Saiba o que motiva cancelamentos frequentes de corridas de Uber em Brusque

Trabalhadores apontam falta de lucratividade e dificuldades na plataforma

Saiba o que motiva cancelamentos frequentes de corridas de Uber em Brusque

Trabalhadores apontam falta de lucratividade e dificuldades na plataforma

Cancelamentos de corridas em aplicativos vem aumentando na região de Brusque. Chamar um Uber em dias de chuva, em bairros afastados ou em cidades vizinhas, por exemplo, pode demorar mais do que o previsto. De acordo com motoristas que atuam no aplicativo na cidade, uma série de situações ocasionam o aumento de cancelamentos.

Marco Aurélio Grasselli, que atua na Uber há mais de um ano, conta que muitas das viagens não trazem lucro ao motorista. “A corrida só dá lucro quando o passageiro está perto e quando ele precisa ir até uma certa distância”, explica o morador do Guarani.

Conforme Marco, os motoristas ganham R$ 1,02 por quilômetro (km). Ainda, há uma base de R$ 0,50, que aumenta quando está no horário dinâmico. Apesar da Uber fazer ações que objetivam o motorista lucrar mais, ele afirma que ainda não é o suficiente para cobrir os gastos. Ou seja, com as altas no valor da gasolina e a falta de um bom reajuste, por exemplo, o dinheiro recebido pelas viagens não cobrem os custos.

Além disso, Marco conta que muitos motoristas estão em dois aplicativos. Caso uma corrida na 99 compensar mais, o motorista tenderá a ir por ela e cancelar a solicitação na Uber. “O motorista precisa ver o melhor ganho para ele, senão não aguenta manter um carro”, diz.

O motorista Werbete Cavalcante Sousa Ribeiro, conhecido como Novais, trabalha pela Uber e a 99. O morador do bairro Poço Fundo atua há mais de dois anos nas plataformas e relata que um outro motivo para os cancelamentos é que a Uber oculta informações dos motoristas, como qual será destino final do usuário. Esta informação só aparece quando a corrida começa, com o usuário dentro do carro.

Segundo ele, isso faz com que motoristas perguntem pelo chat do aplicativo para onde o usuário vai.

“Creio que essa é das maiores reclamações dos motoristas, sendo que apps que vieram depois da Uber estão muitos mais atualizados. É preocupante, pois nós motoristas fomos citados em âmbito nacional como culpados por cancelamentos, o que não é verdade. Há uma displicência por parte dos aplicativos. Eles não mostram nos bastidores o que passamos”, desabafa.

Marco complementa que pela 99, por exemplo, o motorista consegue ver previamente até onde o passageiro vai. “Alguns usuários são ignorantes e não falam até onde vão, aí gera um cancelamento, porque o motorista não quer se arriscar. A gente tem que filtrar as corridas”, comenta.

Deslocamento e locais afastados

Novais comenta que é comum o aplicativo acionar o motorista para buscar usuários que estão longe. Ou seja, a 12 km ou mais de distância de onde o motorista está. Nestes casos, ele afirma que, ao chegar até o usuário, a maioria solicita viagens curtas, de 2 ou 3 km.

“Às vezes, o motorista estando na Havan, toca para buscar alguém no Zantão. É um absurdo. O aplicativo continua cobrando caro do passageiro e congelando o ganho do motorista”, completa.

Marco reclama que em muitos locais afastados não têm conexão com a internet. Nessas situações, o motorista fica impedido de aceitar uma corrida de retorno. “Então o motorista precisa voltar vazio e isso traz prejuízo. Tem gasto de gasolina, pneu, motor, a manutenção está cara demais, tem seguro, IPVA”, lista.

Ele exemplifica: o motorista sai do Guarani para buscar um passageiro em Guabiruba e faz uma corrida por R$ 8. “Não compensa, pelo valor da gasolina. Somente a Uber paga a taxa de deslocamento, mas na maioria dessas corridas ela cobra uma porcentagem muito alta, aproximadamente 40%. Uma corrida curta, o passageiro paga R$ 6, mas o motorista recebe menos, uns R$ 4,50”, explica.

Outro ponto comum no cotidiano dos motoristas são as viagens intermunicipais. Marco conta que a corrida até Itajaí é cobrado ao usuário um valor em torno de R$ 60. “Mas o motorista recebe R$ 40 e é R$ 30 de gasolina”, reflete. “Não compensa nem lavar o carro. A Uber só vai ser boa quando mudar a política de preço”, finaliza.

Usuários podem ser banidos

Por conta do movimento crescente de motoristas cancelando corridas, a Uber decidiu tomar medidas drásticas. Em comunicado divulgado no fim de setembro, a empresa afirmou que baniu cerca de 1,6 mil motoristas do aplicativo no Brasil pelo “cancelamento excessivo” de viagens.

Segundo a Uber, dos cerca de 1 milhão de motoristas e entregadores parceiros cadastrados, 0,16% do total apresentaram, de maneira recorrente, comportamentos que “prejudicam intencionalmente o funcionamento da plataforma”.

Em relação às punições, Novais conta que a Uber também rebaixa as graduações que os motoristas conquistam. São quatro categorias: Azul, Ouro, Platina e Diamante.

“Daí se a taxa de aceitação de corridas for baixa, vais regredindo. Eu estava no Platina, mas cada vez que você mantém aceitando corridas sobe novamente. Tem umas pontuações a conquistar para estar no nível que deseja”, completa.

O que diz a Uber

Sobre o assunto, a Uber emitiu uma nota como posicionamento sobre o tema. Confira abaixo na íntegra:

Motoristas parceiros são profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgarem necessário. Cancelamentos excessivos ou para fins de fraude, porém, representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma, pois atrapalham o seu funcionamento e prejudicam intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas. A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas.

Comportamentos como a prática de cancelar diversas viagens em sequência e logo após terem sido aceitas prejudicam negativamente todos que usam a plataforma porque, de um lado, impedem que outros motoristas parceiros gerem renda atendendo as mesmas solicitações de viagens canceladas, e, por outro, deixam os usuários esperando mais tempo ou até desistindo da solicitação.

O abuso no cancelamento de viagens não tem nada a ver com a liberdade do motorista parceiro de recusar solicitações. Na Uber, o motorista é totalmente livre para decidir quais solicitações de viagem aceitar e quais recusar. A conexão entre parceiro e usuário – quando nome, modelo e placa do carro são compartilhados e o usuário recebe a confirmação de que o motorista está a caminho – só ocorre depois do motorista ter conferido as informações da solicitação (tempo, distância, destino etc.) e decidido aceitar a realização da viagem.


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