lugar, não importa.
Os Salmos revelam a proximidade de Deus e, ao mesmo tempo, a possibilidade de o ser humano manter um diálogo aberto, franco e amigo com ele. Cultivar uma familiaridade pessoal, familiar e comunitária com o Senhor da História pessoal e do povo. Os Salmos são o modo encontrado pelo Povo Eleito de partilhar sua vida com o Senhor da Vida, de cantar os grandes “feitos” que Deus fez em sua vida pessoal ou do povo. Sobretudo, cantar a misericórdia, o amor e a libertação.
Os Salmos são poesias religiosas, repletas de realidades relacionadas com a vida real das pessoas e do povo. Elas nos auxiliam até, hoje, a rezar a nossa vida e a vida de nosso povo. Ajudam-nos a cantar e testemunhar a presença de Deus em nossa vida pessoal e na caminhada de nosso povo. São uma escola de espiritualidade e cultivo de amor a Deus e aos irmãos e irmãs.