Sandra Maria Bernardes é condenada à prisão pelo assassinato de Chico Wehmuth
Empresário morreu em junho de 2014 por envenenamento com chumbinho
Empresário morreu em junho de 2014 por envenenamento com chumbinho
Sandra Maria Bernardes, de 55 anos, foi condenada a 21 anos e quatro meses de prisão em regime fechado pelo homicídio de Amílcar Arnoldo Wehmuth, o Chico, falecido em 29 de junho de 2014 devido a envenenamento pela substância conhecida como chumbinho.
Sandra era sua companheira à época. Segundo o Ministério Público, ela matou Wehmuth por motivação financeira — herança e bens da vítima.
Wehmuth era um dos sócios da Quimisa S/A. Foi candidato a prefeito de Brusque em 2000 e secretário de Desenvolvimento Econômico entre 1991 e 1994. Também foi presidente do Brusque Futebol Clube no início dos anos 1990, quando o clube conquistou seu único título de campeão catarinense, em 1992.
O salão do júri estava lotado no início da sessão, às 8h30 de sexta-feira, 14. Diversos amigos e familiares vestiam camisetas pretas com o rosto e o nome de Chico Wehmuth estampado. Nas costas, estava escrito “Pai, avô, amigo. Saudades eternas”.
Dos 23 jurados, foram sorteados sete para compôr o conselho de sentença, com o consenso da defesa e da acusação. Dois jurados sorteados haviam sido vetados por cada uma das partes. O início foi atrasado em cerca de 15 minutos porque uma das testemunhas de defesa não havia chegado ao Fórum da Comarca de Brusque.
Durante os depoimentos, Sandra Maria Bernardes ficou a maior parte do tempo com a cabeça baixa. Por alguns momentos, fazia sinal de “não” com a cabeça, e chorou. Quando o assistente da acusação do Ministério Público e advogado da família Wehmuth, Clovis Darrazão, perguntou se a ré estava reconhecível, testemunhas em depoimento diziam que não se tratava da mesma pessoa, pelo jeito de se vestir e de se portar.
Conforme a sentença lida pelo juiz Edemar Leopoldo Schlosser, os jurados reconheceram por maioria (4×2) a materialidade do crime, e a responsabilidade de Sandra (4×0). Tendo em vista a gravidade do crime, o magistrado não concedeu a Sandra o direito de recorrer em liberdade, portanto, ela foi encaminhada à prisão por policiais militares assim que proferida a sentença.
Houve aplausos da plateia em dois momentos: quando o juiz informou o total de pena: 21 anos e quatro meses; e, mais efusivos, quando informou que ela não ficaria em liberdade. A família Wehmuth preferiu não fazer comentários à reportagem de O Município sobre seu estado e sobre a primeira sentença do caso.
Momentos anteriores, na versão da acusação
As testemunhas do lado da acusação afirmavam que o relacionamento entre Chico Wehmuth e Sandra Maria Bernardes era conturbado, muitas vezes frio, e que durante anos eles tiveram idas e vindas. Neste meio tempo, o empresário também teve a companhia de outras mulheres, “ficantes”, como posto no depoimento da filha, Dinara Wehmuth. “Perguntávamos sobre Sandra, mas ele nunca demonstrou interesse em apresentá-la para nós.”
Antes do envenenamento, Chico havia ido para São Paulo com a família, onde fez uma operação decorrente de um aneurisma. Foi quando a família teve mais contato com Sandra. Foi relatado que o empresário gostava de utilizar dinheiro vivo, e que, nesta viagem, levou cerca de R$ 20 mil.
Nesta viagem, uma quantia de R$ 15 mil em espécie havia sumido, e Chico suspeitou que Sandra tivesse pegado o dinheiro, mas nunca teve tempo de conversar com a companheira sobre isto. De acordo com o relato de testemunhas, Chico e Sandra tiveram uma discussão acalorada porque uma mala da casa que continha 34 mil dólares foi encontrada vazia. O empresário a acusou de ter arrombado a mala e retirado o dinheiro, enquanto a companheira afirmava que ele estava enganado por uma possível confusão causada pela cirurgia do aneurisma em São Paulo.
De acordo com o depoimento de Dinara Wehmuth, Sandra comentou com filhos de Chico que ele guardava 500 mil dólares e 300 mil euros em casa. No entanto, após a morte dele, Sandra não mencionou o dinheiro e a família jamais viu esta quantia.
Fato e causa, na versão da acusação
Chico Wehmuth foi envenenado na noite de sábado, 28 de junho de 2014. De acordo com o depoimento de Dinara Wehmuth, Sandra Maria Bernardes a ligou avisando que o empresário estava passando mal. A filha de Chico voltava de uma festa e foi até o local. No depoimento, ela descreveu o péssimo estado do pai e como tentou acudi-lo. Ela relatou que Sandra, muito mais calma do que deveria estar naquela situação, chegou a arrumar malas e a lavar louças. Durante esta parte do depoimento, Sandra negava com a cabeça, enquanto os familiares choravam.
O delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC), Alex Bonfim Reis, reafirmou que a causa do homicídio foi financeira. Um seguro de vida havia sido feito por Chico, e o empresário faleceu dois dias depois de o seguro entrar em vigência. Dinara Wehmuth afirmou que Sandra chegou a receber uma previdência privada do banco Itaú em seu nome.
“Quem, como e por que são perguntas fundamentais de um homicídio e foram respondidas de forma bastante clara”, afirma o delegado.
Ainda de acordo com o delegado, Chico e Sandra chegaram em casa às 13h30 e, até o envenenamento, por volta das 21h30, ninguém entrou ou saiu do andar, de acordo com as câmeras de monitoramento. Sandra havia declarado anteriormente no processo que familiares de Chico haviam estado no local, mas não foi o que se comprovou pelas imagens.
O médico e professor aposentado Zulmar Vieira Coutinho, contratado da família e testemunha da acusação, confirmou que houve envenenamento por chumbinho. Ele afirmou que a morte foi sofrida e descartou erro médico porque a equipe que prestou atendimento fez os procedimentos corretos de investigar e tentar diagnosticar as causas mais prováveis do estado de saúde, e que assim que a hipótese de intoxicação foi levantada, os procedimentos corretos foram tomados.
Dias seguintes, na versão da acusação
Conforme o depoimento de Dinara Wehmuth, Sandra Maria Bernardes mencionou aos filhos de Chico Wehmuth que ele queria ser cremado após sua morte, algo que nunca foi mencionado à família.
A então companheira do empresário afirmou que tinha sido proibida por eles de ir ao velório, algo do que Dinara não tinha conhecimento. Alguns depoimentos também falaram sobre Sandra Maria Bernardes ter trocado a fechadura da residência de Chico alegando questões de segurança, dias após a morte do homem de 70 anos. Testemunhas também afirmaram que diversos móveis e itens de valor foram levados do apartamento e que a casa de praia de Chico foi revirada por Sandra à procura de dinheiro.
Defesa rebate
A defesa de Sandra Maria Bernardes argumenta que não ficou comprovado que ela tenha aplicado o veneno em Chico Wehmuth e nem que ele tenha morrido por envenenamento. O argumento é de que o primeiro laudo dos médicos legistas não fazia menção a intoxicações, e que nunca foi analisado no processo. O que consta nos primeiros documentos é insuficiência respiratória.