Setor da indústria química supera instabilidades internacionais e se reinventa
Brusque tem 23 empresas do setor
A Fórmula Surfactantes e a Sinpar Química do Brasil são duas das 23 empresas do setor químico de Brusque. Os 23 empreendimentos geraram mais de R$ 23 milhões em riquezas para o município no ano passado e empregam 200 pessoas atualmente.
Em 2021, o setor faturou cerca de US$ 142,8 bilhões líquidos em todo o Brasil, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Em Santa Catarina, foram registrados US$ 455,6 milhões em exportações de produtos químicos e plásticos no ano passado, segundo o Atlas da Competitividade, publicado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc).
Do total do faturamento do setor no país em 2021, metade veio da área industrial. A Fórmula, do bairro Bateas, está voltada para a produção para a indústria têxtil, a mais forte de Brusque historicamente. A empresa já foi instalada no município, há dez anos, com o objetivo principal de atender essa demanda.
“Em um raio de dez quilômetros aqui da nossa empresa, temos 40 clientes potenciais. Temos o maior polo têxtil do Brasil”, destaca Ruy Basílio, diretor da Fórmula.
A empresa é a única fabricante de auxiliares têxteis no Brasil com Certificação OEKO-TEX e homologação ZDHC, garantia certificada pelas melhores do segmento, e atua em consonância com a produção sustentável e com a Química Verde. A Fórmula conta com somente 11 funcionários, mas produz em média 450 toneladas por mês e fabrica cerca de 100 produtos químicos para tinturarias, incluindo amaciantes e detergentes.
“A produção da roupa exige muitos produtos químicos, mas existem outros produtos que são necessários para tingir”, explica Ruy. A empresa faz todo o processamento dos produtos e tem alguns exclusivos no Brasil.
De acordo com o diretor, a empresa até teria possibilidade de vender para outras áreas, mas foca no têxtil por questões estratégicas.
“Os produtos que usamos no têxtil, são os mesmos para o processamento de papel, tinta, couro, só que não somos especializados nessa área, então focamos mais no têxtil, mas de vez em quando vendemos para outros segmentos, quando nos pedem”. Os negócios já começaram a se expandir para fora do país. Hoje, a empresa exporta para o Paraguai e tem prospecção também na Argentina e Peru.
A Sinpar, que foi criada há cerca de quatro anos e meio no bairro Souza Cruz, foi fundada em função de uma deficiência do mercado de lubrificação do setor de malharia e fiação têxtil. O proprietário, Eduardo Pinheiro, já trabalhava na área, viu uma oportunidade de mercado e desenvolveu um produto exclusivo: o Velotec SP 32.
“Vimos a deficiência do mercado na lubrificação, que é um problema enorme para as malharias. Com o conhecimento que a gente tem, conseguimos desenvolver o produto com uma tecnologia que veio da Europa e um pacote de aditivos. Dali em diante, começamos a testar, o produto foi bem e está onde está hoje. Facilita o funcionamento da máquina, evita que fique manchas na tinturaria. Hoje, elas fazem questão de usar o lubrificante da Sinpar”, conta.
Superando instabilidades
Eduardo conta que a Sinpar teve um crescimento grande em seus dois primeiros anos de existência, mas a pandemia chegou para mudar os planos e fazer a empresa pensar fora da caixa.
“O segmento têxtil estagnou durante um período. Entramos então com produtos na área cosmética, como álcool em gel, limpadores especiais para grandes magazines, supermercados, redes de lojas. Esses produtos são desinfetantes, muito utilizados naquele período. Foi o que nos segurou”, explica.
O lubrificante sintético segue ainda como o carro-chefe da Sinpar, mas a empresa passou a ter uma quantidade de produtos bem maior. “Hoje, são 55 produtos e passamos de 100 toneladas por mês de produção”.
As instabilidades causadas pela pandemia, apesar de terem sido desafiadoras, foram também oportunidades para que a Sinpar se remoldasse. “Conseguimos mais do que dobrar nosso potencial de venda”, destaca.
Para isso, a Sinpar se arriscou e adquiriu novos equipamentos, principalmente para a produção voltada à indústria metalmecânica, e projeta novos investimentos.
“Era uma coisa mais ou menos assim “ou vai ou racha”, mas acabou que valeu muito a pena. Estamos hoje muito focados no metalworking. Já temos uma boa fatia do mercado têxtil, ficamos bem conhecidos em Santa Catarina por isso. A gente está contratando profissionais que já têm uma bagagem extensa que é atingir o objetivo de ultrapassar a área têxtil em número de vendas”.
A Fórmula também sofreu com as incertezas e instabilidades causadas pela pandemia, mas acabou desenvolvendo um produto que, além de ter sido economicamente relevante para a empresa, foi importante para o combate ao vírus que causa a Covid-19 e utilizado pelas indústrias têxteis nos tecidos.
“Conseguimos desenvolver aqui a síntese desse produto que elimina o coronavírus de superfícies, que já existia na Europa, Estados Unidos”, explica Ruy.
Ele acredita que a empresa passou bem pelo período mais crítico também pelo quadro enxuto de funcionários e projeta que o setor está em processo de recuperação. “No geral, vemos que a parte mais difícil já passou. Vislumbramos uma demanda represada”, avalia.
Influências externas
O aumento dos preços da matéria-prima causados pela pandemia da Covid-19 e também pela mais recente guerra na Ucrânia, tem um impacto direto na indústria química. A Abiquim divulgou levantamento em julho que aponta que o déficit acumulado da balança comercial de produtos químicos atingiu o recorde de US$ 29,7 bilhões para primeiros semestres, um expressivo aumento de 60% comparado com o mesmo período de 2021.
“A recessão das matérias-primas fez com que todo o conjunto subisse os preços. Éramos muito dependentes de apenas uma unidade fabril, a China, que subiu o preço acima do que se imaginava por causa das medidas restritivas. Isso fez com que toda a cadeia produtiva incrementasse os preços, o que causou uma inflação grande para todo o mundo”, conta Eduardo.
A Sinpar precisou adaptar algumas coisas, mudou a matéria-prima já que os custos de transporte marítimo ficaram “absurdamente caros”. Hoje, os insumos vêm da Europa, ainda com o custo mais elevado, porém com uma regularidade de entrega.
De acordo com Ruy, o principal desafio atual da Fórmula, neste cenário já pós-pandêmico para a economia brasileira, mas ainda influenciado por surtos de Covid-19 em outros países, é conseguir equilibrar essa balança.
“Flutua muito: hoje garante um valor, mas não se sabe até quando. Essa é a dificuldade diária, calcular para não ter prejuízo”.
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