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“Se sindicatos deixarem de atender na área de saúde, o município quebra”, diz presidente do Comusa

Em entrevista, Julio Gevaerd fala sobre ações do Comusa e de principais pontos da saúde de Brusque

Julio Gevaerd assumiu a presidência do Conselho Municipal de Saúde (Comusa) em novembro de 2017. Atualmente, ele está licenciado do cargo por motivo de saúde, mas continua envolvido nas questões do Comusa e aceitou conceder entrevista ao jornal O Município para abordar principais pontos da saúde do município.

Gevaerd ressalta que o Comusa foi criado na Constituição de 1988 e que é um dos mais importantes instrumentos de fiscalização da saúde na cidade. O presidente explica que o Comusa tem poder deliberativo, ou seja, pode até mesmo mudar a aplicação de verbas na área, contrariando a prefeitura.

Na entrevista, Gevaerd fala, também, sobre assuntos que foram polêmica, como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 Horas e os convênios com os sindicatos e hospitais.

Principal proposta
“Não é novidade no Brasil. Já tentamos e não conseguimos, mas vamos tentar novamente. Constituir em cada UBS uma comissão local de saúde, que será formada por seis pessoas, sendo quatro da comunidade e dois servidores.

Com poderes limitados, porque vai ter que prestar contas ao conselho municipal, mas fiscalizando lá dentro, olhando se falta algo. Estamos encontrando resistência em algumas unidades e falta de voluntários.

É um serviço de extrema grandeza você estar cuidando da saúde sua e dos seus vizinhos. Era um projeto para este ano, faltam dois meses, quem sabe ainda conseguimos dar início neste ano em uma UBS, como exemplo para as demais.”

Convênios com hospitais
“Na qualidade de presidente, participamos da negociação. Aqui, vem a questão de que não é um conselho que cobra mais dinheiro para o Azambuja, não, é a comunidade que, através do Comusa, está cobrando.

Para implantar uma UBS o custo é de R$ 750 mil a R$ 800 mil e ela vai ter uma área de atendimento onde ela está. Enquanto que um investimento mensal neste valor no Azambuja vai ter cobertura no município. Às vezes, a pessoa pensa no umbigo, mas não no corpo.

Resolve não só para Brusque. Tem outros municípios vindo para Brusque no fim de semana e feriados. É cômodo e tranquilo para as cidades vizinhas fechar às 18h de sexta-feira. Se eu preciso? Vai para Brusque. E aí quem está pagando é o hospital e a Secretaria de Saúde de Brusque.

É preciso entender o custo de uma UBS, que atende no local, e o custo de financiar a saúde no Azambuja. O hospital já tem toda a rede médico-hospitalar, tem estrutura para internar e todos os médicos para cirurgias. Tem maternidade, UTI, pronto-socorro.”

UPA 24 Horas
“Para que serve a UPA? Como falei, o governo federal dá dinheiro para construir, mas não dá um centavo para manutenção.

Desde que foi construída a UPA, o conselho sempre se posicionou contrário. Porque a UPA não é UBS, é um local com toda a estrutura de pronto-socorro, onde as pessoas vão chegar, especialmente, de ambulância para atendimento para estabilização. Casos de pré-infarto, por exemplo, não fraturas.

Vai ter que ter médico 24 horas, não só um, mas vários. No mínimo três equipes de serviço, quartos com toda estrutura para manter um ser-humano estabilizado.

Se colocou na cabeça que qualquer um poderá ir na UPA. Não, na UPA serão atendidos quem chegar de ambulância, normalmente, trazidos pelo Samu.

A manutenção de uma UPA passa de R$ 1,5 milhão por mês. Da onde tirar? Aí volta a questão do Azambuja: com R$ 700 mil você já tem toda a estrutura montada. Você contrata os serviços, não precisa contratar ninguém.

A Secretaria de Saúde não tem condições de manter, porque o prédio vai ficar velho, o raio-X vai quebrar, o médico vai sair a qualquer momento. E isso tudo vai ficar por conta do município. Pode abrir como outra coisa ou devolve para o governo federal.”

Convênios com sindicatos
“Não vejo como solucionado. Lamentavelmente, uma das propostas deste governo logo que assumiu foi questionar esta ajuda da Secretaria de Saúde aos sindicatos. Sob alegação de que atendemos população exclusiva, que não usa o SUS.

Não é verdadeiro, podemos até atender associados, que teriam benefício, mas atendemos também os dependentes que não têm nada a ver com o sindicato. Não nos caberia atendê-los, mas à Secretaria de Saúde.

Abrimos também aos dependentes. Isso já ocorre acho que há uns 30 anos. Surpreendentemente, apresentaram correspondência da Procuradoria do município dizendo da inviabilidade e pedindo a suspensão.

Está rolando até hoje. O Comusa desde o começo se posicionou contra o fim, porque se o movimento sindical deixar atender na área de saúde, o município quebra. Temos em torno de 30 mil associados. Se botar um dependente, já passa a 60 mil. É quase a metade da população. Vai jogar mais 60 mil na rede de saúde? Falta bom-senso, sentar e conversar.

Já fiz uma consulta em março deste ano ao tribunal de contas e até agora não houve manifestação. A gente lamenta profundamente, é um retrocesso no atendimento de saúde.”

Agentes comunitárias
“Não é uma questão municipal, é de alçada do governo federal. O grande problema é que pensaram em locais grandes, não em pequenos municípios.

A lei que instituiu os agentes comunitários diz que para ser agente é preciso morar naquele bairro. A gente tem uma dificuldade muito grande em alguns bairros.

Tinha gente para trabalhar lá, mas não morava, por exemplo, no Centro ou Dom Joaquim. Não tem no Centro porque até então não havia interessados.

Sempre foi uma exigência, mas como o Ministério da Saúde está estourando o percentual de uso de dinheiro, deixou de ser obrigatório. É mais uma maldade que este governo federal comete com a saúde dos municípios.

A gente entende que as ACS já ajudaram muitas pessoas e podem ajudar muito mais. Mas aos governantes não interessa que Saúde, Segurança e Educação vão bem, porque perdem discurso.”