Saiba como é a rotina dos profissionais que atuam no Centro de Triagem da Covid-19 em Brusque

Aumento expressivo do número de casos é considerado o maior desafio no local

Saiba como é a rotina dos profissionais que atuam no Centro de Triagem da Covid-19 em Brusque

Aumento expressivo do número de casos é considerado o maior desafio no local

O Centro de Triagem para Sintomáticos Respiratórios foi montado pela Prefeitura de Brusque em 23 de março, com o objetivo de auxiliar no combate à pandemia do coronavírus. Para estar em funcionamento, o local envolve o trabalho de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, servidores administrativos e auxiliares de serviços gerais.

Os profissionais trabalham na estrutura montada no pavilhão Maria Celina Vidotto Imhof em dois turnos de seis horas, entre 7h e 19h, e nos finais de semana, das 8h às 17h.

Para o espaço funcionar normalmente, depende da ação de várias pessoas, tanto na abertura pela manhã, como no fechamento do turno pela noite, explica a coordenadora do Centro de Triagem, Carmen Pedrini. Ela destaca que é fisioterapeuta efetivada no município, mas atua na função desde a abertura do Centro, juntamente com dois coordenadores designados pela Secretaria de Saúde.

Carmen é moradora de Gaspar, tem dois filhos, de dez e sete anos, que dividem a rotina entre ela e o ex-marido. Ela conta que no início chegou a ficar afastada dos meninos em torno de 20 dias, mas com a volta do trabalho do ex-marido e a distância fez com que voltasse a morar com as crianças, que ficam um dia com o pai, um dia com a mãe.

“Quando eles ficam comigo, eu trabalho de forma remota na coordenação, ajudando, articulando, cuidando das cargas horárias dos médicos, todas as informações de área administrativa e no dia seguinte venho para o Centro a partir das 5 horas da manhã”, comenta a coordenadora.

Sem hora para sair

Na terça-feira, 21, ela abriu o espaço a partir das 5h30, pois é necessário realizar a montagem e desmontagem diariamente dos consultórios, da sala de procedimento e a organização da triagem. O Centro estava sendo desmontado a partir das 19h, mas como o número de atendimentos está aumentando, isso atrasou: a desmontagem é feita a partir das 22h.

Até semana passada, todos os documentos que eram necessários ser preenchidos eram impressos no início de cada dia de atendimento, pois não haviam impressoras disponíveis para os consultórios. Com o fechamento das unidades, as impressoras foram disponibilizadas nos consultórios, o que ajudou a agilizar a rotina diária no Centro.

Ela destaca que normalmente fica até 21h, e quando há menos profissionais, fazia outros trabalhos para agilizar o processo. “Se eu saio, qualquer um pode sair, deu minha hora, mas tenho dez pacientes pra atender. Então temos que fazer a nossa parte”, afirma.

Desde o início da pandemia, Carmen, que tem 40 anos, perdeu oito quilos. Quando está em casa, a rotina dela consiste em praticar exercícios em um clube de forma isolada, uma hora por dia, para incentivar os filhos a praticar exercícios, devido ao tempo que ficam em casa.

“Levo eles para andar de bicicleta ou jogar futebol no campo para gastar energia. Como eles faziam período integral, não estavam acostumados a ficar tanto tempo dentro de casa”, ressalta.

Sobre a atuação como coordenadora, ela destaca que o pai dos meninos os ajuda a entender a situação, e que eles a apoiam e procuram ser muito cuidadosos. No dia de ficar com as crianças, Carmen vai para casa, toma banho e depois os busca.

Mudanças na rotina

Ela conta que criou uma rotina com os filhos, que pela manhã tem duas horas de aulas online ao mesmo tempo. Eles acordam cedo, tomam café e trocam de roupa, de forma a parecer uma rotina mais normal possível.

Depois do almoço e das atividades prontas, podem fazer atividades de lazer, que é o período em que ela trabalha de forma remota, quando atua como reguladora da Clínica de Fisioterapia e realiza a classificação de prioridades de quem está na fila e faz o agendamento para o fisioterapeutas.

Carmen destaca que, apesar da rotina agitada, gosta de se envolver com os projetos. “Se eu não estivesse fazendo isso, não iria ficar bem em casa, e me envolvo assim, mesmo em casa tenho coisas para fazer e articular”.

Ela acredita que o maior desafio é ter um equilíbrio entre os profissionais e procurar manter uma dinâmica parecida, pois com a objetividade no atendimento do Centro de Triagem, as pessoas não precisam esperar muito tempo, principalmente agora com o aumento significativo no número de atendimentos diários, que passam de 300 em determinados dias.

Foto: Lorena Polli

No front desde o início

O médico especialista em atenção básica, Fábio Martino Otero Ávila, natural de Pelotas/RS, trabalha em Brusque desde maio de 2016, onde começou pelo programa Mais Médicos. Na sequência, ele atuou por processo seletivo, e posteriormente voltou a atuar pelo Mais Médicos.

De todos os médicos que atuam no Centro, ele e mais uma médica foram os únicos a realizar os atendimentos no local desde o início. “É uma situação que julguei necessária, mesmo tendo asma fui o primeiro a me dispor”, comenta. Os colegas, família e esposa ficaram receosos com a decisão do médico, mas acabaram compreendendo.

Ávila trabalha das 7h às 13h, e no início o ritmo era normal. Há algumas semanas, porém, iniciou uma demanda exacerbada no número de atendimentos e casos. Como comparação, o Centro tinha 250 atendimentos por semana, e somente na quarta-feira, 22 de julho, data da entrevista, foram realizados 300 atendimentos.

O médico ressalta que o fato de estar na linha de frente e o aumento no número de atendimentos está impactando sua saúde mental.

“Não temos mais condições, na impotência de ter uma conduta efetiva, pois até agora não existe um tratamento efetivo, são especulações. Cada corrente acha uma coisa, e na procura da solução a classe médica já entra em conflito e isso cansa muito”.

Além de atender no Centro de Triagem, o médico trabalha no Hospital Azambuja duas noites, e acompanha os casos graves de Covid-19, que precisam de intubação e internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele acredita que isso acaba piorando o desgaste mental e logo deve parar de trabalhar no hospital.

Não temos mais condições, na impotência de ter uma conduta efetiva, pois até agora não existe um tratamento efetivo, são especulações

Em Brusque, Ávila mora com a esposa. Ela trabalha em uma empresa de administração de condomínios, e ambos estão estressados com a rotina diária por conta do coronavírus. “No relacionamento está bem estressante, mas a gente tem uma construção de 18 anos juntos e temos essa maturidade para ter paciência”.

Durante o dia, após sair do Centro, o médico vai para casa, onde toma banho e fica até perto das 19h analisando tomografias de pacientes, pesquisando informações sobre o coronavírus ou discutindo casos de pacientes com colegas. Para buscar um conforto, Ávila vê uma fuga no videogame, já que não pode realizar atividades físicas.

Ele destaca que permanece atuando no Centro “pelas pessoas que eu acredito que precisam de mim e pelos meus colegas que estão no front comigo, mas força eu não tenho mais, estou pelo coração”.

Ávila acredita que o espaço ainda deve passar por semanas intensas de atendimentos, e espera atender o máximo que puder. “Agora é remediar o que a gente consegue e tentar atender as pessoas da melhor forma possível”.

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