Saudade, amor e fé: familiares prestam homenagens no Dia de Finados em cemitérios de Brusque
Na manhã de quarta-feira, diversos cemitérios receberam o carinho e o zelo nos cuidados aos túmulos
Nesta quarta-feira, 2, muitos familiares e amigos aproveitaram o dia ensolarado e agradável para prestar homenagens aos entes queridos que já faleceram. Em Brusque, diversos cemitérios receberam o carinho e o zelo nos cuidados aos túmulos no Dia de Finados.
No cemitério Parque da Saudade o movimento foi intenso durante a manhã. Entre os que foram até o local, está a família da farmacêutica Ana Paula Campos Godoy, de 42 anos. Ela foi junto do marido, Tiago dos Santos Godoy, 39, e o irmão Paulo Campos, 43, para realizar a homenagem e manutenção do túmulo da mãe, Rosa Eloina Nascimento Manzini, que faleceu aos 72 anos em agosto de 2021 por conta de um câncer.
Ana conta que ela, o irmão e a mãe se mudaram do Rio Grande do Sul há 4 anos. Na cidade, Rosa se sentiu em casa. “Ela sempre manifestou o desejo de ser sepultada em Brusque, pois sempre gostou muito daqui, foi muito bem acolhida e foi na região que ela fez o tratamento contra o câncer”, relata.
Tiago conta que era muito próximo da sogra e relembra que eles conversavam sobre os desejos dela após a morte. “A gente sempre teve essa conversa sobre morrer, éramos abertos quanto a isso. Sempre procuramos explorar os desejos dela no pós-morte. Acho que a pessoa sempre espera algo e ela não queria uma cruz na lápide, mas queria plantas, por exemplo. Tudo isso era o desejo dela”, continua.
A família vai até o cemitério três vezes ao ano para fazer a manutenção. Os outros filhos de Rosa moram estado gaúcho e vêm quando podem. “Para nós, hoje não é um dia de tristeza, mas de sentirmos saudade e lembrarmos com carinho de todas as memórias que conseguimos adquirir com a nossa ente querida, durante o tempo que Deus permitiu que ela permanecesse aqui conosco. Para nós é uma satisfação”, completa Ana.
Próximo dali, a corretora de imóveis aposentada Sandra de Andrade, 57, estava com o pai, o aposentado José Lino de Andrade, 87. Eles prestavam homenagens a Lucia Milverstedt de Andrade, que faleceu em 2018, e a Ivair de Andrade, falecido em 1997.
Sandra detalha que a mãe também foi vítima de um câncer e o irmão morreu em um trágico acidente de caminhão na BR-101, próximo ao morro do Boi, quando a rodovia ainda não era duplicada.
“Como o padre falou, precisamos acreditar que eles não morrem, eles voltam para casa. Então, acredito que todos os que estão aqui olham pela gente e estão sempre presentes na nossa vida. Nós não podemos esquecer deles só porque morreram. Estar aqui é uma maneira da gente dizer e agradecer por terem passado nas nossas vidas, pois teve um sentido. É uma homenagem, que eles lá de cima, junto do Pai, olhem por nós”, relata a moradora do Jardim Maluche, emocionada.
Para ela e o pai, a presença e a homenagem aos dois, ainda muito vivos nos corações da família, é uma forma de agradecer e expressar a fé. Sandra comenta que todos os irmãos sempre estão presentes nestes momentos e destaca a união familiar. “Somos muito unidos e religiosos. Estamos sempre aqui, limpando, tirando a água, nunca esquecemos”, diz.
“Nós viemos aqui agradecer a minha esposa e meu filho. Temos a presença deles e pedimos que Deus os ilumine”, continua José. “É um dia que aumenta a nossa fé. O padre disse que quando fomos batizados recebemos essa luz. Que essa luz nunca se apague”, completa Sandra.
Amor em forma de jardim
No cemitério Parque da Saudade, as irmãs Lúcia Loos dos Santos, 65, e Teresa Loos, 68, cuidavam delicadamente de um pequeno ipê amarelo. As duas colocavam orquídeas nos galhos e realizavam a manutenção do espaço.
No local, está enterrado o marido de Lúcia, Aliomar Luciano dos Santos, que faleceu aos 68 anos em setembro por conta de uma doença pulmonar. Ele era conhecido por ser o fundador da TV Brusque e também foi presidente da CDL Brusque nos biênios 1984-1985 e 1999-2001.
De acordo com ela, o ipê foi a quinta árvore plantada no local. “Ele foi plantado há cinco anos, pois eu sempre tive a vontade de ser enterrada embaixo de uma árvore depois de morrer. Custei para conseguir plantar, pois sempre tiravam. Essa aqui ficou e servirá de sombra para o Aliomar, e futuramente para mim”, conta a moradora do Jardim Maluche.
Lúcia conta que, assim como ela, o marido gostava de orquídeas e rosas coloridas. “Fiz tudo como ele gostava. A única coisa que podemos fazer depois da morte é prestar homenagens, pensar e rezar muito”, comenta.
Com muito zelo, ela embelezava e arrumava o espaço, como uma forma de demonstrar o amor, o carinho e a saudade que sente por Aliomar. Para ela, que sempre gostou de ipês amarelos, ter uma árvore por perto embeleza a paisagem, o que faz o lugar se tornar agradável para quem for visitar o cemitério.
“Gosto muito de plantas, jardim e flores. Isso para mim é uma coisa muito linda. Tinham mais árvores aqui e cortaram tudo, acho que deveria arborizar mais para ser mais aconchegante. É preciso fazer algo, eu fui resistente. Vou fazer um jardim aqui e ficará bem lindo, eu acho que ele merece”, desabafa. “É uma forma de homenagear, tudo o que ele foi para toda a família. Ele foi uma pessoa muito importante que, infelizmente, foi embora muito cedo”, completa.
Retorno à comunidade
As irmãs Teresinha Cervi Novaes, 76, e Maria Salete Cervi Ramos, 72, nasceram e cresceram em Brusque. Contudo, nos últimos anos, elas residem em outros municípios: a primeira em Balneário Camboriú e a segunda em Campo Alegre.
Contudo, elas sempre se mobilizam para poder estar presentes na comunidade do bairro Santa Terezinha. “Somos todos daqui, crescemos no bairro e queremos estar na nossa comunidade. A gente participa dela”, diz Teresinha. “Não à toa que meu nome é em homenagem à santa”, continua.
Nesta quarta, as duas atuavam na manutenção das lápides de entes queridos no cemitério católico Santa Teresinha. Elas contam que quase não conseguiram vir por conta dos bloqueios nas rodovias, feitos por manifestantes descontentes com o resultado das eleições no último domingo, 30.
“Demos duas voltas e voltamos pois não conseguimos passar. Estávamos preocupadas que não conseguiríamos vir. A gente nunca deixa passar, quando não posso vir peço pro meu filho colocar uma florzinha aqui. Nunca deixamos. Família é família”, conta Teresinha.
Salete, que foi professora na escola do bairro, recorda da história da família. “Nossos pais que estão enterrados aqui deram início a igreja no bairro. E pai e mãe são duas pessoas que estão acima de tudo, mesmo depois da morte. Eles motivam a nós estarmos todos os anos aqui presentes. Eles tinham o costume de vir ao cemitério cuidar. Então, nós continuamos. A gente nasceu e cresceu no bairro. O nosso lugar é aqui”, finaliza.
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