Seletividade alimentar
Seu filho é seletivo com a alimentação? Você sabe o tamanho ideal de um lanche para o seu filho? Você sabe como oferecer os alimentos a ele?
Uma questão natural na alimentação da criança, por volta dos 2 anos, é o aparecimento das chamadas dificuldades alimentares, como seletividade, neofobia alimentar, que é o medo de provar novos alimentos, entre outras questões comportamentais. São condições naturais, mas que quando não as conhecemos, podemos piorá-las, reforçando a dificuldade, fazendo com que realmente virem um problema, ao invés de passar por elas de forma tranquila e natural. Como a seletividade, muito falada entre os pais. Sem querer, nós permitimos que a criança fique presa à monotonia alimentar. Deixamos que cada dia rejeite mais um alimento e acabamos deixando de oferecer por conta disso. Saiba que não é a criança que deixa de comer, mas somos nós que deixamos de oferecer. E se não oferecermos, elas não terão oportunidade de se familiarizar com os alimentos, superar suas dificuldades e desenvolver bons hábitos para o futuro.
Devemos nos preocupar com o tamanho dos lanches que servimos à criança. E sabe qual é o tamanho perfeito de um lanche? É aquele que seja o suficiente para não atrapalhar a fome das refeições principais. Esse é o parâmetro para saber se o lanche está do tamanho certo. Não posso falar em quantidades, pois cada criança tem sua necessidade. Por exemplo: enquanto para uma criança 1 fruta é um lanche ideal, pois se comer mais do que isso, não terá fome para a refeição principal, para outra criança 1 fruta, 1 iogurte, mais 2 biscoitos podem ser completamente normais e ela ainda assim chegará à refeição principal com fome. Avalie se os lanches do seu filho estão do tamanho adequado.
Uma excelente estratégia para atravessar a fase da seletividade alimentar da criança e gerar bons hábitos alimentares é saber oferecer os alimentos: oferecer, oferecer e oferecer de maneira persistente, dia após dia, sem desistir. Mas isso não significa forçar a criança a provar ou a comer, significa criar a oportunidade para que a criança se interesse pelo alimento, incentivando e encorajando a criança a provar, mas sem depositar nossas expectativas neste processo. Nós criamos a oportunidade e eles evoluem no tempo deles.
Oferecer não é apenas perguntar se a criança deseja comer tal alimento, mas no processo evolutivo de oferecer é dar a oportunidade a criança de ver e de tocar no alimento, sentir sua textura, temperatura, umidade, perceber sua cor, sua forma, sua beleza. Significa poder apenas cheirar esse alimento, se ela ainda não estiver preparada para mais do que isso.
Muitas vezes nossa expectativa de que já iniciem comendo o que foi oferecido nos faz acreditar que tocar e cheirar não tenham relevância alguma. Mas é assim que inicia o processo de Familiarização: com os alimentos. Eles veem, tocam, cheiram, depois quando se sentem mais seguros em relação a tal alimento, por já terem tido diversos contatos com ele, e nós pais mantivemos a paciência e persistência em continuar oferecendo mesmo que não tenham comido ainda, aí, sim, começam a provar. Mesmo que essa prova tenha parecido irrelevante pra nós, ela é o caminho para que de fato uma hora passem a comer aquele alimento.
Depois disso vão comer um volume quase que insignificante – pra nós, mas ainda assim o importante é que frutas, verduras e legumes, nesta fase, já estarão fazendo parte da vida dela.
E, finalmente, passa a ser só uma questão de irmos aumentando o volume oferecido, aos poucos, até que se estabeleça o equilíbrio entre os grupos alimentares no prato e na vida desta criança. Todo esse processo pode levar muitos meses ou até mesmo anos, mas, se não desistirmos, ele certamente ocorrerá.
Precisamos garantir a eles o acesso a uma variedade alimentar e uma rotina organizada, e junto a isso, garantir a fome da criança no momento certo. Com lanchinhos do tamanho que não atrapalhem as refeições principais e oferecendo refeições principais, com comida de verdade, fresca e variada, respeitando a fome da criança, deixando que coma o volume que necessita.
Hábitos de saúde são gerados na base do devagar e sempre. A pressa e as nossas expectativas além da capacidade da criança são contraproducentes. Pense em uma ou duas melhorias por vez e, quando uma melhoria tiver sido assimilada, parta para a próxima. Não se imponha mudanças radicais. Reflita e faça melhorias consistentes e não esqueça de que seu filho é único, por isso é seu próprio parâmetro. A educação alimentar é um processo de aprendizado, como tudo na vida de uma criança, requer tempo, paciência e tranquilidade, para que a melhoria ocorra no tempo dela. Inclusive: não se esqueça de aproveitar essa caminhada, juntos, em família, com afeto, e com prazer em uma alimentação saborosa e equilibrada, para que toda essa experiência se torne um aprendizado de saúde, mas um aprendizado feliz, para que seu filho o leve consigo por toda a vida.
Janaina Kühn Barni – Nutricionista – Educação Alimentar infantil e Rotina Familiar